Além dos altos índices de evasão escolar no Ensino
Médio brasileiro, há um outro fator a ser analisado que nem sempre aparece nas
pesquisas, o número de alunos que estão somente fisicamente presentes em sala
de aula, ‘cumprindo tabela’. Não é sem razão que professores, pais e alunos
desejam uma remodelação no trabalho escolar na última etapa da educação básica
no país.
Recentemente, a Talis (Teaching and Learning Internacional
Survey – Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem, realizada pela
OCDE a cada cinco anos) revelou pontos de atenção a respeito da aprendizagem e
das condições de trabalho de professores e gestores de escolas em 48 países,
entre eles o Brasil. Conforme os resultados da pesquisa, há uma forte relação
entre o clima escolar e a qualidade da aprendizagem, e apontam-se as seguintes
evidências no que se refere ao Brasil:
- O dobro de frequência na constatação de incidência de intimidações, bullying e ofensas verbais entre estudantes. Apesar de este tema ser amplamente discutido, ainda é preciso que todos no ambiente escolar entendam que o bullying não é aceitável e quando de fato for enfrentado, teremos condições de combatê-lo. Quando um aluno não se sente confortável e seguro na sua escola, com certeza não há condições de aprendizado.
- Há 34% a mais de relatos de professores em nosso país indicando a necessidade de acalmar os estudantes antes de iniciar as aulas, reduzindo ainda mais o tempo de trabalho pedagógico.
- As metodologias ativas são menos usadas do que na média dos outros países, mesmo com 80% dos professores brasileiros estarem abertos a adotar práticas inovadoras.
- 60% dos diretores brasileiros informaram que a qualidade da educação em suas escolas é prejudicada pela falta de professores qualificados, o dobro dos demais países pesquisados.
É notório que já avançamos pela força da lei com a
inclusão de 1.200 horas para os itinerários formativos como um espaço de
protagonismo para o estudante no Ensino Médio. Por outro lado, realizar esse
plano será um grande desafio. Em diversas partes do mundo, oficinas de
marcenaria, costura, gastronomia, mecânica e música dividem espaço na matriz
com os componentes curriculares clássicos. Isso porque, para promover o
engajamento e garantir aprendizagens que sustentam e ancoram o desenvolvimento
cognitivo, essas oficinas são estratégicas. E, mais, oportunizam interações que
qualificam a comunicação e desenvolvem a empatia, competências necessárias para
dar respostas criativas aos problemas complexos que ainda não conhecemos, que
emanam de uma sociedade em profunda mudança, cuja arquitetura do mundo do
trabalho ainda está sendo desenhada. Muito pouco sabemos do que será exigido
para operar nesse mundo que ainda desponta no horizonte, salvo o que chamamos
de qualidades humanas – ainda escassa. Mas se conseguirmos tirar do papel o
trabalho com as dez competências gerais da BNCC, já avançaremos a uma
ressignificação da escola de educação básica no Brasil, construindo sentido
para a sua existência. É uma chance ouvirmos nas chamadas diárias, da boca e do
coração de cada estudante, PRESENTE!
Acedriana Vicente Vogel -
diretora pedagógica do Sistema Positivo de Ensino.
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