Vagner Miguel,
farmacêutico da Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais, tira as
principais dúvidas sobre o assunto
Bridgesward por Pixabay |
Dezembro já chegou e, com ele, as confraternizações
de fim de ano, os happy hours com os amigos, o Natal e o ano novo. Com muita
frequência, essas comemorações envolvem o consumo de bebida alcoólica. A
principal dúvida que surge para quem está tomando medicação é: será que posso
beber? E o anticoncepcional, será que perde o efeito? Quais serão as
consequências da interação da bebida com o antidepressivo?
Para sanar essas e outras questões, Vagner Miguel,
farmacêutico da Anfarmag – Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais –,
explica que as consequências da interação entre álcool e medicamentos dependem
de vários fatores. Entre eles está a composição do medicamento, o organismo do
paciente e a quantidade de álcool ingerida. Por isso, de forma geral, a
recomendação é evitar misturar álcool com medicamento. O principal órgão
prejudicado é o fígado, que metaboliza, por meio das enzimas que produz, o
álcool e grande parte dos medicamentos, ficando sobrecarregado. O álcool também
afeta especialmente o sistema nervoso central, que comanda nossas ações,
alterando substancialmente as capacidades cognitivas estruturais e
comportamentais.
Como a bebida altera o metabolismo, o tempo de
eliminação do medicamento será alterado, podendo ocorrer antes ou depois do
previsto, com possibilidade de prejudicar o tratamento. Aumenta a gravidade
quando são utilizadas drogas para tratar problemas neurológicos e
psiquiátricos, pois o álcool em geral potencializa o efeito dessas substâncias.
“Antidepressivos agem diretamente no sistema nervoso central. Inicialmente, as
bebidas alcoólicas aumentam o efeito do antidepressivo, deixando a pessoa mais
estimulada; porém, após passar o efeito da bebida, os sintomas da depressão
podem aumentar. Já quando os ansiolíticos são misturados ao álcool aumenta o
efeito sedativo, deixando a pessoa inabilitada para conduzir um veículo por
exemplo, além de uma maior probabilidade de efeitos adversos graves, a exemplo
de coma e insuficiência respiratória”, explica o farmacêutico.
As mulheres que tomam anticoncepcional devem conversar
com o médico para usar um método contraceptivo complementar, já que, com a
bebida, o efeito pode cair até pela metade. Vagner alerta: “Os
anticoncepcionais podem ter tempos variados de permanência no organismo antes
de serem eliminados, com duração que varia entre 12 a 24 horas ou mais,
dependendo da substância, e isso gera riscos, já que a mulher pode achar que
está protegida e ter atividade sexual sem preservativo.”
A mistura de antibióticos e álcool, por sua vez,
pode causar desde vômitos, palpitação, cefaleia, hipotensão, dificuldade
respiratória até a morte. “Esse tipo de reação seria mais comum com as
substâncias metronidazol; trimetoprima-sulfametoxazol, tinidazole e
griseofulvin. Já outros antibióticos – como cetoconazol, nitrofurantoína, eritromicina,
rifampicina e isoniazida – tampouco devem ser tomados com cerveja e afins pelo
risco de inibição do efeito e potencialização de toxicidade hepática”, diz o
especialista.
Vagner completa explicando o efeito com analgésicos
e antitérmicos. “O efeito do álcool pode ser potencializado e a velocidade de
eliminação do medicamento do organismo será maior, diminuindo seu efeito. Nos
casos mais graves, o uso do álcool com paracetamol pode danificar o fígado, uma
vez que ambos são metabolizados nesse órgão. Já a mistura com ácido
acetilsalicílico pode causar, em casos extremos, hemorragia estomacal, pois
ambos irritam a mucosa estomacal”
“Portanto, na dúvida, a regra é: não misturar
álcool com nenhum tipo de medicamento”, finaliza o farmacêutico. A medicação
não pode ser desculpa para faltar a reunião de amigos, afinal, o mais
importante nestas festas é o carinho, a atenção e a comemoração por terem
passado mais um ano juntos e felizes.
Vagner Miguel - Gerente Técnico e de Assuntos
Regulatórios da Anfarmag (Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais),
farmacêutico, palestrante e docente. Formado pela Unesp como farmacêutico em
1985, o profissional pós graduou-se em Gestão pela Trevisan e em Engenharia
Farmacêutica Cosmética pelo Instituto Racine.
Anfarmag - Associação
Nacional de Farmacêuticos Magistrais