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terça-feira, 10 de julho de 2018

Apenas sete mulheres se candidataram à presidência desde 1989



Você sabia que, desde a retomada das eleições diretas para Presidente da República, há quase 30 anos, apenas sete mulheres se candidataram ao posto máximo do Executivo? A advogada Lívia Maria Ledo Pio de Abreu foi a primeira delas, ao disputar pelo Partido Nacionalista as eleições de 1989, vencidas por Fernando Collor. A mineira da cidade de Carangola recebeu cerca de 180 mil votos e terminou o primeiro turno em 16º lugar.

Para Lívia, o significado da participação vai além do resultado conquistado nas urnas naquele ano.

“Fui agraciada com este compromisso, essa missão de ser a primeira mulher candidata à Presidência da República, representando as mulheres brasileiras no processo de redemocratização do país. Eu aceitei, foi difícil, porque foi amador, sem recurso, mas foi altamente gratificante, porque eu incentivei muitas mulheres a entrarem na política”, relata Lívia Maria.

De lá pra cá, além de Lívia Maria, se candidataram à presidência Thereza Ruiz (1998), Ana Maria Rangel (2006), Heloísa Helena (2006), Marina Silva (2010 e 2014), Luciana Genro (2014) e Dilma Rousseff (2010 e 2014). Dilma foi eleita em 2010 e reeleita em 2014, sendo a primeira mulher presidente da República.

Mesmo com esses exemplos, a representatividade feminina na candidatura para cargos na vida política brasileira ainda pode ser considerada baixa. Nas últimas eleições municipais de 2016, as mulheres foram 31% dos cerca de meio milhão dos candidatos a prefeito, vice-prefeito e vereador.

Para a professora Tânia Navarro Swain, do Departamento de História da Universidade de Brasília (UnB), a presença das mulheres no poder político aumentou, mas está longe de ser ideal.

“Atualmente, está começando a recuperar esta presença das mulheres em todos os domínios da sociedade, inclusive no domínio do poder político. Mas ainda é muito incipiente. Somos mais de 50% da sociedade e representamos o mínimo em termos de postos políticos, postos de mando e de decisão.”

A Anna Carolina Aureliano, feminista, mestranda em Direito das Relações Internacionais e Integração da América Latina, trabalhou durante 5 anos na Secretaria de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres na Presidência da República. Segundo ela, o Brasil é o pior país da América Latina em paridade política.

“A ausência das mulheres na política é um resultado claro do patriarcado e as estruturas dos poderes colocado dentro dos partidos é historicamente dominada por homens. Podemos considerar os estudos da Enap, da ONU Mulheres, da FGV, de tantos outros autores, que mostram que o Brasil é o pior país da América Latina em paridade política. Esta é a nossa realidade atual”, conta Anna Carolina.

No Congresso Nacional, a participação das mulheres também é baixa. Segundo a Câmara dos Deputados, estão em exercício apenas 54 deputadas, de um total de 513 parlamentares. Já no Senado Federal, são 13 senadoras, de um total de 81 parlamentares. Esses números colocaram o Brasil na 154ª posição no ranking mundial da participação de mulheres no Executivo, feito pela ONU Mulheres, que analisou 174 países.

A coordenadora da bancada feminina na Câmara dos Deputados, deputada Soraya Santos, do PR fluminense, afirma que as mulheres precisam ter mais visibilidade para mostrar suas propostas.

“Na eleição passada, para as vereadoras, nós tivemos mais de 14 mil mulheres que foram laranjas nestas eleições, com zero votos nas urnas. Não é porque a mulher não goste de política. A mulher não vai aceitar nunca ser usada de trampolim para as candidaturas masculinas como vinha sendo. Nós temos que dar voz as mulheres que podem mostrar uma bandeira, uma causa, mas elas não são vistas, porque o tempo de televisão, tempo do rádio, também não ia para elas”, disse a parlamentar.

Recentemente, Tribunal Superior Eleitoral (TSE) determinou que pelo menos 30% do fundo especial de financiamento de campanha devem ser gastos em candidaturas de mulheres, nas eleições deste ano. Esse fundo é composto por recursos públicos da ordem de R$ 1,7 bilhão.

O tribunal determinou também que se o percentual de candidaturas for superior ao mínimo de 30%, o repasse dos recursos do fundo e a distribuição do tempo de propaganda devem ocorrer na mesma proporção.

O secretário Judiciário do Tribunal Superior Eleitoral, Fernando Alencastro, disse que, independente de mulheres ou homens, há alguns prazos a serem seguidos pelos partidos políticos.

"Os partidos têm que realizar as convenções partidárias entre 20 de julho e 5 de agosto e encaminhar a relação desses candidatos escolhidos até o dia 15 de agosto. Depois, durante a campanha eleitoral, os partidos políticos acompanham o desenvolvimento das campanhas e têm de fazer uma prestação de contas ao final da campanha", ressaltou Fernando Alencastro.

Lembrando que há uma prestação parcial de contas de partidos e candidatos, em 9 de setembro, e outra final, no dia 17 de novembro. Para o primeiro turno, a propaganda eleitoral nas ruas e na internet será de 16 de agosto a 5 de outubro. Já a propaganda gratuita no rádio e na TV está prevista para o período de 31 de agosto a 4 de outubro. O último dia para debates, comícios e reuniões públicas também será 4 de outubro.

As eleições vão ocorrer em 7 de outubro, no primeiro turno, e em 28 de outubro, onde houver necessidade de segundo turno.


CONHEÇA



Lívia Maria Ledo Pio de Abreu


A advogada Lívia Maria Ledo Pio de Abreu foi a primeira mulher do Brasil a concorrer ao cargo de Presidente da República pelo extinto Partido Nacionalista (PN), em 1989.



Thereza Ruiz


A administradora de empresas Thereza Tinajero Ruiz foi a segunda mulher a se candidatar ao cargo de Presidente da República, pelo Partido Trabalhista Nacional, em 1998.



Ana Maria Rangel


A cientista política Ana Maria Rangel decidiu se candidatar à presidência da República pelo Partido Republicano Progressista (PRP), em 2006, devido à experiência do trabalho social e ao profundo conhecimento dos problemas sociais no Brasil.



Heloísa Helena


A professora, enfermeira e política brasileira, Heloísa Helena, disputou o cargo de presidente da República em 2006 pela Frente de Esquerda, que era composta pelo PSOL, PSTU e PCB.



Dilma Rousseff


A economista e política brasileira Dilma Rousseff foi eleita duas vezes presidente da República, em 2010 e em 2014. Ela foi a primeira mulher a governar o Brasil.



Marina Silva


A historiadora, professora, psicopedagoga, ambientalista e política brasileira Marina Silva foi candidata à Presidência da República em 2010 pelo Partido Verde (PV) e voltou a ser candidata em 2014 pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB). Em 2018, é pré-candidata ao Planalto pela REDE.



Luciana Genro


Foi a candidata à Presidência da República nas eleições de 2014, pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL). 




Fonte: Agência do Rádio Mais 


BOLSONARO E A MULHER BÊBADA


       Sou cauteloso em relação às redes sociais, ou seja, sei que elas compõem um ambiente onde tudo ou quase tudo vale. Nele se torna impositivo, portanto, discernir a boa fonte, a começar pela linguagem, seguindo pela forma, passando pelo conteúdo e pela checagem do fato, quando houver fato envolvido. Convenhamos que isso não é muito diferente do que se deve fazer em relação a tantos veículos e profissionais da mídia tradicional, especialmente quando se trata de juízos e opiniões. É principalmente nesse território, até bem pouco dominado pelos tradicionais meios de comunicação, que se vão encontrar as mais escandalosas manipulações, construídas para induzir o público a se afastar da verdade e do justo discernimento em relação aos fatos.
        Nesse sentido, as redes sociais, sites e blogs promoveram importante democratização no direito de opinião, com enormes ganhos à sabedoria e à burrice nacional. Acabou o monopólio do direito de opinião. Quem abastece seu espírito com beleza e sabedoria, sai bem servido. Quem busca mediocridade e grossura, idem. Também isso é democrático.
        Ao noticiar o caso da mulher que assediou Jair Bolsonaro no aeroporto de Congonhas, quase todos os jornais que li instilaram sua dose de veneno contra o candidato afirmando que ele “se escondeu no banheiro”, ou que “se refugiou no banheiro” ao ser xingado por uma mulher, ou que “se envolveu numa confusão (segundo alguns relatos) ou numa discussão (segundo outros)”, ou que a tal mulher “chegou a se jogar no chão” (quando, na verdade, caiu de bêbada) e por aí andou a criatividade das distorções. Quem “se envolve” é sujeito ativo do envolvimento. Portanto, o candidato seria sujeito da confusão e não objeto do escarcéu armado por alguém fora de si. Resumo da opereta segundo quase todas as matérias que li: o machista Bolsonaro foi xingado por uma mulher, se envolveu em encrenca e teve que fugir para o banheiro...
        O fato, porém, foi inteiramente filmado e o vídeo que a tudo isso desmente está disponível no YouTube. Mostra uma mulher não identificada (mesmo passados tantos dias), num pileque como raramente se vê igual, ou atuando como tal, berrando palavrões na sala de embarque, tentando, durante quase dez minutos, se aproximar do candidato e invadir o banheiro onde Bolsonaro prudente e adequadamente entrou.
        O momento atual, no meu modo de ver, é muito prematuro para escolher candidato presidencial. Mas algo está a me dizer que quem suscita tão articulada animosidade entre pessoas intelectualmente desonestas, algum mérito deve ter.




Percival Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o Totalitarismo; Cuba, a Tragédia da Utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil, integrante do grupo Pensar+.


O PODER BEBE DE NOVAS FONTES


O poder no Brasil começa a beber em novas fontes. Expliquemos. Espraia-se pelo país um fenômeno que terá impacto sobre nossa modelagem democrática. A sociedade ganha mais pluralismo, a partir da organização de suas entidades de representação, e nessa onda ocorre maior distribuição de poder e consequente alargamento dos caminhos para a democratização social. As pedrinhas do dominó vão se tocando. A democratização da sociedade civil adensa e amplifica a democracia política. Caminhamos firmes nessa direção e a prova mais eloquente dessa tendência se verifica na formidável malha de centros de poder instituídos em todos os âmbitos e níveis (associações, movimentos, grupamentos etc).

Esse fenômeno enfraquece o poder político representado pela instituição parlamentar? De certo modo, sim. Até porque a esfera parlamentar padece de monumental crise de imagem. A formação de novos centros de poder no meio e nas margens da sociedade também tem por motivo a falta de respostas adequadas e tempestivas por parte do sistema parlamentar. Os mais de 30 partidos políticos constituem um ente amalgamado, massa frequentemente incolor e sem matiz ideológico, na esteira, aliás, do declínio geral das ideologias decorrente da debacle  do socialismo clássico, da globalização e da quebra de fronteiras físicas, psicológicas e ideológicas entre países.

As doutrinas se aproximam e se fundem, enquanto o desempenho menos convicto dos participantes do universo partidário impregna os ambientes. As lutas políticas e sociais do passado, travadas sob o manto da clivagem ideológica, perderam sentido. Direita e esquerda cruzam seus ideários, enquanto o liberalismo e o socialismo procuram novos eixos conceituais, sob a vertente de que o primeiro demonstrou saber produzir riquezas, mas não saber como distribuí-las; já o segundo demonstrou saber distribuir riquezas, mas não saber como produzi-las.

 E é aí que surgem os “caçadores” da ideologia dos novos tempos.

É o que se vê aqui e alhures. As oposições partidárias levam em conta a tomada do poder central, ficando em segundo plano o embate ideológico. Que partido político tem, hoje, um projeto de poder? O que o PT prega? O socialismo clássico? Isso já era. O que pregam os partidos de centro, a partir do PSDB? O social liberalismo? Quais os limites desse sistema? Por isso mesmo, o oposicionismo se dá menos em função de uma visão ideológica do mundo e mais em função de projetos circunstanciais de poder, centrados na pragmática política e, sobretudo, inspirados nas vontades e expectativas dos novos polos de pressão da sociedade.

Já a ação política voltada para a conquista do poder leva em consideração a micropolítica dos grupos de interesse, das regiões, das comunidades locais. O processo político, no Brasil, se torna cada vez mais uma questão distritalizada, espacial. Basta ver a guerra fiscal entre Estados.  Já a democracia participativa ganha alento com as manifestações e decisões dos cidadãos reunidos em suas entidades.

O fato é que os conjuntos organizados da sociedade recebem grande impulso - espaço e visibilidade - da mídia, que descobre na investigação, na denúncia e na cobertura de eventos de impacto uma forma de adensar a taxa cívica da Nação.

 Até parece que a sociedade organizada entoa o canto de Zaratustra(Nietsche) para expressar o estado de espírito da força social emergente: “novos caminhos sigo, uma nova fala me empolga; como todos os criadores, cansei-me das velhas línguas. Não quer mais, o meu espírito, caminhar com solas gastas”.






Gaudêncio Torquato - jornalista, é professor titular da USP, consultor político e de comunicação Twitter@gaudtorquato


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