Relatório internacional de revista referência em Medicina mostra que a poluição do ar ligada a combustíveis fósseis provoca mais de 63 mil mortes prematuras no país por ano; Secas, incêndios e perdas de produtividade agravam impacto econômico da crise climática.
O novo
relatório The Lancet Countdown on Health and Climate Change 2025 revela
um quadro alarmante para o Brasil: a combinação entre aquecimento global e
dependência de combustíveis fósseis está comprometendo a saúde, a economia e o
futuro da população. Segundo o estudo, mais de 63 mil brasileiros morrem todos
os anos por poluição atmosférica, das quais 24 mil estão diretamente ligadas à
queima de carvão, petróleo e gás.
Em 2022, o
valor monetário das mortes prematuras causadas pela poluição do ar no Brasil
foi de R$ 268 bilhões (US$ 50 bilhões), o equivalente a 2,4% do produto interno
bruto (PIB).
A seca
extrema se expandiu quase dez vezes desde a década de 1950 — hoje, 72% do
território brasileiro enfrentam pelo menos um mês de seca severa por ano. Além
disso, a exposição à fumaça de queimadas está associada a 7.700 mortes anuais
no país, e o risco de incêndios florestais aumentou 10% na última década.
O impacto
econômico do calor é expressivo: 6,7 bilhões de horas potenciais de trabalho
foram perdidas em 2024, principalmente nos setores de agricultura e construção,
resultando em perdas estimadas em R$ 91 bilhões (US$ 17,7 bilhões), o que
representa quase 1% do PIB.
“O levantamento deste ano traça um retrato sombrio e inegável dos
danos à saúde em todo o mundo — com recordes de calor, eventos extremos e
fumaça de incêndios florestais ceifando milhões de vidas. A destruição de vidas
e meios de subsistência continuará a crescer enquanto não superarmos nossa
dependência dos combustíveis fósseis e acelerarmos a adaptação”, alertou Marina Romanello,
diretora-executiva do Lancet Countdown na University College London.
Transição
atrasada
O relatório
também mostra que o atraso na transição energética tem alto custo social: em
2023, o Brasil teve receita líquida negativa de carbono, destinando R$ 24
bilhões (US$ 4,6 bilhões) para subsídios fósseis — valor superior à arrecadação
com qualquer política de precificação de carbono.
Embora as
emissões de CO₂ provenientes da queima de combustíveis fósseis tenham caído
1,5% entre 2016 e 2022, 77% da energia usada no transporte ainda vem de fontes
fósseis, e a eletrificação da frota ainda está em estágio inicial.
“Já temos as soluções para evitar uma catástrofe climática — e
comunidades e governos locais em todo o mundo estão provando que o progresso é
possível. Mas precisamos manter o ritmo. Encerrar rapidamente o uso de
combustíveis fósseis continua sendo a alavanca mais poderosa para desacelerar o
aquecimento e proteger vidas”, afirmou Romanello.
“O aumento da acessibilidade e da competitividade da energia limpa
é uma oportunidade para reduzir os danos à saúde causados pelos combustíveis
fósseis e redirecionar subsídios para um futuro mais saudável”, disse
Romanello.
Outros
indicadores reforçam a vulnerabilidade do país: o potencial de transmissão de
dengue por mosquitos Aedes aegypti aumentou 30% desde a década de 1950, e 1,08
milhão de pessoas já vivem a menos de 1 metro acima do nível do mar, em áreas
suscetíveis à elevação oceânica. A temperatura da superfície do mar na costa
brasileira subiu 0,65 °C em relação à média de 1981-2010, ameaçando
ecossistemas e cadeias pesqueiras.
O relatório
latino-americano, também publicado nesta terça-feira (29), reforça a escalada
de riscos e desigualdades regionais. Stella Hartinger, diretora do Lancet
Countdown Latin America, destacou:
“Estamos vendo impactos múltiplos que se somam e geram uma cascata
de danos que enfraquecem as bases sociais e econômicas da saúde. Esses
prejuízos são o preço da omissão prolongada dos líderes globais — pago de forma
mais severa por países vulneráveis que menos contribuíram para a crise.”
O estudo
conclui que os custos humanos e econômicos da inação climática são cada vez
mais evidentes, e que investir em energias limpas, agricultura sustentável e
adaptação urbana é essencial para salvar vidas e fortalecer a economia.
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