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quinta-feira, 30 de outubro de 2025

Dependência de combustíveis fósseis custa vidas e bilhões ao Brasil, alerta The Lancet

Relatório internacional de revista referência em Medicina mostra que a poluição do ar ligada a combustíveis fósseis provoca mais de 63 mil mortes prematuras no país por ano; Secas, incêndios e perdas de produtividade agravam impacto econômico da crise climática. 


O novo relatório The Lancet Countdown on Health and Climate Change 2025 revela um quadro alarmante para o Brasil: a combinação entre aquecimento global e dependência de combustíveis fósseis está comprometendo a saúde, a economia e o futuro da população. Segundo o estudo, mais de 63 mil brasileiros morrem todos os anos por poluição atmosférica, das quais 24 mil estão diretamente ligadas à queima de carvão, petróleo e gás. 

Em 2022, o valor monetário das mortes prematuras causadas pela poluição do ar no Brasil foi de R$ 268 bilhões (US$ 50 bilhões), o equivalente a 2,4% do produto interno bruto (PIB). 

A seca extrema se expandiu quase dez vezes desde a década de 1950 — hoje, 72% do território brasileiro enfrentam pelo menos um mês de seca severa por ano. Além disso, a exposição à fumaça de queimadas está associada a 7.700 mortes anuais no país, e o risco de incêndios florestais aumentou 10% na última década. 

O impacto econômico do calor é expressivo: 6,7 bilhões de horas potenciais de trabalho foram perdidas em 2024, principalmente nos setores de agricultura e construção, resultando em perdas estimadas em R$ 91 bilhões (US$ 17,7 bilhões), o que representa quase 1% do PIB. 

“O levantamento deste ano traça um retrato sombrio e inegável dos danos à saúde em todo o mundo — com recordes de calor, eventos extremos e fumaça de incêndios florestais ceifando milhões de vidas. A destruição de vidas e meios de subsistência continuará a crescer enquanto não superarmos nossa dependência dos combustíveis fósseis e acelerarmos a adaptação”, alertou Marina Romanello, diretora-executiva do Lancet Countdown na University College London.
 

Transição atrasada

O relatório também mostra que o atraso na transição energética tem alto custo social: em 2023, o Brasil teve receita líquida negativa de carbono, destinando R$ 24 bilhões (US$ 4,6 bilhões) para subsídios fósseis — valor superior à arrecadação com qualquer política de precificação de carbono. 

Embora as emissões de CO₂ provenientes da queima de combustíveis fósseis tenham caído 1,5% entre 2016 e 2022, 77% da energia usada no transporte ainda vem de fontes fósseis, e a eletrificação da frota ainda está em estágio inicial. 

“Já temos as soluções para evitar uma catástrofe climática — e comunidades e governos locais em todo o mundo estão provando que o progresso é possível. Mas precisamos manter o ritmo. Encerrar rapidamente o uso de combustíveis fósseis continua sendo a alavanca mais poderosa para desacelerar o aquecimento e proteger vidas”, afirmou Romanello. 

“O aumento da acessibilidade e da competitividade da energia limpa é uma oportunidade para reduzir os danos à saúde causados pelos combustíveis fósseis e redirecionar subsídios para um futuro mais saudável”, disse Romanello. 

Outros indicadores reforçam a vulnerabilidade do país: o potencial de transmissão de dengue por mosquitos Aedes aegypti aumentou 30% desde a década de 1950, e 1,08 milhão de pessoas já vivem a menos de 1 metro acima do nível do mar, em áreas suscetíveis à elevação oceânica. A temperatura da superfície do mar na costa brasileira subiu 0,65 °C em relação à média de 1981-2010, ameaçando ecossistemas e cadeias pesqueiras. 

O relatório latino-americano, também publicado nesta terça-feira (29), reforça a escalada de riscos e desigualdades regionais. Stella Hartinger, diretora do Lancet Countdown Latin America, destacou: 

“Estamos vendo impactos múltiplos que se somam e geram uma cascata de danos que enfraquecem as bases sociais e econômicas da saúde. Esses prejuízos são o preço da omissão prolongada dos líderes globais — pago de forma mais severa por países vulneráveis que menos contribuíram para a crise.” 

O estudo conclui que os custos humanos e econômicos da inação climática são cada vez mais evidentes, e que investir em energias limpas, agricultura sustentável e adaptação urbana é essencial para salvar vidas e fortalecer a economia.
 


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