“A morte encefálica é a cessação completa e
irreversível de todas as funções cerebrais, incluindo o tronco encefálico”
O
Brasil enfrenta uma crise de saúde pública com a escalada de casos de
intoxicação por metanol, substância altamente tóxica encontrada em bebidas
alcoólicas adulteradas. Especialista esclarece quanto aos efeitos,
identificação da intoxicação no organismo e quando é aberto o protocolo de
morte encefálica.
Segundo
informações divulgadas no dia 6/10 pelo boletim do Ministério da Saúde, já são
225 notificações, das quais 16 foram confirmadas em todo o país e 209 seguem em
investigação. O número de mortes também preocupa: 15 óbitos estão sob análise,
sendo dois já confirmados em São Paulo.
A
maioria dos casos está concentrada no estado de São Paulo, que responde por 192
registros, incluindo 14 confirmações e 178 investigações em curso. Outros
estados afetados incluem Pernambuco, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio Grande do
Sul, Distrito Federal, Mato Grosso, Rondônia, Rio de Janeiro, Paraíba, Piauí e
Ceará. Os estados da Bahia e Espírito Santo descartaram os casos inicialmente
notificados.
Aspectos técnicos e periciais da intoxicação por metanol
A
médica Caroline Daitx, especialista em medicina legal e perícia médica,
explica que a comprovação da intoxicação é feita por meio de análises
laboratoriais de amostras biológicas, especialmente sangue, utilizando
cromatografia gasosa para detectar metanol e seus metabólitos, como o ácido
fórmico.
Daitx
alerta que os efeitos iniciais do metanol podem ser confundidos com os do
etanol, mas sua toxicidade é muito mais severa. “O metanol é metabolizado em
formaldeído e ácido fórmico, substâncias que causam acidose metabólica grave,
cegueira, danos neurológicos irreversíveis e falência de órgãos. Não existe
dose segura para consumo humano: concentrações acima de 25 mg/dL no sangue já
exigem tratamento intensivo”, enfatiza.
Segundo
ela os casos recentes são atípicos, pois envolvem consumo social de bebidas
variadas, o que indica uma possível adulteração em larga escala ou novos canais
de distribuição clandestina. A especialista reforça a importância da
conscientização pública, da resposta rápida das autoridades e do tratamento
precoce, que pode incluir antídotos e hemodiálise para evitar sequelas graves
como a cegueira.
Casos de morte encefálica e protocolo médico
Entre
os casos mais graves, estão vítimas que evoluíram para morte encefálica, como a
jovem Bruna Araújo de Souza, de 30 anos em São Bernardo do Campo (SP). Ela
morreu após ingerir vodca adulterada com metanol em um bar de São Bernardo do
Campo. Bruna apresentou sintomas no dia seguinte e foi internada em estado
grave. Após a adoção de protocolo de cuidados paliativos, veio a óbito, sendo a
terceira morte confirmada por metanol no estado de São Paulo. O enterro foi
realizado ontem (7/10), no Cemitério Memorial Jardim Santo André, na Região
Metropolitana de São Paulo.
Um
homem de 47 anos, internado no Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF) com
suspeita de intoxicação por metanol, apresentou quadro compatível com morte
encefálica na noite de segunda-feira (6/10). A informação foi confirmada pela
Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) e repassada pelo CIATox-DF. O
caso ainda aguarda confirmação oficial do Instituto de Gestão Estratégica de
Saúde do DF (Iges-DF), responsável pela administração do hospital.
A perita esclarece que a morte encefálica é a cessação completa e irreversível de todas as funções cerebrais, incluindo o tronco encefálico. “O diagnóstico exige exame neurológico rigoroso, ausência de reflexos do tronco cerebral, falta de respiração espontânea e testes confirmatórios como eletroencefalograma (EEG) ou doppler transcraniano para verificar a ausência de fluxo sanguíneo cerebral”.
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