Avaliação é de participantes da 5ª Conferência FAPESP 60 anos, que reuniu o secretário de Educação do Estado de São Paulo, Rossieli Soares, e os pesquisadores Simon Schwartzman e Roberto Lent (foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)
Uma das políticas de educação mais antigas do Brasil é a distribuição de
livros didáticos pelo Estado, de suma importância para a estruturação do ensino
básico, principalmente em pequenas cidades distantes dos grandes centros
urbanos. No entanto, poucas pesquisas apontam o que funciona e o que precisa
ser aprimorado nesses materiais.
Este é um, entre muitos exemplos, de como faltam pesquisas para embasar
as políticas educacionais no Brasil, principalmente no ensino básico, na visão
dos participantes da 5ª Conferência FAPESP 60 anos, realizada ontem (20/10)
e disponível no YouTube.
“Nossa educação básica demanda
reformas em muitos aspectos. Mas uma questão central é que seu planejamento e
execução precisam ser muito mais embasados na ciência, nos dados, nas
evidências, do que são hoje. É necessário aplicar os resultados das evidências
científicas acumuladas e, ao mesmo tempo, trabalhar para ter mais informações.
Portanto, a FAPESP está altamente interessada em contribuir para esse debate,
apoiando propostas e projetos que visem obter esses dados, assim como ajudar a
desenhar políticas públicas para aplicá-los”, disse o presidente da FAPESP,
Marco Antonio Zago, durante a abertura do evento.
A conferência teve como mediador Mozart
Neves Ramos, membro do Conselho Superior da FAPESP.
O secretário de Educação do Estado de
São Paulo, Rossieli Soares, contou sobre a criação da Assessoria de
Evidências Educacionais no Ministério da Educação, quando foi ministro, em
2018.
O objetivo era justamente dar
transparência para os dados gerados pela pasta, promover o uso apropriado das
evidências e fomentar a inovação para aperfeiçoar a qualidade das políticas
educacionais. No governo estadual, ele implementou o Escritório de Evidências.
“Queremos cada vez mais fomentar a
geração e a utilização de evidências dentro da rede estadual, para o nosso
próprio processo de tomada de decisão, tanto do secretário como de todas as áreas.
O Escritório de Evidências surgiu justamente para estreitar essa relação entre
a secretaria, que é formuladora e implementadora, e a academia, junto à
sociedade civil, que são produtores de conhecimento”, contou Soares.
Pesquisas
e indicadores
O sociólogo Simon Schwartzman afirmou que
existe uma grande quantidade de informações nos sistemas de ensino que não tem
sido usada para a melhoria da educação brasileira. Segundo o pesquisador
associado do Instituto de Estudos de Política Econômica – Casa das Garças, no
Rio de Janeiro, a existência de avaliações externas da educação e dos
indicadores não deve ser um fim em si.
“Os indicadores têm problemas também,
mas viver no mundo dos indicadores e de seus problemas é muito mais rico do que
em mundo sem eles”, avaliou.
Para o pesquisador, muitas vezes a
razão para não usar os dados gerados é que eles podem desagradar, contrariar
interesses estabelecidos e percepções bastante rígidas.
“É uma batalha de ideias, que requer
pessoas em posição de governo que tenham condição de entender, discutir,
levantar o problema e convencer determinados setores para que as evidências que
estão sendo geradas pelos indicadores tenham o impacto que gostaríamos. Temos
de melhorar a qualidade, mas também a capacidade de implementar os resultados
que as pesquisas mostram”, afirmou.
O neurocientista Roberto Lent,
professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e coordenador da
Rede Nacional de Ciência para Educação, comparou o uso de evidências
científicas na saúde e na área de educação.
Segundo Lent, assim como a saúde, a
educação não é uma atividade improvisada e intuitiva, mas que tem de ser feita
com critérios científicos. No entanto, existe uma ponte unindo ciência e saúde
que ainda não foi construída no Brasil quando se trata de educação.
“Na saúde isso ficou muito bem
demonstrado no momento que a pandemia nos atingiu. Isso começou depois da
Segunda Guerra e os resultados são espantosos, mesmo num país tão desigual como
o Brasil. A mortalidade infantil caiu vertiginosamente e a expectativa de vida
cresceu bastante, modificando a pirâmide demográfica. Mas algo semelhante não
aconteceu na educação”, contou.
Enquanto na saúde a pesquisa seria
estimulada pelo potencial direto de aplicação, o mesmo não ocorreria na
educação. As chamadas de pesquisa, por exemplo, são específicas na saúde, mas
genéricas e muito menores em número na área de educação, diz Lent.
Pensando nessa questão, a Secretaria
Estadual de Educação (Seduc) e a FAPESP devem lançar em breve uma chamada de
projetos de pesquisa para implementação no ensino básico do Estado, adiantou o
secretário.
"O Brasil precisa aprender a
fazer educação olhando para evidências. Hoje temos pesquisas importantes, mas
geralmente feitas no hemisfério Norte. Temos de aproximar, por exemplo, o
processo de alfabetização dos estudos na neurociência. Essa deve ser uma luta
fundamental”, disse Soares.
Para assistir ao evento na íntegra acesse: https://youtu.be/yFK_A8dRddk.
Os vídeos das quatro primeiras Conferências FAPESP estão disponíveis
em: https://60anos.fapesp.br/conferencias.
André Julião
Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/faltam-pesquisas-para-embasar-as-politicas-educacionais-no-brasil-afirmam-especialistas/37118/
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