Pediatra
do Hospital América de Mauá fala sobre a importância do aleitamento materno
“Capacite os pais e permita
a amamentação, agora e no futuro!” é o slogan da Semana Mundial de Aleitamento
Materno (SMAM) 2019, definido pela Aliança Mundial para Ação em Amamentação
(WABA, sigla em inglês). A iniciativa, que acontece anualmente em agosto, tem
como objetivo enfatizar a importância do envolvimento de todos os familiares
próximos, não apenas da mãe, para garantir que seja possível o aleitamento materno
exclusivo nos primeiros 6 meses de vida e de forma complementar até os 2 anos
de idade. “Quando nos referimos à amamentação, o binômio mãe-bebê surge de
imediato em nosso pensamento, porém para que ela ocorra é preciso que haja um
ambiente favorável: tranquilo, confortável e sem fatores estressores, com a
presença de pessoas para assegurar uma amamentação de qualidade para mãe e
bebê. A participação do pai, a ajuda de familiares e a assistência de
profissionais de saúde são fatores que interferem diretamente no êxito do
amamentar. O pai é fundamental no processo do aleitamento materno e pode
participar de diversas maneiras, sendo as principais estar ao lado da mãe para
oferecer todo o apoio necessário durante o processo e auxiliar nos cuidados da
casa e dos filhos mais velhos, bem como na alimentação da lactante e em outras
funções que a mãe anteriormente realizava. Familiares e amigos também
podem contribuir com esses cuidados”, explica a Dra. Nathalie Moschetta
Monteiro Gil, pediatra e neurologista infantil, prestadora de serviços no
Hospital América de Mauá.
Desde 1992, mais de 120
países celebram a Semana Mundial da Amamentação entre os dias 1º e 7 de agosto,
definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Fundo das Nações
Unidas para a Infância (Unicef) com base na Declaração de Innocenti, assinada
em 1º de agosto de 1990. A campanha Agosto Dourado remete ao mês dedicado à
intensificação das ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno,
chamando atenção para a grande importância da amamentação no desenvolvimento do
recém-nascido. O dourado faz alusão à definição do leite materno segundo a OMS:
alimento de ouro para a saúde dos bebês. “O objetivo da campanha é informar
sobre os benefícios do leite materno, que está diretamente ligado a uma boa
nutrição, bem como vincular a amamentação a uma agenda nutricional de segurança
alimentar, alcançar pessoas e organizações que trabalham com questões
relacionadas à propagação de informação sobre a amamentação e motivar as mães a
amamentar com consciência sobre a importância nutricional do leite materno”,
esclarece a doutora.
A composição do leite
materno
“Nos primeiros dias após o
parto, é produzido o colostro. Quando comparado ao leite maduro, ele é mais
viscoso e possui maior concentração de proteínas, minerais, carotenoides e
vitaminas lipossolúveis, principalmente A e E, além de apresentar menor
quantidade de lactose, gorduras e outras vitaminas. O colostro é muito rico em
fatores de defesa, como substâncias imunomoduladoras, agentes
anti-inflamatórios, imunoglobulinas e outros agentes antimicrobianos. As
modificações na composição láctea após o 5º dia ocorrem de forma gradual e
progressiva, sendo denominado leite de transição o leite produzido nesse
período intermediário entre o colostro e o leite maduro. Embora o período
compreendido entre o 6º e o 10º dia pós-parto seja considerado transicional,
poucos nutrientes atingem o 10º dia com seus valores definitivos. Essa
irregularidade na composição láctea dos primeiros dias pode ser atribuída à
imaturidade fisiológica e metabólica da glândula mamária, então, apesar de o
processo de transição perdurar durante todo o primeiro mês de lactação,
convencionou-se definir como leite maduro o leite produzido posteriormente ao
15° dia de vida do bebê. Nesse período, o soro do leite humano apresenta cerca
de 60% a 90% de seu teor proteico total, e sua composição inclui
alfa-lactoalbumina, lactoferrina, lisozima, soroalbumina, imunoglobulinas e
betalactoglobulina. A alfa-lactoalbumina, que constitui cerca de 40% das
proteínas do soro do leite humano, é necessária para o transporte de ferro e
para a síntese de lactose na glândula mamária. A lactoferrina, a lisozima e as
imunoglobulinas, especialmente a IgA secretora, são proteínas do soro do leite
humano relacionadas ao sistema de proteção do corpo. A caseína, proteína
responsável por conferir a aparência branca do leite, possui vários subtipos,
mas predominam no leite humano as frações beta-caseína (50%) e kappa-caseína
(20% a 27%). Durante a lactação, ocorre uma acentuada elevação do teor de
caseína no leite humano, acompanhada de um concomitante decréscimo dos níveis
de proteínas do soro. A lactose constitui cerca de 70% do conteúdo de
carboidratos do leite materno e sua concentração no colostro oscila em torno de
5,3 g/dl, elevando-se para 7 g/dl no leite maduro. As gorduras são a maior
fonte de energia do leite humano e são facilmente digeríveis e absorvíveis.
Entre os macrominerais presentes, estão sódio, potássio, cloreto, cálcio,
magnésio, fósforo e sulfato. É importante lembrar que os microelementos, ou
seja, o conteúdo vitamínico do leite humano, pode ser afetado por diversos
fatores, sendo o principal o estado nutricional materno”, afirma a doutora.
Benefícios da
amamentação
O
aleitamento materno apresenta inúmeras vantagens, como aspectos higiênicos,
imunológicos, psicossociais e cognitivos, contribuindo também para a prevenção
de doenças futuras. Além disso, gera menor custo e efeito anticoncepcional, bem
como outros inúmeros benefícios para o organismo da mãe e do bebê. “O
leite humano possui uma composição nutricional balanceada em termos de proteínas,
carboidratos e gorduras, garantindo o crescimento e o desenvolvimento adequados
do recém-nascido. Ele auxilia no desenvolvimento neurológico, no
fortalecimento do sistema imunológico e reforça o vínculo
afetivo entre mãe e filho. Também reduz a morbimortalidade infantil ao
diminuir a incidência de doenças infecciosas, proporciona nutrição de alta
qualidade para o bebê e promove a correta estimulação dos músculos orofaciais.
Estudos recentes tem mostrado que pacientes que receberam aleitamento materno
exclusivo até o 6º mês de vida desenvolveram fatores protetores na infância e
na vida adulta para obesidade, diabetes, doenças inflamatórias intestinais,
leucemia infantil, otite média, infecções do trato respiratório superior e
inferior e apresentaram melhor desempenho em testes de inteligência (QI). Vale
lembrar que o ritmo intestinal no primeiro ano de vida, sobretudo nos primeiros
meses, é diferente. No início, o bebê pode evacuar todas as vezes depois que
mamar, devido ao reflexo gastrocólico, ou evacuar em intervalos longos, até
mesmo de dias, e isso é considerado normal, desde que as fezes estejam
amolecidas, não apresentem rajas de sangue e o aumento de peso seja adequado. O
ganho ponderal do bebê deve ser acompanhado mensalmente pelo pediatra para
monitorar o seu crescimento”, ressalta a especialista.
O volume de leite materno
necessário para satisfazer um recém-nascido é definido pelo cálculo da
capacidade gástrica do bebê, que depende do peso, mas quando se trata de
aleitamento materno exclusivo esses cálculos não são necessários. “O
aleitamento deve ser realizado em livre demanda, ou seja, sem horários
pré-estabelecidos, porém é importante que algumas informações sejam passadas às
mães: o leite inicial tem composição predominantemente hídrica, já o leite
posterior concentra as gorduras necessárias para a satisfação e nutrição do
bebê, portanto a amamentação deve ser realizada na mesma mama até que ela
esvazie, para depois intercalar com a outra. As mães também devem ser
instruídas quanto ao intervalo máximo entre as mamadas: 4 horas, que é o tempo
que leva para o estoque de glicose no organismo do recém-nascido acabar”, comenta
a médica.
Dicas para amamentar
Para a mãe ter sucesso na
amamentação, é preciso seguir algumas orientações em relação à alimentação, ao
sono e às técnicas necessárias para a pega correta. “É necessário ingerir
bastante água, não ficar nervosa durante o período de aleitamento, dormir bem,
ter uma alimentação saudável e amamentar sempre que o bebê quiser, ajudando-o a
acertar a pega. A massagem prévia à amamentação, com ordenha inicial, e
compressas de água morna também podem ser úteis. O mais importante, no entanto,
é respeitar a livre demanda e se certificar de que a pega está correta. A
ingestão de remédios deve ser feita somente em casos específicos e sob
orientação médica. A lactante deve se sentar de modo confortável, relaxada, com
a coluna ereta e os pés apoiados em uma banqueta. O corpo do bebê deve estar
totalmente voltado para o corpo da mãe, de modo que seja possível o encontro de
barriga com barriga. O pescoço do bebê deve estar ligeiramente estendido para
facilitar a pega, e a mama deve ser segurada com os dedos em forma de “C”, não
em forma de tesoura. O bebê deve estar bem apoiado, o queixo tocando o peito e
a boca bem aberta, de frente para o mamilo”, instrui a pediatra.
O aleitamento também contribui para a saúde da mulher ao reduzir riscos de certos tipos de cânceres, ampliar o intervalo entre partos, auxiliar a mulher a atingir seu peso ideal, proporcionar economia e ajudar no desprendimento da placenta, colaborando para a volta do útero ao tamanho normal e, com isso, evitando o sangramento excessivo e uma possível anemia. A amamentação reduz ainda o risco de a mulher desenvolver síndrome metabólica (doenças cardíacas e diabetes) após a gravidez, mesmo quando houve diabetes gestacional.
Mitos sobre a amamentação
- Mito ou verdade: O leite
materno pode ser fraco para nutrir o bebê.
Mito. Não
há leite materno fraco. O leite materno apresenta composição semelhante em
todas as mulheres que amamentam e é o alimento ideal para o bebê, sendo sua
ingestão recomendada de forma complementar até os 2 anos de vida ou mais e de
forma exclusiva até o 6º mês.
-
Mito ou verdade: O leite congelado, mesmo que retirado das mamas, perde os
nutrientes.
Mito. Se
armazenado adequadamente, o leite pode ser congelado por até 15 dias sem perder
suas propriedades e sua qualidade nutricional.
-
Mito ou verdade: Quem fez redução mamária ou colocou silicone não pode
amamentar.
Mito. A
cirurgia nos seios não impede a mulher de amamentar, desde que durante a
cirurgia sejam preservadas as estruturas das mamas.
-
Mito ou verdade: Seios muito pequenos não produzem leite na quantidade
suficiente para o bebê.
Mito. O
tamanho da mama não tem relação com a produção de leite. Tanto as mamas grandes
quanto as pequenas possuem capacidade de produzir o mesmo volume de leite por
dia.
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