No último fim de semana de abril, dois
textos me chamaram a atenção. Um deles é do jornalista que assina a segunda
página do jornal Zero Hora. As opiniões de Tulio Milman tendem para a esquerda.
É um dos tantos que, convictamente, ajudaram a pavimentar o acesso petista ao
poder. Na referida coluna,
porém, Tulio Milman confessa seu erro afirmando que "os grevistas não
sabem, mas é contra Lula que estão protestando". Extraio do texto o
seguinte segmento:
"A realidade só se revelou mais tarde, com o colapso ético e prático de
um modelo corrupto e irresponsável, onde a gastança do dinheiro público e o
descontrole geravam a ilusão de abundância. Qualquer modelo de
desenvolvimento econômico só é eficiente se for sustentável. Não foi o que
aconteceu. Difícil é explicar para milhões de brasileiros acostumados ao
paternalismo e ao messianismo político.
Os anos de Lula e de PT não foram de
prosperidade. Foram de irresponsabilidade e de desmando. Geraram um gigantesco
passivo econômico e social. Os 14 milhões de desempregados no Brasil são a
herança viva desse delírio, no qual muita gente, inclusive eu, embarcou.
Cheguei a acreditar que Lula era uma solução viável de diálogo entre opostos.
Na verdade, era apenas um monólogo sedutor e vazio."
Como se percebe, o jornalista está
falando sobre a perigosa sedução do populismo, que, entre outras sinistras
emanações, se expressa em paternalismo e messianismo, nos quais ele confessa
haver embarcado e dos quais desembarca à vista do desastre social, econômico,
político e fiscal a que nos conduziram.
O outro
artigo é do filósofo Roberto Romano, professor da Unicamp, e foi publicado
no Estadão do dia 29/04. Aborda a impropriedade do uso do vocábulo
"bolivarianismo" para designar o sanatório político que está varrendo
a Venezuela para o monturo ideológico onde jazem Cuba e Coreia do Norte. Desse
mal, Simón Bolívar é inocente.
Nas primeiras linhas, porém, Roberto Romano fez estas interessantes observações
sobre populismo:
"O elogio da ignorância, no Brasil,
resulta de uma síntese efetuada por intelectuais, políticos, clérigos. Tal
operação tem nome comum: populismo. Não se trata apenas de ideologia, existem
populistas de esquerda, de direita, católicos, protestantes, muçulmanos. A
demagogia, doença antiga, já na Grécia democrática recebeu seu nome de batismo.
Após a queda do Império Romano, o apelo ao povo como árbitro supremo de todo
poder e saber definiu movimentos de massa, fracassados ou bem-sucedidos. O
romântico Michelet evoca a chusma popular como figura Christi, presença do
Messias.
O populismo recusa a
pesquisa para a descoberta do verdadeiro. A sua demagogia reúne em poucos
chavões um arsenal tosco de propaganda. Os totalitarismos do século 20 levaram
tal política ao absurdo. Goebbels, de um lado, os “jornalistas” do Pravda, de
outro, abusaram do populismo em doses diárias, sorvidas pela multidão em
padrões pantagruélicos. Afinal, “engolimos avidamente a mentira que nos
lisonjeia, bebemos gota a gota a verdade que nos amargura” (Diderot)."
Agora,
afirmo eu: no Brasil destes últimos 30 anos, a desgraça populista escolheu um
partido para chocar seus ovos, se reproduzir e alcançar o poder. No caminho,
arrastou setores expressivos da Igreja Católica, da mídia, do meio acadêmico,
contaminando a alma do povo brasileiro. Agora, combate toda tentativa de
estabelecer algum realismo na gestão do Estado e, através de seu mais
tonitruante porta-voz, ameaça voltar ao poder. Só o Brasil sensato, formado
majoritariamente por liberais e conservadores, por pessoas realistas, enfim,
pode deter o avanço populista que - mau caráter e beberrão de mentiras como é -
pisa no acelerador em tempos difíceis.
Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
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