Naquele domingo, 15 de
março, estava decidido a me indignar nas ruas. Logo na noite de sábado separei
meu tênis e uma antiga camiseta amarela que pouco tinha a ver com a bandeira
brasileira – esta já tão machucada por tudo que se soube dos vários aspectos do
nosso Brasil: corrupção na Petrobrás (ainda com a imagem do presidente Lula de
macacão manchado de óleo), das promessas da presidente Dilma sobre o pré-sal,
enfim – o meu tênis e a minha camisa estavam bem ali, prontos para serem
usados. Era como que, ao vesti-los, pudesse externar minha indignação. Diante
do silêncio do governo e principalmente da presidente Dilma, compensaria minha
revolta.
Por alguns minutos
relutei, isso no domingo, em ir às ruas e decidi por fim ficar em casa, embora
a televisão tenha permanecido ligada. Numa cadeira do quarto observava meu tênis
e a minha camiseta inertes, como que dizendo que de nada adiantaria me juntar à
multidão. Entretanto, mesmo que pela tevê, valeria a pena acompanhar a
disposição de milhões de brasileiros, como eu, indignados.
A grande pergunta que
realmente intriga é porque a presidente Dilma não se desculpou em público sobre
o evento de maior corrupção que assustou o mundo, o da Petrobrás, apesar de no
dia seguinte abordar o tema da “humildade”. Outra atitude lamentável do governo
é sua posição, de certa forma, refratária ao ajuste fiscal. Prova dessa
condição é a ameaça do ministro Joaquim Levy de abandonar o barco. Ainda há que
se considerar certas políticas que são eleitoreiras como a “farra do Fies”, por
exemplo. Criado em 1999 com a finalidade de emprestar dinheiro para alunos
cursarem faculdades particulares, o Fies teve uma explosão de contratos após
mudanças promovidas em 2010 para elevar o número de matrículas. Os juros caíram
de 6,5% para 3,4% ao ano, abaixo da inflação.
Além disso, o
financiamento pôde ser obtido a qualquer momento, a exigência de fiador foi
relaxada e o prazo de quitação, alongado. Na verdade, de lá para cá, o total
gasto por ano pelo governo federal com crédito estudantil disparou. O aumento,
de 2010 até o ano passado, foi de 13 vezes, passando de R$ 1,1 bilhão naquele
ano para R$ 13,7 bilhões em 2014. O resultado de tais medidas foi o crescimento
nas transferências para grupos educacionais em mais de R$ 2 bilhões. Várias
instituições de ensino receberam o dobro do que a Embraer, fabricante de aviões
militares, e a Odebrecht, responsável por dezenas de obras pelo Brasil.
Vivemos num país corroído
pela falta de valores, temos políticos corruptos, instituições enfraquecidas e,
o pior, o povo brasileiro pouco pode fazer a não ser protestar nas ruas. Eu,
enfim, acabei não indo, talvez porque no fundo meu tênis e a minha camiseta me
soavam dizendo “prefira o luto, ficando em casa e se indignando em frente a sua
televisão”. Assim, passei meu 15 de março com roupa normal e de mal com esta
democracia.
Fernando Rizzolo -
Advogado, jornalista, mestre em Direitos Fundamentais, membro efeivo da
Comissão de Direitos Humanos OABSP, rizzolot@gmail.com
, www.blogdorizzolo,com.br
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