Em dezembro de 2019, quando surgiram na China os
primeiros casos da COVID-19, doença causada pelo novo coronavírus, pouca gente
imaginava que chegaríamos na situação atual — a doença foi classificada como uma pandemia pela
Organização Mundial da Saúde (OMS) e o isolamento social é apontado como a
maneira mais eficiente de evitar o aumento no número de casos.
Em um cenário como esse, a saúde
dos indivíduos passa a ser uma prioridade em detrimento a tantas outras
questões, como a economia e as relações sociais. No entanto, quando falamos em
saúde, muita gente pensa apenas na ausência do vírus no organismo, quando, na
prática, é preciso se preocupar também com a saúde mental.
Neste post, o doutor Marcel Vella
Nunes, psiquiatra do Hospital Santa Mônica mostrará como o isolamento
social pode afetar o indivíduo e trazer algumas dicas para aplicar na
rotina de casa e preservar a saúde mental. Acompanhe!
A importância do distanciamento social no cenário de pandemia
O rápido crescimento no número de
casos de coronavírus fez com que eventos, viagens, festivais e outras
atividades que reúnem um grande número de pessoas fossem canceladas. Além
disso, as pessoas estão sendo incentivadas a trabalhar de casa, as escolas de
todo o país foram fechadas e, no comércio, funcionam apenas alguns
estabelecimentos que trabalham com itens essenciais, como mercados e
farmácias.
Esse tipo de medida é essencial
em uma pandemia, já que o contato com uma pessoa infectada ou com seus
fluidos corporais é a única maneira de contaminação. Cidades que ignoram ou
minimizam a necessidade desse tipo de medida sofrem com uma rápida
disseminação da doença e o aumento significativo no número de casos
simultâneos, o que pode trazer graves consequências para o sistema de saúde.
Portanto, o distanciamento social
ajuda a diminuir os riscos de contaminação e a impedir a superlotação de
hospitais.
O impacto psicológico do isolamento social
Apesar de ser uma forma eficaz de
conter o vírus, o isolamento social pode ter um impacto psicológico negativo
para algumas pessoas. Fatores como a solidão, a perda da rotina, a falta de
convívio com pessoas queridas e a redução das atividades físicas podem
repercutir na saúde mental do indivíduo.
Um artigo publicado no The Lancet mostra que
estudos apontam que pessoas que passaram por situações de quarentena apresentam
prevalência de sintomas de transtornos psicológicos, como depressão, estresse,
oscilações no humor, irritabilidade, insônia e indícios de transtorno de
estresse pós-traumático.
Segundo o mesmo artigo, dois
estudos reportaram efeitos causados em longo prazo pelo isolamento social
após a epidemia de SARS (Síndrome Respiratória Aguda), que aconteceu entre 2002
e 2003. Eles vinculam o aumento no número de casos de alcoolismo e dependência química registrados 3 anos
após a crise ao período de quarentena vivido pelos pacientes.
5 formas de cuidar da saúde mental em cenário de isolamento
O isolamento social é uma medida
tomada para evitar o adoecimento por vírus. No entanto, é preciso tomar alguns
cuidados para diminuir, também, as chances do adoecimento mental e do
surgimento de problemas como ansiedade, depressão e transtorno de estresse pós-traumático.
Agora que você sabe a importância do cuidado com a saúde mental,
veja, a seguir, algumas ações que podem ajudar a manter a mente sã no período
do isolamento social.
1. Buscar novas formas de passar o tempo
Manter a mente ocupada e
estimulada é um dos principais cuidados a serem tomados em períodos de
isolamento social e preocupação. Para isso, pode-se buscar novos hobbies, como
cozinhar ou desenhar, e procurar aprender novas habilidades, como música ou
costura.
Na internet, há uma série de
cursos online disponíveis sobre os mais variados temas, que podem ajudar a
manter a mente ocupada e ainda trazer novos conhecimentos.
2. Ter cuidado com o consumo excessivo de notícias
O consumo excessivo de notícias
sobre a pandemia pode causar histeria coletiva, ansiedade e estresse.
Busque as informações suficientes para saber o que está acontecendo no mundo e
na sua cidade e para saber como se manter protegido — isso é possível
assistindo à televisão ou lendo sites de notícias apenas uma ou duas vezes por
dia.
Os meios de comunicação têm
programações especiais sobre a pandemia, e é possível ter contato com notícias
a qualquer hora do dia —, mas esse excesso pode aumentar a preocupação e a
sensação de impotência. A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP)
recomenda cuidado ao compartilhar informações alarmistas e que não sejam
confirmadas por órgãos oficiais. A entidade também indica consumir notícias
apenas de veículos com credibilidade.
3. Fazer exercícios em casa
Exercitar o corpo é tão
importante quanto exercitar a mente. Além de melhorar a saúde física, o
exercício físico libera neurotransmissores naturais que regulam o humor e, por
isso, estão associados à sensação de bem-estar.
A boa alimentação é uma grande
aliada da rotina de exercícios. Ingerir comidas gordurosas ou industrializadas
pode trazer sensação de cansaço e desânimo, o que contribui para o adoecimento
mental. Por isso, procure manter uma alimentação equilibrada também durante o
isolamento social.
4. Comunicar-se com pessoas queridas por meio de plataformas digitais
Assim como você, outras pessoas
também podem se sentir sozinhas, preocupadas e impotentes diante do cenário de
pandemia. O contato social, mesmo que virtual, ajuda as duas partes a manterem
a saúde mental.
Com a pandemia em era de redes sociais, é possível
entrar em contato com parentes e amigos pelos meios digitais. Converse com
pessoas da sua confiança sobre suas preocupações e anseios a respeito da atual
situação, mas não deixe de falar, também, sobre outros assuntos que sejam do
seu interesse.
5. Absorver o máximo de sol possível
O sol é fundamental para o funcionamento
do corpo e, segundo um estudo da Universidade Brigham Young, ele
também pode causar um impacto na saúde mental e no bem-estar. Cientistas
descobriram que problemas de saúde mental aumentam em épocas em que há menos
horas de sol e diminuem quando há mais claridade.
Por isso, mantenha as cortinas e
as janelas abertas durante o dia e, se possível, tire um período do dia para
ficar na varanda, tomando sol e respirando ar fresco.
Se você apresentar sintomas da
COVID-19, não saia de casa. Busque ajuda médica somente em caso de agravamento
dos sintomas, conforme orientam as autoridades sanitárias. Quem faz uso de medicações,
principalmente para controlar problemas psiquiátricos, não deve deixar de tomar
os remédios por conta própria, não importa o que aconteça. A recomendação da
ABP é que o paciente procure o seu psiquiatra antes de fazer qualquer alteração
nesse sentido.
Em situações de pandemia e
isolamento social, é normal se preocupar e se sentir triste. No entanto, esses
sentimentos não devem impedir a manutenção da rotina, nem atrapalhar as
atividades diárias. Caso isso aconteça, está na hora de procurar ajuda
profissional.
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