OPINIÃO
Entre
os principais entraves estão o modelo de pagamento por serviços e o de
atendimento focado no médico especialista
O
que todo mundo vê: nos últimos 8 anos tivemos um reajuste de 340% no valor dos
planos de saúde, enquanto a inflação não ultrapassou os 150%. O que quase
ninguém vê: o sistema de saúde está desregulado e ruim para todos os
envolvidos. Enquanto o aumento é excessivo para o consumidor, ele não cobre a
inflação médica, que chega a ser mais de três vezes o valor da inflação geral.
Entre as práticas que estão comprometendo a sustentabilidade da saúde privada
estão o modelo de pagamento por serviços e o de atendimento focado no médico
especialista.
Em
um cenário de sustentabilidade da saúde privada, o modelo de pagamento por
serviço está com os dias contados. Com isso, temos observado movimentos que
estão surgindo em bisca dessa mudança. Isso quer dizer: colocando o prestador
de serviço como corresponsável junto com a operadora, em uma tentativa de
otimização dos custos. Esse modelo já está sendo implantado em algumas
empresas, mas enfrenta resistência por parte de alguns prestadores,
principalmente hospitais.
Hoje,
a grande maioria dos estabelecimentos ainda cobra dos planos de saúde por
serviço prestado, independente da eficiência e eficácia dos procedimentos.
Então, é como se as operadoras fornecessem um cheque em branco cada vez que
algum segurado é atendido.
Esse
novo modelo não é algo fechado, ele tem variáveis. Umas das opções chamamos de
pagamento por performance, na qual paga-se um valor fixo e um plus por
performance. Então, o hospital precisará controlar os dias de internamento, as
medicações e os procedimentos de acordo com uma tabela de procedimentos e
custos. Se ele ultrapassar o acordado, será o responsável pela absorção do
custo. Hoje, quem paga isso são as operadoras.
Pressionando
esse movimento temos a onda da verticalização dos serviços de saúde, em que as
operadoras estão construindo hospitais próprios, resultando em mudanças em todo
o sistema. Algumas operadoras estão sendo obrigadas a descredenciar hospitais
que se recusam a atender em um novo modelo. É vital para a continuidade dos
planos de saúde que os hospitais aceitem o pagamento por performance.
Essa
é uma das mudanças em curso, a da forma de remuneração dos valores nos
hospitais, que é essencial para tentar reequilibrar essa balança. A segunda
situação que está acontecendo é a busca por um médico de família e um médico
gestor. Esse é um outro movimento em que o médico gestor ou o médico de família
será o responsável pela saúde do segurado. Será função desse profissional
encaminhar, quando necessário, para especialistas, ou mesmo pedir exames. É o
que chamamos de referência e contra-referência. O médico encaminha, o
especialista “devolve”, e esse médico gestor é quem terá uma visão global da
saúde de seu paciente.
Já
temos alguns grandes serviços oferecendo o gerenciamento de médico de família
para as empresas, como é o caso dos hospitais Albert Einstein e Sírio Libanês.
Indo contra esse modelo temos o corporativismo médico. É uma distorção do
sistema e do comprometimento com a saúde do paciente. É um modelo largamente
utilizado em países da Europa e do Canadá que tem como consequências imediatas
a diminuição do desperdício e da má-utilização. É a redução de custos e
melhoria do produto. Com estas práticas é possível ocorrer o retorno do
crescimento dos usuários de plano de saúde.
Dr
Cadri Massuda - presidente da Abramge PR/SC- Associação Brasileira de Planos de
Saúde, regional Paraná e Santa Catarina.
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