Apesar
do Brasil ser o segundo país com maior número de transplantes, cerca de 40% dos
familiares não autorizam a doação - por isso, autodeclaração da intenção de
doar é essencial
Programa
de Transplantes do Einstein, que faz parte do PROADI-SUS, é uma das iniciativas
de apoio a transplantes na rede pública de saúde, e que, este ano, já garantiu
o procedimento a 96 pacientes
Segundo o Registro
Brasileiro de Transplantes da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos
(ABTO), mesmo o Brasil sendo o segundo país do mundo em número de transplantes,
cerca de 40% do total de potenciais doações não têm autorização da família, e
outros 10% são perdidos por falhas no manejo clínico do paciente em morte
cerebral. Agravando ainda mais o cenário, de acordo com dados do Ministério da
Saúde, a pandemia de Covid-19 reduziu em 20% o número de transplantes em 2020,
o que afetou diretamente pacientes que estão na fila aguardando um doador - de
acordo com a ABTO, em dezembro de 2020, eram 43.643 pessoas em espera.
Tendo em vista esse
cenário, a Campanha Setembro Verde é realizada ao longo deste mês com o
objetivo de sensibilizar a população para que mais pessoas se declarem doadores
de órgãos e tecidos. A ideia é conscientizá-las sobre a importância de
comunicar à família o desejo de doação, já que de acordo com o pneumologista
Dr. José Eduardo Afonso Jr., "a falta de conhecimento sobre o desejo do
parente em doar pode motivar os familiares a recusarem a ideia".
Dr. José Eduardo
destaca também os desafios enfrentados durante o período de pandemia. "Até
2019, a quantidade de doações vinha em curva ascendente, não só em números
absolutos, mas também em relação a doador por população. Naquele ano, tínhamos
18 doadores por milhão de habitantes, e estimava-se que chegaríamos a 20.
Porém, tivemos uma queda de 12,7%, voltando ao patamar equivalente a 2017, e
não tendo doadores, o número de transplantes é impactado diretamente".
Houve uma
variabilidade entre as regiões do Brasil: Sudeste e Centro-Oeste tiveram 5% de
redução; Sul teve 13%; Nordeste, 28%; e Norte do país, 43%. Apesar da situação
crítica, ao longo de 2020 o cenário foi sendo controlado, e "mesmo em
épocas de maior disseminação da Covid-19, as entidades brasileiras de
transplantes conseguiram se organizar para que a doação e as cirurgias
ocorressem da forma mais segura possível. Contamos com instituições e
profissionais extremamente engajados para que todo o processo fosse o mais
eficiente possível", destaca o médico.
Existem, atualmente,
diversos projetos de incentivo e apoio às doações, inclusive no sistema público
de saúde - um exemplo é o Programa de Transplantes do Hospital Israelita Albert
Einstein, que faz parte dos mais de cem projetos realizados pelo Programa de
Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS) e
é coordenado pelo Dr. José Eduardo. A iniciativa é responsável por capacitar
médicos da rede pública de saúde para a realização de transplantes de órgãos e
tecidos, bem como as equipes multiprofissionais na aplicação das melhores
práticas de assistência, além de realizar o procedimento gratuitamente a
pacientes atendidos pelo SUS em todo o país.
De acordo com o
pneumologista, "a iniciativa visa o atendimento a pacientes mais
complexos para a realização de transplantes de intestino, multivisceral e
hipersensibilizados, à espera de transplante renal, assim como pacientes na
fase pré ou pós-transplante que apresentam outras patologias, como o
hepatopata, o cardiopata e o pneumopata". Só este ano, o projeto já
garantiu o procedimento a 96 pacientes - em 2020, foram 150 pessoas atendidas.
De janeiro a junho de 2021, foram 52 transplantes de fígado; 1 multivisceral;
19 de rim; 13 de coração; e 11 de pulmão. Em 2020, 84 de fígado; 41 de rim; 14
de coração; e 11 de pulmão.
Doações que salvam
vidas
A vida do mineiro Luiz
Augusto Nogueira Borges, de 30 anos, mudou drasticamente ao ser diagnosticado
com fibrose pulmonar, doença que faz com que os pulmões percam a capacidade de
absorver e transferir oxigênio para a corrente sanguínea. O diagnóstico ocorreu
em 2016, após o paciente perceber que se cansava rapidamente durante atividades
que já faziam parte do seu dia a dia. "Meu mundo desabou com a notícia,
porque tudo o que eu mais gostava de fazer, como jogar bola, nadar, correr ou
andar de bicicleta, me parecia impossível a partir daquele momento",
relata o policial penal.
Borges conta que seu
quadro clínico piorou consideravelmente em setembro de 2019, após ficar três
meses sem o medicamento que estabilizava sua condição pulmonar, tornando
necessário um transplante de pulmão. Ele, que já vinha sendo atendido em São
Paulo, foi encaminhado ao Einstein, para o Programa de Transplantes do hospital
por meio do PROADI-SUS, em parceria com o Ministério da Saúde.
O paciente entrou para
a fila de transplantes em março de 2020, e passou pela cirurgia um ano depois.
"Minha vida deslanchou depois daquele momento. É até difícil de
acreditar, porque há seis meses eu estava preso a uma cama, respirando por
oxigênio, sem perspectiva de nada. E hoje, até andar na rua parece algo
extraordinário. Falo para todo mundo que o que eu vivi nesses seis meses
pós-cirurgia não vivi nem antes do diagnóstico. Ainda não retomei minha rotina
como antigamente, mas já corro um pouco e busco fazer de tudo, com os cuidados
necessários por conta da pandemia", afirma.
O rapaz, que viveu na
pele a ansiedade da espera por um doador, deixa seu apelo à população: "o
pulmão que recebi apareceu no momento certo, pois meu quadro já estava muito
grave e sem possibilidade de reversão. Só eu, minha família e as pessoas que
acompanharam a situação de perto entendem o valor desse momento para mim, e
como isso salvou, literalmente, a minha vida. Por isso, eu digo: sejam doadores
de órgãos! A vida de milhares de pessoas depende disso".
Sobre o PROADI-SUS
O Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do
Sistema Único de Saúde, PROADI-SUS, foi criado em 2009 com o propósito de
apoiar e aprimorar o SUS por meio de projetos de capacitação de recursos
humanos, pesquisa, avaliação e incorporação de tecnologias, gestão e
assistência especializada demandados pelo Ministério da Saúde. Hoje, o programa
reúne seis hospitais sem fins lucrativos que são referência em qualidade
médico-assistencial e gestão: Hospital Alemão Oswaldo Cruz, BP - A Beneficência
Portuguesa de São Paulo, HCor, Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital
Moinhos de Vento e Hospital Sírio-Libanês. Os recursos do PROADI-SUS advém da
imunidade fiscal dos hospitais participantes. Os projetos levam à população a expertise
dos hospitais em iniciativas que atendem necessidades do SUS. Entre os
principais benefícios do PROADI-SUS, destacam-se a redução de filas de espera;
qualificação de profissionais; pesquisas do interesse da saúde pública para
necessidades atuais da população brasileira; gestão do cuidado apoiada por
inteligência artificial e melhoria da gestão de hospitais públicos e
filantrópicos em todo o Brasil. Para mais informações sobre o Programa e
projetos vigentes no atual triênio, acesse: https://hospitais.proadi-sus.org.br
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