Mais de 70 mil novos casos de câncer de
mama são estimados no Brasil em 2024. Das mulheres diagnosticadas, 70% lidam
com o abandono dos parceiros durante o tratamento, segundo o Instituto Nacional
do Câncer (INCA).
O peso de conviver com o diagnóstico,
as mudanças físicas que vêm com ele e, ainda, com esse abandono, fragiliza a
saúde mental dessas mulheres que, conforme aponta a profissional da área de
Psicologia do AmorSaúde, Helen Limões, pode acarretar em consequências ainda
mais graves. “O sofrimento emocional pode se tornar maior do que o sofrimento
físico, o que gera um impacto negativo no tratamento, pois pode levar a um
quadro depressivo, retardando os resultados do tratamento com quimioterapia
e/ou radioterapia”, explica.
Causas e consequências do abandono
Para a profissional, existem fatores
sociais e culturais que podem influenciar na decisão de abandonar suas
parceiras em tratamento. Um deles diz respeito à diferença nos cuidados entre
os gêneros. “Quando o marido adoece, a mulher está sempre presente, e muitas
vezes sabe mais sobre a doença do que o próprio marido. Quando a situação se
inverte, há uma falta de reciprocidade e empatia dos homens no tratamento de
suas esposas adoecidas, na maioria dos casos”, relata.
“O câncer em si mexe com a autoestima
da mulher, e lidar com a situação de abandono durante o tratamento intensifica
ainda mais o sentimento de desvalorização e rejeição”, explica Helen. Ela
ressalta que os impactos na saúde mental da mulher com câncer podem ser
refletidos em tristeza, irritabilidade constante, crises súbitas de choro,
isolamento social, perda de apetite e falta de esperança.
Rede de apoio: um dos tratamentos mais
importantes
Dados da Comissão de Estudos e Pesquisa
da Saúde Mental da Mulher da ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria) indicam
que uma em cada quatro mulheres que recebem diagnóstico de câncer de mama
acabam tendo mais chances de desenvolver um quadro de depressão.
Assim, a rede de apoio representa um
papel fundamental no tratamento dessas pacientes, que precisam de segurança e
acolhimento nesse momento. “A relação entre saúde mental e o câncer ameniza a
trajetória da paciente durante o enfrentamento da doença. Além disso, favorece
a adesão às terapias e aumenta as chances de sucesso do tratamento”, frisa
Helen.
Essa ajuda pode vir de pessoas ou grupos,
como família, amigos, vizinhos. Contudo, organizações e sistemas de saúde
também representam redes seguras para as mulheres que precisam desse auxílio
emocional durante o tratamento. “O apoio social pode vir através da companhia
em consultas e sessões de tratamento, compartilhando questões pessoais, dando
apoio emocional e nas atividades cotidianas”, pontua a profissional do
AmorSaúde.
Existem casos de pacientes que não têm
redes de apoio familiares ou pessoas próximas. Helen salienta que há outros
meios de apaziguar a solidão dessas mulheres, de forma a trazer mais qualidade
em relação à saúde mental.
“Neste caso o apoio social virá da
equipe multidisciplinar. Essa rede de apoio pode ajudar a reduzir o sentimento
de solidão, fortalecer a resiliência dessas mulheres e auxiliá-las na jornada
da recuperação”, diz a profissional. Segundo ela, outra forma de se buscar essa
rede é por meio de entidades sem fins lucrativos que ajudam gratuitamente os
portadores de câncer e suas famílias.
O papel crucial dos profissionais de
saúde
Para além dos familiares e também dos tratamentos médicos, os profissionais de saúde podem contribuir significativamente com a saúde mental da mulher em tratamento. Helen comenta que a equipe médica envolvida também deve fazer parte da rede de apoio.
“Isso pode ser feito através do acolhimento da paciente, orientando, informando e usando o seu conhecimento para que os momentos dessa travessia (diagnóstico, tratamento e estabilização da doença) transcorra de forma sustentável e humanizada, reestruturando e encontrando estratégias funcionais para enfrentar o estigma da doença e todo o seu tratamento”, finaliza.
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