Especialistas do Hospital Pequeno Príncipe
explicam ligação entre o neurodesenvolvimento e o crescimento ósseo adequado da
faceCrédito: Wynetow Butenas
O aleitamento materno é
uma prática fundamental para o desenvolvimento de bebês e crianças pequenas. O
leite é conhecido como a “primeira vacina”, já que contém anticorpos e outras
substâncias que protegem recém-nascidos de infecções, além de prevenir o
surgimento de doenças crônicas. Na Semana Mundial do Aleitamento Materno, o
Pequeno Príncipe, maior hospital exclusivamente pediátrico do país, alerta para
outros benefícios como o desenvolvimento neurológico e das funções da face.
Segundo
o chefe do Serviço de Neurologia da instituição, Alfredo Löhr Junior, o leite
materno aumenta o QI (quociente de inteligência) no período escolar e melhora o
comportamento adaptativo, sendo o conjunto de habilidades sociais, práticas e
conceituais que são aprendidas e executadas em atividades diárias.
De
acordo com um estudo do Hospital Infantil de Los Angeles, o carboidrato 2’FL,
presente no leite materno, é um dos responsáveis por evoluir o neurodesenvolvimento.
Durante as análises, os pesquisadores perceberam que a exposição precoce – no
primeiro mês de vida – à substância gerou mais benefícios ao desenvolvimento
cognitivo em comparação à produção de leite aos 6 meses. Isso acontece porque as
mães produzem uma quantidade maior do carboidrato para o consumo dos bebês no
primeiro mês de vida.
Löhr
Junior destaca ainda que estudos recentes na literatura médica revelaram que o
ácido araquidônico e gorduras de cadeia poli-insaturada, encontrados no leite
materno, são responsáveis pelo aumento da substância branca e da massa cinzenta
do cérebro. Juntas elas compõem o sistema nervoso central, que atua na
percepção e funcionamento do corpo na realização de atividades como raciocínio,
memória e locomoção.
A
massa cinzenta é responsável pela inteligência, processamento de linguagem,
personalidade e função motora. Já a substância branca está relacionada com o
aprendizado e as funções cerebrais, além da coordenação da comunicação entre as
diferentes áreas da massa cinzenta. “Esse aumento do QI e no desenvolvimento da
linguagem é verificado, principalmente, em crianças que receberam aleitamento
materno exclusivo nos primeiros 6 meses de vida”, detalha o neurologista.
Desenvolvimento
da face
Mais
uma função do aleitamento
materno é o desenvolvimento craniofacial e suas funções, como a
mastigação, fala, respiração e alinhamento dos dentes. Isso acontece porque é
por meio da sucção que o amadurecimento muscular ocorre.
“A
criança que mama no peito vai desenvolver melhor todos os músculos da face e
ter um melhor processo de desenvolvimento também das estruturas duras, como o
palato duro e mole, e o direcionamento dos dentes. Consequentemente teremos um
melhor prognóstico no posicionamento de língua e dentes, favorecendo um melhor
padrão de fala no futuro”, explica Cibele Cagliari, fonoaudióloga do Hospital
Pequeno Príncipe.
O
ato de sugar no peito também promove a coordenação entre a sucção, a respiração
e a deglutição; aprimora a mobilidade, postura e tonicidade da musculatura
facial; e proporciona um crescimento ósseo mais adequado e simétrico,
principalmente das mandíbulas e maxilas, fazendo com que o rosto se torne mais
harmônico. Por isso, o desmame precoce leva a uma interrupção do
desenvolvimento adequado.
Quando
não é possível
Existem
casos em que a mulher não pode amamentar. Entre as causas estão acontecimentos
emocionais, sociais e fisiológicos, como doenças que acometem a mãe ou o
recém-nascido, preocupações e estresse. Especialistas explicam que nessas situações
é possível estimular o desenvolvimento de outras formas, com o uso do copinho e
mamadeira.
Segundo
Cibele, na inviabilidade do aleitamento materno, devemos buscar sempre uma
estratégia que beneficie o crescimento das estruturas craniofaciais, como bicos
de mamadeira com um furo que ofereça um controle menor de fluxo. “Desta forma,
a criança fará um esforço para sugar mais próximo do que é realizado no bico do
peito. O aleitamento exige um esforço, e a gente espera que na mamadeira isso
seja similar”, realça.
Em
relação ao neurodesenvolvimento, o Löhr Junior lembra que o desenvolvimento de
uma pessoa está ligado à nutrição adequada e à genética, além do ambiente em
que ela está inserida. “Na genética não temos como intervir no momento, mas na
nutrição sim. No ambiente, podemos estimular o bebê desde o nascimento com
incentivos visuais, sonoros – como a fala, música –, assim como estímulos
táteis”, explica.
Depois
do 6.º mês, quando o leite deixa de ser alimento exclusivo, deve-se priorizar a
introdução de alimentos ricos em vitaminais, proteínas, fibras, minerais e
gorduras boas. Outro ponto que requer atenção é que as refeições sejam feitas
em um ambiente calmo, sem TVs ou celulares, para que a relação com a comida
seja criada.
É
importante ressaltar que, para mulheres que amamentam ou não, o apoio da
família e amigos é essencial, já que – principalmente – no puerpério a mãe
experimenta modificações físicas e psíquicas.
Agosto
Dourado
Por
ano, cerca de seis milhões de vidas são salvas devido ao aumento das taxas de
aleitamento exclusivo até o sexto mês de vida, conforme dados da Organização
Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas
para a Infância (UNICEF). A recomendação da Organização Pan-Americana da Saúde
(OPAS) é que a amamentação seja iniciada nos primeiros 60 minutos de vida,
reduzindo os riscos de mortalidade neonatal – aquela que acontece até o 28.º
dia de vida.
Agosto
Dourado é o mês
que simboliza a luta pelo esclarecimento e a importância da amamentação. Por
isso, neste período, é importante reforçar que o aleitamento materno é direito
de todas as mães – seja em casa, no trabalho e quando estão privadas de
liberdade – e do bebê.
Com
o tema “Fortalecer a amamentação: educando e apoiando”, a Semana Mundial de Aleitamento Materno
de 2022 reforça a necessidade do conhecimento da sociedade
sobre como oferecer as melhores condições para as mães que amamentam, além de
ter uma rede de apoio.
A
data é uma iniciativa da Aliança Mundial para Ação de Aleitamento Materno (WABA,
sigla em inglês), órgão consultivo do Fundo de Emergência Internacional das
Nações Unidas para a Infância (UNICEF). O objetivo é proteger, promover e
apoiar o aleitamento materno em todo o mundo. Desde 2016, a instituição alinha
a campanha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações
Unidas.
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