Com implantação até 2032, novo sistema promete modernizar ambiente de negócios e aumentar a competitividade, mas mudança deve afetar da formação de preços à estrutura operacional. Leandro Cossalter, da Ecovis, dá as dicas para evitar ou minimizar esses efeitos
Se a reforma tributária promete simplificar o sistema de impostos,
modernizar o ambiente de negócios no Brasil, promover eficiência econômica e
garantir justiça fiscal, ao mesmo tempo impõe uma série de desafios complexos
para as empresas. A transição para o novo modelo, que introduz os tributos
CBS e IBS e deve ocorrer até 2032, exigirá planejamento, investimento e
adaptação tecnológica - um processo que, na prática, pode ser bem mais complexo
e desafiador do que o previsto.
Entre os principais obstáculos está o
aumento temporário da carga tributária, já que o atual e novo regime
funcionarão juntos durante o período de transição - o que deve gerar impactos
diretos no fluxo de caixa, segundo o especialista em tributação Leandro
Cossalter, head of tax da Ecovis, que falou sobre o tema no recente Latam
Retail Show, realizado na capital paulista.
Estimativas da consultoria indicam que
até 93% das empresas podem enfrentar elevação dos custos ou desequilíbrios
financeiros durante os primeiros anos de adaptação. Isso ocorre porque a nova
metodologia de crédito e débito tributário só permitirá compensações após o
efetivo pagamento ao fornecedor, alterando o ciclo financeiro de muitos
negócios, explica.
Outro desafio é a complexidade
operacional da transição. O período em que o sistema atual coexistirá com o
novo exigirá que as empresas mantenham estruturas paralelas de apuração - o que
multiplica obrigações acessórias e custos administrativos.
"Há cálculos que indicam que hoje
uma empresa já precisa lidar com mais de 1,3 mil obrigações tributárias, um
número que tende a crescer até que a reforma esteja totalmente
implementada", destaca Cossalter.
Além disso, há incertezas regulatórias.
Com mais de 500 artigos na PEC principal, e dezenas de normas complementares
ainda pendentes, a falta de clareza pode gerar insegurança jurídica e frear
investimentos no curto prazo.
“É como trocar o pneu de dois carros em
movimento ao mesmo tempo. Por isso as empresas têm que começar desde já a
mapear riscos, investir em governança tributária e capacitar suas equipes para
atravessar a transição da melhor forma."
A seguir, o especialista destaca sete
pontos essenciais para empresas se prepararem de forma estratégica para as
mudanças:
1 - DIAGNÓSTICO DO CENÁRIO ATUAL
O primeiro passo é saber quanto o custo
tributário representa no negócio: muitas empresas não têm clareza sobre o peso
real dos impostos em suas operações e na formação de preços - o que impede uma
avaliação correta dos impactos da reforma.
É preciso mapear os principais tributos
incidentes sobre produtos, fornecedores, clientes e concorrentes para
identificar vulnerabilidades e oportunidades. "Se alguém perguntasse hoje
quanto o custo tributário representa do seu negócio, você conseguiria
responder? Se a resposta for 'não', sua empresa já enfrenta um grande
problema", alerta Cossalter.
2 - QUANTO A REFORMA VAI IMPACTAR
FINANCEIRAMENTE
Com as novas regras, preços, custos e
fluxo de caixa podem mudar significativamente. A empresa deve realizar
simulações para entender como CBS e IBS - os tributos que substituirão parte
dos atuais - afetarão margem de lucro, competitividade e gestão financeira.
"Ignorar essa análise pode gerar desequilíbrio nas contas e a perda dessa
competitividade", destaca.
3 - O SEU TIME ESTÁ CAPACITADO?
O especialista da Ecovis reforça: o
período de transição exigirá conhecimento técnico e agilidade já que, durante
seis anos, o sistema atual e o novo modelo tributário funcionarão
simultaneamente. Tudo isso, afirma, demandará profissionais capacitados para
lidar com as novas obrigações acessórias, adaptações de sistemas e atualizações
constantes nas regras.
4 - COMO ESTÁ A TECNOLOGIA
Os sistemas de gestão (ERP) precisam
estar prontos para operar com os novos tributos, por isso é fundamental que as
empresas cobrem de seus fornecedores tecnológicos a atualização das
plataformas, testem os novos ambientes e calculem os custos dessa adaptação.
Entre 2026 e 2032, os sistemas terão de processar tanto os tributos antigos
quanto a CBS e o IBS, o que deve dificultar o processo - tal "a troca de
pneus de dois carros em movimento", conforme citado por Cossalter.
5 - MAPEAMENTO DO MERCADO
A reforma muda o local de incidência
dos impostos - que passarão a ser cobrados no destino, e não mais na origem.
Por isso, além de criar um comitê para mapear os riscos, será preciso se
antecipar a questões que ainda não foram totalmente regulamentadas, como a
alíquota-teste, que será aplicada em 2026, e a incidência dos tributos IBS e
CBS.
De acordo com o especialista, o
objetivo é entender quais os possíveis benefícios que vão influenciar seu
negócio, mapeando a cadeia de fornecimento devido ao risco de troca de
fornecedores com a mudança da cobrança de tributos no destino e não mais na
origem. "Será necessário avaliar se fornecedores e clientes
continuarão sendo vantajosos e como isso causará alterações na competitividade
regional", orienta, recomendando a criação de um comitê de risco e
estratégia tributária.
6 - PARA ONDE MINHA EMPRESA VAI?
Com base nos estudos anteriores, é hora
de repensar o modelo de negócios: a localização da empresa ainda é vantajosa?
Vale manter a estrutura atual ou descentralizar operações? Cossalter alerta que
decisões sobre verticalização, terceirização ou mudanças societárias precisarão
considerar os créditos tributários e os novos incentivos regionais.
7 - IMPLANTAÇÃO E GOVERNANÇA
A etapa final envolve tirar o plano do
papel com uma governança tributária sólida. É o momento de definir
responsáveis, capacitar gestores, criar um cronograma de transição e monitorar
constantemente o mercado.
“Com uma governança tributária estratégica, a empresa poderá tomar as decisões, mesmo que doloridas, para adaptar os negócios à implantação da reforma tributária. Assim, a transição tende a ser tranquila", sinaliza Cossalter, reforçando que o caminho é longo e que a reforma envolve 500 artigos e dezenas de normas complementares ainda em discussão.
Karina Lignell
https://www.dcomercio.com.br/publicacao/s/7-pontos-da-reforma-tributaria-que-podem-mexer-com-o-futuro-da-sua-empresa
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