Pesquisar no Blog

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

A tecnologia como remédio para os gargalos da saúde pública


Cerca de 3 milhões de pessoas deixaram os planos de saúde nos últimos três anos no Brasil. A estimativa é da Agência Nacional de Saúde (ANS) e tudo indica que seja uma consequência do aumento de preços, do endividamento e do crescimento do índice de desempregados. E a sobrecarga para o Sistema Único de Saúde (SUS) é imediata.

A garantia dos serviços prestados pela saúde pública está entre os maiores desafios enfrentados pelos municípios brasileiros. Muito se investe, mas pouca coisa é perceptível ao cidadão. De acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), 40% de todos os gastos com saúde são desperdiçados por ineficiência. O Brasil gasta 9,3% do PIB na área - ou seja, cerca de R$ 410 bilhões investidos. Se considerarmos a estimativa, R$ 164 bilhões ao ano podem estar sendo desperdiçados por pura falta de controle e gestão. 

Realizar o controle de pacientes, filas de leitos, distribuição e estoque de medicamentos, aplicação de vacinas, agendamento de consultas e exames especializados são atividades que se tornam ainda mais complexas quando se tem um grande número de pacientes e um orçamento apertado.

É aí que a tecnologia se mostra fundamental para a melhoria da saúde pública. Além de facilitar a administração das atividades, os novos sistemas otimizam o tempo, tanto de gestores e profissionais quanto do cidadão, e permitem maior controle de gastos.

Mas isso ainda está longe de ser realidade em muitos municípios do País. Apesar de existir uma lei, que entrou em vigor no final do ano passado e que se refere à utilização do prontuário eletrônico no setor de saúde no Brasil, muitas unidades básicas ainda realizam o controle do histórico do paciente em papel.

A informatização deesse processo está se tornando cada vez mais importante, pois permite ao profissional de saúde registrar as ações tomadas durante o atendimento ao paciente. Todas as informações podem ser guardadas e acessadas a qualquer hora, em qualquer lugar, e ficam armazenadas para futuras consultas.

Quer um exemplo prático da importância do prontuário eletrônico? Num momento em que a febre amarela volta a assustar é possível, por meio dos registros coletados nos prontuários, fazer a correlação das regiões onde os casos aparecem com as condições de moradia e informações sociais dos pacientes, como frequência da coleta de lixo, tratamento do esgoto, hábitos de vida, escolaridade, faixa de renda. E assim a área epidemiológica pode atuar rapidamente e com mais eficiência.

Outro gargalo da saúde pública que pode ser tratado de maneira mais inteligente com a tecnologia é a espera por consultas e internações. O Instituto das Cidades Inteligentes (ICI) já oferece uma solução integrada que organiza e controla eletronicamente as filas de atendimento e a ocupação dos leitos. O gestor consegue acompanhar em tempo real, por meio de dashboards, as filas nas unidades de saúde e na emergência, sendo possível analisar o tempo de espera dessas solicitações e realizar a tomada de ação imediata para aperfeiçoar o processo de atendimento.

É a tecnologia permitindo à alta administração uma visão real do dia a dia da saúde pública no município. Investimentos mais efetivos, diminuição do desperdício e informações disponíveis a qualquer tempo, que trazem impactos diretos para um melhor atendimento à população.





Francielle Regeane Vieira da Silva - coordenadora de projetos do Instituto das Cidades Inteligentes.
  

Telemedicina: um avanço inevitável para o Brasil


Após mais de dois anos em debate, o Conselho Federal de Medicina (CFM) autorizou o uso da Telemedicina no Brasil, por meio da Resolução 2.227/2018. A proposta ainda está aberta a receber sugestões até o dia 7 de abril, especialmente dos Conselhos Regionais de Medicina (CRMs), de médicos e de outras entidades interessadas. Oficialmente, a norma só entrará em vigor no mês de maio, mas já está despertando dúvidas e muito interesse por parte das administrações públicas e dos próprios profissionais.

Composta por 23 artigos, a regulamentação traz uma série de princípios e regras que devem ser respeitados. Em tese, ela será permitida após consulta presencial inicial ou se o paciente estiver em locais remotos e de difícil acesso. “À medida que mais pacientes se tornam proativos sobre o uso de tecnologia para gerenciar sua saúde, eles também estarão mais abertos a novas alternativas para se cuidar através da telemedicina. É uma evolução natural dos cuidados de saúde no mundo digital. A cada dia, torna-se mais indiscutível a capacidade que ela tem de melhorar a qualidade, a equidade e a acessibilidade”, diz um texto na Resolução apresentando as razões para introduzir o conceito no país.

É inegável que se trata de um inevitável avanço para a medicina brasileira. Aliás, os principais países do mundo já usam o modelo como uma ferramenta de acesso à saúde e para a redução de custos. Além disso, é uma excelente ferramenta para viabilizar os sistemas de saúde e otimizar o tempo médico, gerando benefícios para todos os envolvidos e colocando o Brasil em linha com as boas práticas adotadas por outras nações.

Uma pesquisa realizada pela consultoria Towers Watson mostrou que o potencial de economia da Telemedicina nos Estados Unidos seria de US$ 6 bilhões por ano para as empresas. Na Inglaterra, um programa de telemedicina, que envolveu 6 mil pacientes (sendo 3 mil deles com diabetes, problemas cardiológicos ou pulmonares) e 238 médicos, apontou benefícios para todos os envolvidos. Uma redução de, ao menos, 8% nas tarifas e um potencial de queda de 45% nas taxas de mortalidade; de 20% nas admissões por emergências; de 14% nas consultas eletivas; e de 15% no atendimento a acidentes e emergências.

No entanto, não se trata somente de regulamentar e esperar que o sistema funcione de forma adequada. Os médicos precisam se capacitar para dar conta dessa nova demanda: há uma diferença clara entre querer atuar com a telemedicina e saber fazê-la. Nesse sentido, é preciso um treinamento em diversas frentes por parte dos profissionais, como no uso de equipamentos específicos e em aspectos estruturais para o funcionamento adequado, como em informática e no manejo da internet. De alguma forma, o médico precisa criar contingências e meios para que o paciente receba a melhor assistência possível via vídeo.





Fabio Tiepolo - especialista em tecnologia e ganhou destaque nacional ao lançar o aplicativo médico Docway (www.docway.co).


MARIGHELLA, WAGNER MOURA E A DISTOPIA


        Semana passada, num voto que antes da metade já está sendo classificado como “histórico” por figurinhas do recinto, Celso de Mello, ministro do STF, foi na esteira de Simone Beauvoir para sustentar que não se nasce mulher. Tudo se passaria, creio, como se a linda e cobiçada fêmea da nossa espécie viesse ao mundo com o destino dos pés de couve, pronta para ser cozida, gratinada, frita, ou flambada. Feita ao gosto da freguesia. Agora, inteiro-me sobre o filme que Wagner Moura rodou exaltando Marighella e isso ajudou a fixar, em mim, a ideia de que há uma distopia convivendo conosco. Utopia já é coisa complicada. Utopia pelo avesso, então...
        Entendam-me. Wagner Moura pode filmar a história que quiser. Eu exercitarei minha liberdade de não assistir. Pode fantasiar quanto entender sobre esse terrorista, autor do Minimanual do Guerrilheiro Urbano. Pode apresentá-lo branco, negro ou ruivo, como lhe convier, que eu não me importo. Esquerdistas de meu convívio explicaram-me que isso não é desonestidade intelectual, mas “liberdade de criação artística”. Meu espanto é que denotaria preconceito. Tudo isso me falaram enquanto conversávamos, eu no meu quadrado e eles ali, à porta de sua distopia.
        Quando reconhecemos o que estou descrevendo, que muitos brasileiros vivem num mundo imaginário, etéreo, desconfigurado, os contornos da realidade, paradoxalmente, se alargam. A gente começa a entender por que o auditório de Wagner Moura, distante 10.572 quilômetros da carceragem de Curitiba, ecoou frases de ordem por Lula livre, por que Jean Wyllys foi a Berlim e por que era imperioso mencionar Marielle Franco. Graças à distopia, a OAB é contra Sérgio Moro e os ministros do STF fazem o que fazem. Ela também permite entender o motivo pelo qual crimes praticados por bandidos reais são minimizados pelos mesmos políticos e magistrados que buscam criminalizar a incivilidade de cidadãos comuns, posto que efetivos crimes motivados por preconceito, crimes já são.
A distopia, espreitando à sua porta eu vi, funciona como um grande ventre moedor da história. A tragédia que a esquerda brasileira produziu no Brasil vira um sonho de liberdade que morreu na eleição de outubro passado. É a tristeza imensa das bandeiras vermelhas! Entram fatos e saem símbolos, aqueles são digeridos para que estes sejam produzidos. Mundo afora, milhões de cadáveres são incinerados no anonimato para que uns poucos, os escolhidos, sirvam aos poderes distópicos. Por isso, o filme Trotsky os incomodou tanto, como escrevi em “Trotsky, por que os comunistas detestam o filme”. Bibliotecas inteiras ganham a lixeira do desprezo para que raros fatos, também eles escolhidos, trabalhados na ourivesaria das versões, se convertam em discurso, aula, sermão, vídeo, slogan e filme (sempre à custa de quem vai ser enganado por tais peças).
        Na mesa dos acontecimentos, sabe-se que todas as dezenas de organizações que atuaram na clandestinidade contra os governos militares, entre elas a ALN de Marighella, lutavam pela instalação no país de um regime comunista cuja vitória era buscada com instrumentos de guerrilha e terrorismo. As palavras democracia e liberdade, hoje tão apaixonadamente pronunciadas quando há referências ao período, eram solenes ausências, desprezíveis plataformas burguesas que não apareceram sequer quando os sequestradores do embaixador norte-americano obrigaram o governo a autorizar a leitura de um manifesto em cadeia nacional de rádio e TV. Uma oportunidade de ouro para afirmar compromissos com democracia e liberdade! No entanto, nenhuma dessas palavras é mencionada. O longo texto só fala em luta, assaltos, guerra e violência revolucionária.
        Por isso, nunca houve o mais tênue apoio popular às organizações guerrilheiras e terroristas que hoje produzem esses memoriais distópicos de realidades e motivações que nunca existiram. Não é por acaso que o regime cubano sempre foi referência e que, mesmo depois de criar o inferno na Venezuela, o “bolivarianismo” permanece no altar das devoções.



Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Posts mais acessados