Levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica aponta que entre janeiro de 2020 e junho de 2022 ao menos 53 mil cirurgias oncológicas deixaram de ser realizados no SUS. Entidade também alerta para grande redução do número de biópsias de mama e próstata e dos exames de rastreamento de câncer colorretal (colonoscopia) e colo do útero (Papanicolau). Para conscientizar a população e gestores de saúde, a SBCO reforça a campanha "Não dá para esperar. Cuide-se. O câncer não ficou de quarentena"
Somando o represamento dos anos de 2020 e 2021 e o
primeiro semestre de 2022 – tendo como base o ano de 2019 (o último antes da
pandemia) - são 53.815 cirurgias oncológicas que deixaram de ser realizadas
durante a pandemia no Sistema Único de Saúde. “O maior complicador é que não
houve redução do número de casos de câncer. O que ocorreu foi o represamento
destas cirurgias. E muitas, que foram realizadas, chegaram para em fase mais avançada”,
alerta o cirurgião oncológico e presidente da SBCO, Héber Salvador.
O especialista observa que os pacientes estão
chegando com tumores maiores e mais agressivos, o que exige procedimentos mais
extensos e qualificação profissional. Embora o panorama esteja melhorando, por
conta da queda dos números da pandemia e avanço da imunização contra Covid-19,
é missão da SBCO trabalhar pela retomada dos cuidados e exames periódicos e que
a população tenha, em dia, a sua mamografia, toque retal, colonoscopia, dentre
outros exames de rastreamento, assim como os meninos e meninas vacinados contra
o vírus HPV.
Até 2040, a demanda
por cirurgias relacionadas ao câncer, segundo estudo publicado
na revista The Lancet, deve aumentar 52%, chegando a 13,8 milhões de procedimentos
nos próximos 20 anos. Para dar conta desse cenário, estima-se que quase 200 mil
cirurgiões e 87 mil anestesistas adicionais sejam necessários para cumprir o
desafio. Além disso, também será preciso melhorar sistemas de
saúde para evitar mortes decorrentes de complicações pós-operatórias.
QUEDA DOS EXAMES DE RASTREAMENTO DE CÂNCER
A estimativa do Instituto Nacional de Câncer
(INCA), anunciada antes da pandemia, era que seriam registrados 626 mil novos
casos de câncer por ano no Brasil no triênio 2020/2022. Os dados levantados no
DataSUS apontam que, exclusivamente no sistema público, foram 351 mil novos
casos diagnosticados em 2020 e 368 mil novos casos em 2021. Antes da pandemia,
em 2019, foram 386.485 novos casos.
A SBCO, a partir do TABNET/DataSUS, levantou como a
Covid-19 refletiu no rastreamento de câncer. O programa de screening,
denominado no Brasil como rastreamento, é o conjunto de métodos aplicados para
o diagnóstico precoce do câncer ou descoberta de lesões
pré-cancerosas em determinada população que não apresenta sinais ou sintomas
de câncer. Como base nisso, a entidade levantou os dados de biópsias de
mama e próstata, assim como de colonoscopia e Papanicolau.
Foram realizadas 43.045 biópsias de mama em 2019,
caindo para 34.889 em 2020 e uma retomada em 2021 para 41.005, refletindo em
10.186 biópsias a menos nos dois primeiros anos da pandemia. No mesmo período,
houve o represamento de 14.123 biópsias de próstata. Essenciais para retirar
lesões pré-malignas no intestino grosso, foram 148.111 colonoscopias represadas
no período. Já o exame de Papanicolau, por conta de seu volume de procedimento,
registrou a mais alarmante: mais de 2,2 milhões de exames a menos em 2020 e
2021.
|
2019 |
2020 |
2021 |
Total represado em 2020/2021 |
Biópsias de mama |
43.045 |
34.889 |
41.005 |
10.186 |
Biópsias de próstata |
40.408 |
31.888 |
34.805 |
14.123 |
Colonoscopia |
347.098 |
241.329 |
304.756 |
148.111 |
Papanicolau |
3.286.173 |
1.893.794 |
2.471.989 |
2.206.563 |
UM PROBLEMA QUE SE FAZIA PRESENTE ANTES DA PANDEMIA
Antes da pandemia, o câncer já gerava preocupação
em todo o mundo por conta de gargalos no diagnóstico, com altas taxas de
tumores avançados até mesmo para tipos de câncer que possuem exames de
rastreamento como mamografia, colonoscopia e Papanicolau. Além da descoberta
tardia, que aumenta a complexidade do tratamento e custos e reduz as chances de
cura, havia também a perspectiva do exponencial aumento da incidência da doença
em duas décadas. Quando Covid-19 ainda não era pauta mundial, a projeção da
Organização Mundial da Saúde (OMS) era de 19,3 milhões de casos em 2020 e um
salto de 64,1% em 20 anos, ou seja, atingindo a marca de 30 milhões de novos
casos em 2040.
Paralelamente, no Brasil eram esperados que entre
2020 e 2022 houvesse cerca de 625 mil novos casos de câncer por ano.
Considerando uma média de 60% de aumento em duas décadas, chegaríamos à
alarmante marca de 1 milhão de novos casos/ano em 2040 no país. Com a chegada
da Covid-19, o câncer não deixou de existir. Pior que isso, a doença evoluiu em
agressividade, pois houve a drástica redução de exames e visitas /revisões com
médicos e especialistas que poderiam diagnosticá-la precocemente. Diante deste
cenário, com a proposta de conscientizar a população sobre a importância do
cuidado com a saúde, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO)
lançou a campanha Não dá para esperar. Cuide-se. O câncer não ficou
de quarentena.
O cirurgião oncológico e presidente da SBCO, Héber
Salvador, explica que a ação será um movimento permanente. “Vamos desenvolver
inúmeras ações com o propósito de conscientizar a população a estar atenta aos
sinais do corpo, aos exames indicados para sua faixa etária e, aos pacientes
oncológicos, que não negligenciem o tratamento. Será um movimento permanente,
que irá abraçar as demais campanhas que já são tradicionais ao abordar tipos
específicos de câncer, como o Setembro Lilás, Outubro Rosa, Novembro Azul e
Dezembro Laranja. Além disso, temos também a tradicional Ação Nacional de
Combate ao Câncer da SBCO também em novembro”, detalha Héber Salvador.
Com a campanha 360º, que envolve conteúdo
multimídia e qualificado nas mídias digitais e ações externas com a população,
a campanha, além de conscientizar a população, visa engajar os mais de 1400
cirurgiões oncológicos membros da SBCO. Paralelamente, é essencial também a
atuação multiprofissional. “Precisamos lutar pela maior oferta do ensino de
Oncologia em todas as faculdades de Medicina do país e que esta disciplina
também figure na grade curricular de outras áreas de saúde, essenciais para o
cuidado multidisciplinar do paciente oncológico, como Fonoaudiologia,
Fisioterapia, Nutrição, Psicologia, Enfermagem, dentre outras. Os médicos e os
demais profissionais da saúde precisam aprender a pensar oncologicamente. Com
isso, a população será mais bem assistida por eles em todas as etapas, da
prevenção à reabilitação pós-tratamento”, vislumbra Héber Salvador.
SBCO - Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica
(SBCO)
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