Solo
bem conservado significa menos problemas para as cidades
Uma das
iniciativas para aumentar a qualidade do solo por meio de técnicas de
conservação e manejo é o Movimento Viva Água, que atua na bacia hidrográfica do
rio Miringuava, no Paraná
Criado em 1989, o Dia Nacional da Conservação do
Solo é celebrado todo 15 de abril como lembrete da necessidade de se proteger
esse que é um dos recursos naturais mais importantes. É a partir do solo
conservado que se pode garantir o acesso à água potável, à produção de
alimentos, à regulação do clima, assim como o equilíbrio dos biomas e sua
biodiversidade.
Dados da ONU (Organização das Nações Unidas)
indicam que o manejo inadequado do solo reduz em até 8% ao ano o Produto
Interno Bruto (PIB) nos países em desenvolvimento. Anualmente, o planeta perde
24 bilhões de toneladas de solo fértil. O uso incorreto do solo, quando
prolongado, pode levar à desertificação, ou seja, torná-lo improdutivo.
No Brasil, muitas áreas encontram-se degradadas,
seja em função do uso inadequado pela agricultura ou pela ocupação urbana,
resultando em um solo de menor qualidade, o que amplia a quantidade de
sedimentos e poluentes nos corpos hídricos das bacias hidrográficas, criando
entraves para o abastecimento de água em nossas cidades.
De acordo com Guilherme Karam, coordenador de
Negócios e Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza,
quando se fala em conservação do solo não se deve pensar apenas em áreas com
presença de agricultura, de florestas ou de outras áreas naturais. A
intervenção é de grande importância também nas grandes cidades.
“Um solo conservado significa menos problemas para
as cidades. Em áreas com solo permeável e de boa qualidade, a água fica retida
nele e na vegetação e vai sendo disponibilizada gradativamente aos rios,
fazendo com que períodos longos de seca sejam sentidos de forma mais branda.
Como o solo funciona como uma esponja, retendo a água durante os períodos de
chuva, evita também enchentes e alagamentos”, explica Karam. “O emprego das
chamadas Soluções baseadas na Natureza (SbN), ações que utilizam processos e
ecossistemas naturais para a geração de benefícios socioeconômicos, são fundamentais
para superar desafios que colocam em risco o bem-estar humano”.
No entanto, as mudanças climáticas têm provocado
desafios a essa lógica. Quem alerta é o pesquisador da Escola Superior de
Agricultura da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) e membro da RECN, Ricardo
Ribeiro Rodrigues. “Temos testemunhado uma concentração dos eventos climáticos,
com chuvas intensas em curtos períodos. Isso cria uma preocupação enorme porque
ainda não temos técnicas bem aplicadas de conservação de solo para enfrentar
situações desse tipo”, afirma o especialista.
Iniciativas-modelo vêm sendo testadas em alguns
locais com a proposta de buscar soluções baseadas na natureza para essa nova
dinâmica climática. Uma delas é o Movimento Viva Água, idealizado pela Fundação
Grupo Boticário de Proteção à Natureza, e que já conta com a participação de
diversas instituições, que visa aumentar a segurança hídrica da região
metropolitana de Curitiba, por meio da conservação e recuperação de
ecossistemas, além da implantação de boas práticas de uso do solo e de
agricultura sustentável por produtores rurais da bacia hidrográfica do rio
Miringuava, no Paraná..
Iniciado em meados de 2019, o Viva Água irá
investir R$ 6 milhões nos primeiros cinco anos do movimento. Ao final de uma
década, espera-se que as iniciativas de conservação de ecossistemas e do solo
garantam acesso à água em qualidade e quantidade adequada para os moradores e
as indústrias abastecidas pela bacia do Miringuava, contribuindo também para o Sistema da
Abastecimento de Água Integrado de Curitiba e Região Metropolitana.
Ação semelhante também está sendo iniciada no Rio
de Janeiro, onde dois projetos multisetoriais apoiados pela Fundação Grupo
Boticário vão atuar no aumento da cobertura florestal e na promoção da
agricultura sustentável na Bacia Guapi-Macacu, no recôncavo da Baía de
Guanabara.
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CURIOSIDADE: O que é o
solo?
O engenheiro agrônomo
Carlos Hugo Rocha, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza
(RECN), explica que o solo é a fina camada que reveste o planeta. Originado
das rochas, se forma após séculos de chuva, vento e erosão. Seus diferentes
tipos resultam da rocha de origem e dos processos de deterioração que elas
sofrem.
“Sua composição é 45%
minerais, que é a degradação da rocha, 25% água, 25% ar e 5% matéria
orgânica, ou seja, o tecido animal e vegetal morto, acumulado durante séculos
e que dá vida ao solo”, explica Rocha, que é professor adjunto da
Universidade Estadual de Ponta Grossa, do Paraná.
Além de ser importante
para a regulação climática, a produção de alimentos, a filtragem de
sedimentos e agrotóxicos e o sequestro de carbono (contido naqueles 5% de
matéria orgânica), o solo tem função até na produção de fármacos (como nos
microrganismos presentes na matéria orgânica, que deram origem à penicilina)
e, em especial, na regulação hidrológica.
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Rede de Especialistas em Conservação da Natureza
Fundação Grupo Boticário
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