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quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Até que a velhice os separ


As pessoas idosas nem sempre sabem se o que vivem, à medida que envelhecem, é normal. O envelhecimento gera alterações fisiológicas, algumas indesejáveis, mas, são consideradas normais. Entretanto, o envelhecimento não é igual em todas as pessoas idosas. Hábitos de saúde e bem-estar e, evitar comportamentos de risco podem deixar idosos menos propensos a desenvolverem doenças e certos distúrbios. Nesse sentido, os hábitos executados pela pessoa idosa são determinantes para a promoção do envelhecimento saudável. Além da rotina equilibrada e do impacto social dos idosos, existem diferenças entre homens e mulheres no processo de envelhecimento face ao declínio dos hormônios sexuais. 

A primeira delas está na ação dos hormônios ovarianos na função cerebral e na cognição, podendo gerar alteração na capacidade de concentração, memória e até declínio da função cognitiva. As funções cognitivas femininas nas tarefas verbais são melhores nas mulheres em relações aos homens, embora a incidência de diagnósticos de demência seja maior nas mesmas. 

Outra diferença que ocorre entre homens idosos e mulheres idosas está no âmbito socioeconômico. Enquanto os homens sofrem com a aposentadoria e a repercussão sobre o status social ligado ao patriarcado, as mulheres descobrem, ao envelhecer, a oportunidade de buscar a realização pessoal fora dos círculos familiares e domésticos. As mulheres idosas possuem um aproveitamento muito maior da sua longevidade, em busca de novas descobertas e do bem viver. 

Ainda no âmbito da saúde, a diferença no quesito comportamental também se faz presente. Os homens possuem muita resistência à busca pelo profissional de saúde e pelo autocuidado, talvez por se sentirem vulneráveis e não corresponderem às expectativas sociais. E nisso, cabe conscientização. Já as mulheres trazem consigo o cuidado como algo natural.

Isso é algo cultural e se reflete, inclusive, nas estatísticas de longevidade, que são maiores nas mulheres. Vale lembrar que, pelos dados do IBGE, divulgados no final de 2023, uma pessoa nascida no Brasil em 2022 tinha expectativa de viver, em média, até os 75,5 anos. Para os homens, esta expectativa era de 72 anos e, para as mulheres, de 79 anos. 
 

Porém, um vilão que compromete a autoestima das mulheres idosas é a estética, sendo a pele o principal órgão que sofre impacto pelo declínio das funções hormonais. Após os 30 anos, há perda progressiva de colágeno e, após a menopausa, essa taxa diminui ainda mais, fazendo com que elas tenham rugas bem mais cedo do que os homens. Talvez mesmo por causa desta desvantagem tegumentar, as mulheres idosas são mais propensas ao autocuidado da pele, inclusive, para usar proteção solar, do que os homens. 

A massa muscular e a massa adiposa também são fatores que se modificam em pessoas idosas. A chamada sarcopenia, que é a perda de massa muscular, e a redistribuição do tecido adiposo alteram o peso e a estética corporal. Aliadas à menopausa, tais modificações podem levar a problemas ósseos, muito maiores nas mulheres do que nos homens. 

O quadro é diverso e há vantagens e desvantagens agravadas por cada gênero e realidade social. Mas, diante disso, o que podemos fazer enquanto profissionais de saúde? Acompanhar sistematicamente as pessoas idosas é um ótimo caminho. Seja no consultório ou em visitas domiciliares, a fim de compreender o modus operandi e o estilo de vida adotado por estes cidadãos, de acordo com cada realidade. 

Outras ações do profissional de saúde são as atividades educativas: orientar sobre cuidados com a pele, sobre a prática de atividade física, sobre a adoção de hábitos de vida saudáveis e no estímulo das funções cognitivas, por meio de trabalhos manuais e iniciativas lúdicas. 

Estas ações podem ser feitas nas instituições de saúde, em comunidade e, se possível, junto da família, com cerco de afeto e compreensão. Esta é uma ótima oportunidade para ressignificar o entendimento sobre os costumes e peculiaridades de cada idoso - homem ou mulher - e estimular a mudança para construir a qualidade de vida que ainda precisam.

 

Janaína Pinto Janini - Enfermeira, professora do Centro Universitário IBMR e consultora ad hoc em Atenção à Saúde da Mulher, do Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro (Coren-RJ).

 

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