OPINIÃO
A sustentabilidade na engenharia civil tem sido
cada vez mais imprescindível. Não à toa, a construção e operação de edifícios
representam hoje uma parcela significativa das emissões de carbono - cerca de
30% delas ocorrem na fase de construção e todo o restante durante a operação.
Por conta disso, é um setor que tem sido bastante debatido nas discussões
globais sobre mitigação climática e a busca por soluções mais eficientes e
sustentáveis.
Governos e organizações de todo o mundo têm
impulsionado políticas de incentivo para práticas sustentáveis desde o início
dos projetos de construção, como a implementação de sistemas de gestão de
energia (BMS), que possibilitam o controle otimizado dos recursos energéticos,
contribuindo para a redução das emissões.
Entretanto, mesmo com essas iniciativas, a
construção sustentável ainda enfrenta grandes desafios. Compensações de
carbono, a propósito, são alternativas adotadas frequentemente pelas
organizações para mitigar as emissões inevitáveis dessa etapa, embora seja na
operação dos edifícios que o potencial de transformação se amplie, com a
eficiência energética se destacando como a principal solução.
Na fase de operação de um edifício, já é possível
diminuir as emissões de carbono. 90% delas podem ser eliminadas por meio de
tecnologias avançadas de automação predial, modernização de sistemas de
climatização e uso de fontes de energia renovável, como a solar e a eólica.
Isso nos mostra como a eletrificação e a digitalização são capazes de criar uma
operação mais eficiente e sustentável.
Outro elemento fundamental é o uso de sensores e da
automação para aprimorar o consumo energético conforme a ocupação e o uso dos
espaços. Esses dispositivos ajustam automaticamente a iluminação e a
climatização com base no número de pessoas em uma sala, melhorando a eficiência
dos edifícios e colaborando diretamente para a sustentabilidade no longo prazo.
No Brasil, ainda enfrentamos obstáculos específicos
quando falamos de construção sustentável. Embora muitas novas construções -
especialmente em grandes centros como São Paulo - busquem certificações de
sustentabilidade, como o LEED, a modernização dos edifícios mais antigos
permanece uma barreira significativa.
Boa parte desses prédios foi construída com
tecnologias obsoletas e pouco eficientes em termos energéticos, porém essa
modernização é viável e indispensável. Esse processo, inclusive, pode começar
com a implementação de sistemas de automação e a substituição de tecnologias
desatualizadas.
Uma solução promissora para a sustentabilidade na
operação dos edifícios é o uso de microrredes (microgrids), que permitem a
geração local de energia limpa. Além de reduzir as emissões de carbono, essa
tecnologia traz maior independência energética para os edifícios e propicia que
o excedente de energia seja reintegrado à rede elétrica, gerando créditos aos
proprietários dos edifícios.
A sustentabilidade na construção civil não deve ser
encarada apenas como uma tendência, e sim como uma necessidade que está
diretamente conectada com o futuro do planeta. Organizações e governos estão
cada vez mais conscientes de que, somada aos benefícios ambientais, a
eficiência energética proporciona vantagens econômicas significativas.
No Brasil, baixar custos é uma prioridade, e a
eficiência energética se provou uma das maneiras mais eficazes de alcançar essa
meta - por mais que ainda exista muito trabalho a ser feito nesse sentido. Para
que essa transformação ocorra de forma mais rápida e efetiva, é essencial que
as políticas públicas acompanhem essa evolução da tecnologia.
Certificações de eficiência energética para
edifícios, que já são obrigatórias em diversos países da Europa, precisam ser
fortalecidas também no Brasil, incentivando a automação predial e o uso de
energias renováveis. A matriz energética predominantemente hidrelétrica do
Brasil já oferece uma base favorável, mas é importante que novos projetos e
modernizações sigam um caminho claro em direção à sustentabilidade.
Patrícia Cavalcanti - diretora de Digital Energy e Power Products na Schneider Electric para a América do Sul.
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