A articulação nacional da Campanha Despejo Zero, que engloba mais de 175 organizações, entidades, movimentos sociais e coletivos, mapeia os processos de despejo no país desde o início da pandemia. Ao todo, já são mais de 142 mil famílias que vivem sob ameaça de remoção, das quais fazem parte 97,3 mil crianças e 95,1 mil idosos, de acordo com o último balanço divulgado pela Campanha Despejo Zero, com dados coletados até 31 de maio deste ano.
Segundo o levantamento realizado, de março de 2020 a maio
de 2022, quase 21 mil idosos já foram despejados de suas casas. O número de
crianças removidas também é alarmante e chega a 21.492. Os dois grupos
representam cerca de 33% das pessoas que já sofreram com o despejo ou são
ameaçadas de remoção no Brasil.
Essa situação é especialmente preocupante nos estados de
São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco. Até agora, já foram desabrigadas 45,1
mil famílias paulistas, 29,2 mil famílias fluminenses e 19,2 famílias
pernambucanas.
Os processos de despejo violam medidas judiciais e leis,
em especial a Lei Federal Nº 14.216/2021, que suspendeu ordens de remoção e
despejo de outubro até 31 de dezembro de 2021, e a liminar concedida pelo
ministro Luís Roberto Barroso, estendida até 30 de junho, em uma sessão virtual
extraordinária finalizada em 6/4, nos autos da Arguição de Descumprimento de
Preceito Fundamental (ADPF) 828 protocolada pelo PSOL em parceria com diversos
movimentos e entidades representantes da Campanha Despejo Zero.
A perda da residência significa privação de direitos,
visto que, somente a partir da moradia, as famílias têm acesso à escola, aos
postos de saúde e aos demais serviços sociais. Esse cenário afeta, sobretudo,
as crianças.
Os dados de despejos são acompanhados por outros índices
que ajudam a entender a conjuntura da vulnerabilidade social atual do Brasil. O
número de brasileiros passando fome dobrou no país nos últimos dois anos e
chegou a 33 milhões de pessoas em 2022. Além disso, o desemprego já atinge
quase 12 milhões de brasileiros. Os salários também não são suficientes para
prover as famílias com o básico: comida, vestimenta e moradia. Esse processo se
intensifica com a inflação crescente.
Apesar do aumento de demanda por assistência, o governo
federal cortou 98% dos recursos para a construção de novas unidades
habitacionais para famílias com renda de até R$1.800
e que compõem a maior parte do déficit habitacional do Brasil.
“O despejo é especialmente devastador para crianças e
idosos. Desde o momento da ameaça, quando acontece o medo de ser despejado,
além do trauma de um despejo violento, até às violações de direito enfrentadas
por não ter onde morar. A moradia é porta de entrada para uma série de direitos
básicos. Sem teto e sem comprovante de residência, as crianças não conseguem
ter acesso à escola e aos serviços de saúde e lazer, enquanto os idosos sofrem
por questões identitárias e pelos laços afetivos criados com o território”,
disse Raquel Ludermir, coordenadora de Incidência Política da Habitat para a
Humanidade Brasil e integrante da Campanha Despejo Zero.
Os processos de despejos, além de serem monitorados pela
Campanha Despejo Zero, são impedidos pelo esforço conjunto e coordenado das
organizações, entidades, movimentos sociais e coletivos, que já conseguiram
evitar 120 despejos e, dessa forma, mais de 24.231 famílias puderam manter suas
moradias.
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