Eu sei que os títulos de mulher do
ano costumam ser concedidos para celebridades do meio artístico, dos palcos,
das câmeras e das passarelas. Isso tem muito a ver com a superficialidade das
relações sociais, vulgarmente incapazes de avançar um milímetro sequer sobre as
aparências. Ao afirmá-lo, não estou emitindo juízo de valor sobre quem quer que
seja.
Já quando olhamos ao nosso redor,
provavelmente todos temos a quem outorgar esse destaque. Num círculo mais
estreito de relações, onde conhecimentos e sentimentos são mais profundos,
quase sempre há alguém que é, a um só tempo, rainha, deusa, leoa, obreira
infatigável de incontáveis tarefas, pessoa de vontades contidas e interesses postergados,
primeira e espontânea oferta no altar dos sacrifícios. Meu louvor, meu
apaixonado louvor à essa multidão anônima de mulheres do ano!
Ao pesquisar no Google sobre a
mulher do ano de 2017, vejo tantas referências à cantora Anitta, que não posso deixar
de dizer: tal escolha constrange a nação. É sintoma de que o torneado do corpo
se impõe ao torneado da alma, e que as formas obscurecem a beleza e a nobreza
das virtudes.
Neste ano de 2017, ninguém se ergueu
acima de Heley de Abreu Silva Batista! Foi ela que entrou em luta corporal com
um louco incendiário. Foi ela que retirou 25 crianças de uma creche em chamas,
salvando-as de morrerem no trágico acontecimento do dia 5 de outubro em Janaúba
MG. Horas depois, não resistindo às queimaduras, Heley morreu.
Em João 15:13, numa alusão ao que
viria a acontecer consigo mesmo, Jesus
diz: "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos seus
amigos". Amor supremo, cuja imposição vem do coração e chega à superação
dos mais naturais instintos humanos. Quando enunciou o mandamento do amor,
Jesus disse que devemos amar o próximo "como" (tanto quanto) a nós
mesmos. Ele não nos exige o que Ele fez. Ele não pediu a Heley o que Heley
realizou. Ela agiu voluntariamente. Amor ao próximo além do amor próprio é
altruísmo, virtude das almas mais nobres, dos santos, dos heróis, dos que se
erguem à reverência de todos nos altares, nos monumentos e nas páginas da
História.
Por isso, quando a agenda de 2017
começa a buscar na prateleira seu lugar ao lado das anteriores, eu me uno aos
que escolhem Heley de Abreu Silva Batista e digo: Professora, este ano não tem
para mais ninguém! Dê um abraço em Jesus por mim.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
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