Como formar as pessoas para o futuro? Como as mudanças no mundo
afetam esse processo? Saiba de uma coisa, as mudanças que acompanhamos nos
últimos anos foram apenas a ponta do iceberg. Ainda não vimos nada, seremos
impactados ainda mais pela tecnologia, com uma velocidade jamais vista. E como
nos preparar para tudo isso? Qual será o papel das escolas nessa transformação?
Nós seremos engolidos pelas máquinas?
A revolução industrial trouxe a necessidade de formação em massa,
como em uma linha de produção. O modelo de ensino ainda visto na maioria das
escolas, independente de faixa etária, infelizmente segue esse modelo fabril.
Professor na frente da sala de aula como detentor do conhecimento e dezenas de
alunos enfileirados em um papel passivo receptivo. Um formato com baixíssima
atividade neural. E aí se inicia o processo produtivo, entram alunos e saem o
quê?
Não estou falando de formar robôs. Estou falando de formar seres
humanos, cada qual com seus objetivos, necessidades e habilidades diferentes.
Hoje, boa parte dos pais matriculam seus filhos na educação infantil já
preocupados com o vestibular. Ou seja, colocam crianças no processo fabril de
longos anos para garantir que seja atingido um score. Será que uma criança que
hoje tem 3 anos vai passar por um processo seletivo de vestibular daqui mais de
uma década? Não sei exatamente qual será o formato, mas acredito que teremos
grandes mudanças.
Na sequência, o aluno cursa uma faculdade de 4 ou 5 anos para se
tornar um profissional. Infelizmente, na maioria das situações, esse aluno é
formado tecnicamente em um modelo engessado e que em pouco tempo está
desatualizado. Pior ainda é esse aluno não saber como aplicar a teoria aprendida,
pois o mercado de trabalho exige a prática e, mais do que isso, desenvoltura
comportamental. E como mudar esse cenário? Como olhar para o futuro incerto e
formar pessoas que tenham maiores oportunidades de sucesso?
A resposta parece complexa, mas não é. Temos que passar por um
processo trabalhoso que muitas escolas não sabem como começar. Ao invés de
formar apenas no aspecto técnico e cognitivo, medido com uma nota objetiva, é
preciso capacitar para uma vida mutante em questões totalmente subjetivas. A
escola tem que se preocupar em preparar seus alunos com uma visão global,
possibilitando experiências transformadoras. Para falar de formação do futuro é
inconcebível que qualquer plano de aula deixe de considerar o desenvolvimento
de novas habilidades e competências indispensáveis para o século XXI.
Independente do objetivo profissional, tudo que é proposto em uma sala precisa
considerar uma formação mais ampla, que envolva colaboração, resolução de
problemas, criatividade, comunicação, visão empreendedora, relacionamento
interpessoal, pensamento crítico entre muitas outras habilidades indispensáveis
para a vida.
Aliás, a vida passa a ser um recurso indispensável para qualquer
aula produtiva.
É necessário levar a realidade para dentro da sala de aula. Os
alunos precisam vivenciar e encontrar aplicação prática em tudo que fazem.
Vivemos em um mundo cada vez mais conectado e a pluralidade de conhecimentos se
faz necessária. Hoje, todos têm acesso à informação, mas precisam desenvolver
melhor sua curiosidade investigativa e construir um ponto de vista mais sólido.
Com isso, temos uma mudança no papel da escola e, também, do professor. A
presença pedagógica se faz necessária em um modelo diferente, não como ditador,
mas sim como orientador e mediador, direcionando cada aluno para o caminho mais
adequado. Culturalmente, é um desafio, pois a responsabilidade do aluno
aumenta. Ele passa a ser o grande protagonista do processo de aprendizagem.
Sinceramente, não sei o que vai acontecer com essa ou com aquela
profissão, mas posso dizer, com bastante convicção, que quem tiver habilidades
comportamentais afloradas terá o mundo nas mãos. A educação transformadora
precisa focar nas pessoas, independente do cenário tecnológico e do seu
impacto. Só assim os alunos serão preparados para se encaixar em uma nova
realidade.
Ronaldo Cavalheri - engenheiro, especialista em educação e CEO do
Centro Europeu – primeira escola de Economia Criativa do Brasil
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