“Reposição de vitamina D não é isenta de riscos”, alerta oncologista
Em meio à pandemia
de COVID-19, uma onda de notícias tem saído
na mídia sobre a relação entre vitamina D e coronavírus depois que
pesquisadores da Universidade de Turim, na Itália, publicaram um documento (não
artigo científico, como o próprio autor reforça) no qual descrevem que
identificaram que muitos pacientes com COVID-19
tinham baixos níveis de vitamina D. A partir de uma compilação de evidências
relacionadas ao assunto, eles sugerem que a vitamina D, atuando com efeito
imunológico, poderia proteger contra o vírus. Sendo assim, deram a orientação
de que pacientes com COVID-19 – e mesmo
aqueles que ainda não tenham contraído a doença – tomem vitamina D em doses
altas para se protegerem. No entanto, o oncologista Rafael Luís, do Grupo
SOnHe – Sasse Oncologia e Hematologia, é categórico ao afirmar que é preciso
muito cuidado, pois como toda medicação, a reposição de vitamina D não é isenta
de riscos. “É necessário ter cautela com as informações de hoje em dia. A
reposição de vitamina D sem prescrição leva ao aumento do cálcio no sangue e
cálculos renais são algumas das consequências dessa reposição sem critério. São
situações que podem prejudicar os pacientes, podendo ser, inclusive, fatais”,
afirma o médico.
Segundo o
oncologista, esse documento publicado na mídia descreve que os cientistas deram
vitamina D em altas doses para pacientes com COVID-19
e que isso teria reduzido o tempo de internação, mas não mortalidade. “É
uma descrição totalmente informal, sem detalhamento do método científico
utilizado. O fato de haver muitos pacientes com COVID-19
e vitamina D baixa não denota relação de causa-efeito. Os idosos na Itália, no
inverno geralmente têm níveis de vitamina D mais baixos, principalmente pela
baixa exposição solar. Além disso, o documento junta evidências diversas de
estudos variados sobre potenciais benefícios da vitamina D para a população
geral. Alguns pré-clínicos, ou seja, feitos em laboratório, não em humanos,
aventam a hipótese de que a substância aumentaria a capacidade imunológica das
células; outros, também pré-clínicos, sugerindo que a vitamina D reduziria a
inflamação no pulmão de ratos; ainda outros, de dados retrospectivos e com
poucos pacientes, relatando pequenas reduções da chance de contrair doenças
virais respiratórias”, explica Dr. Rafael.
De acordo com o
médico, todos os estudos apresentados têm níveis de evidência muito limitados e
que são apenas geradores de hipótese e devem, sim, suscitar maiores
investigações em pesquisas mais robustas. “O que se sabe atualmente é que a
reposição de vitamina D é necessária, sim, para pacientes específicos, aqueles
que têm falta de vitamina D. E que a coleta de vitamina D deve ser feita após
avaliação médica de um paciente com risco para tal. Não só isso, a reposição,
até o momento, só demonstrou apenas redução de fraturas ósseas nesses
pacientes. Inclusive, num estudo bem desenhado de uma das maiores revistas
científicas (New England Journal of Medicine), a vitamina D não preveniu câncer
nem doenças cardiovasculares”, afirma o especialista.
Dr. Rafael
assegura que com base na ciência, não há evidências que suportem o uso da
vitamina D para prevenção ou tratamento do COVID-19.
“A vitamina D é útil quando bem indicada para pacientes com deficiência e deve
ter sua ingestão orientada por um médico capacitado. E a melhor fórmula para
ficarmos bem nessa situação é tomar sol diariamente por aproximadamente 30
minutos com em horários de pouca radiação UV (antes das 10 e depois das 16h),
comer bem, incluindo alimentos com vitamina D (gema de ovo, peixes como salmão,
atum, sardinha, queijos, cogumelos), praticar exercícios, dormir bem e beber
bastantes líquidos. Nessa quarentena, com a exposição solar mais limitada, a
dica é utilizar as áreas iluminadas da casa, como varandas e janelas”, indica o
especialista.
Rafael Luís -
mestre em oncologia pela Unicamp. Tem graduação e residência em Clínica Médica
e Oncologia clínica também pela Unicamp. Realizou Fellowship no MD Anderson
Cancer Center Madrid. É membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica
(SBOC) e da Sociedade Europeia de Oncologia Clínica (ESMO). Rafael faz parte do
corpo clínico de oncologistas do Grupo SOnHe – Sasse Oncologia e Hematologia e
atua no Instituto Radium de Campinas, no Hospital Santa Tereza, Hospital Madre
Theodora e na Santa Casa de Valinhos.
Redes Sociais
@gruposonhe
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