Criatividade, simplicidade e transparência são
as grandes aliadas desta iniciativa
O crowdfunding
(que em tradução livre seria “fomento da multidão), transformou-se em um
movimento com dimensões exponenciais. No Brasil, o sucesso se refletiu nos
sites de compras coletivas, os quais, ultrapassaram a casa dos milhares em
menos de seis meses de existência.
Com
isso, o crowdfunding se tornou atrativo e uma chance para realizar um sonho,
ajudar as pessoas, concretizar projetos ou lançar produtos. Pessoas ou
empresas podem obter o sucesso esperado através desta alternativa, cada vez
mais viável e aceita. Entretanto, há uma pergunta que muitos ainda fazem. Por
onde começar? Como organizar uma campanha?
Vinicius
Maximiliano, autor do livro “Dinheiro na Multidão” – Oportunidades x Burocracia
no Crowdfunding Nacional explica que uma característica comum a projetos bem
sucedidos é a simplicidade com que a ideia do projeto é transmitida. Contudo,
simplicidade não se confunde com amadorismo. “Ser simples, significa dizer
claramente o que se pretende, quem vai fazer, como e quando. Por isso abuse da
criatividade, pois as pessoas quando analisam um projeto, buscam aquilo que
elas gostariam de fazer por si mesmas, mas o farão através da janela do seu
projeto. Então seja simples, porém ousado”, aconselha.
O
autor explica que não se pode esquecer que o financiamento coletivo de um
projeto é um negócio! Mesmo quando se trata de questões filantrópicas, o que se
propõe a ser feito é uma gestão profissional de fundos para uma causa em si.
“Portanto, é fundamental incluir no orçamento assessoria especializada para essa
estruturação. Em um projeto de tudo ou nada, economizar nisso pode ser
definitivamente negativo. Inclua esses custos no projeto e estruture-o de forma
profissional. Afinal, você está fazendo uma “oferta” que outros validarão e
colocarão algum dinheiro nela.
Vinicius
aconselha que quanto mais transparente o idealizador da campanha for, mais
confiança terão no projeto. “Muitos sites já oferecem essa assessoria de
lançamento e criação. Além disso, procure um advogado e um contador. Números e
leis (mesmo as que ainda não existem!) fazem a diferença em um pais como o
Brasil. Pode ser que você nem saiba, mas que exista algum benefício fiscal para
quem doar fundos a um tipo específico de projeto, o que aumenta as chances de
sucesso”, afirma o especialista.
As pessoas
estão cansadas de conviverem com “inatingíveis”. Financiadores de projetos
coletivos buscam proximidade, facilidade de contato e possibilidade de
opiniões. Ninguém quer um cara ou uma moça que sequer conseguem identificar ou
que nunca responde e-mails de elogio ou crítica. “O conceito de coletivo, ainda
mais no Brasil, onde somos naturalmente mais sociáveis, assume contornos quase
que pessoais. Portanto, esteja preparado para interagir, e muito com seus
financiadores”, aponta Vinicius.
Credibilidade
é tudo no mundo virtual. Em financiamento coletivo então, é 100% essencial
escolher bem. “Diga-me sua plataforma e lhe darei ou não um like!”. Bem por ai.
Afinal, sites ou plataformas que não possuem o público alvo ideal para o seu
projeto, simplesmente poderão frustrar suas expectativas”, destaca o autor do
livro. Para isso é necessária pesquisar, conversar com os sites, com as
plataformas, fazer levantamentos, verificar a credibilidade social da
plataforma. “Se o site é um veículo praticamente obrigatório, então tem que
sempre buscar o melhor modelo e o mais atualizado! ”, defende.
Algumas
campanhas são bem longas, chegam a durar 60 dias. Haja material e motivação
para todo esse tempo. Imagine o financiador que fez a doação no primeiro dia,
todo empolgado com seu projeto. Ao final de 55 dias, por exemplo, ele muitas
vezes nem vai lembrar que ajudou. A fatura do cartão de credito já vai ter sido
paga 30 dias antes. Assim, é preciso usar a criatividade e manter seu público
ativo, envolvido. As pessoas querem saber o que está acontecendo, a evolução,
números alcançados. Se a campanha não estiver indo tão bem, o ideal é pedir
ajuda. “Conclame as pessoas a se movimentarem para alcançar o objetivo. Faça
novos vídeos, mostre números, resultados, produtos em andamento. Enfim,
apareça, mesmo durante a campanha! Quem só dá as caras no lançamento,
dificilmente vai terminar com o total financiado”, alerta.
Ter
um cronograma claro, estruturado e organizado de todo o desenvolvimento do
projeto é importante. Afinal, quem financia, quer acreditar que tudo será feito
da forma como foi proposto. Uma dica é aplicar algumas regras e conceitos e
Project Manager (voltamos a figura da assessoria) para mostrar ao público que
existe uma linha de ação para cada passo do projeto. E isso nada tem a ver com
o tamanho da arrecadação. Tem relação direta com profissionalismo no trato com
o dinheiro de terceiros e que confiam em você.
Caso
o projeto tenha como foco um novo produto, maravilha! Mas é preciso ter algo
para mostrar. “Quem vem para a rede buscando vender somente uma ideia, pode se
queimar no mercado brasileiro. Nossa cultura é bem diferente da norte americana
ou inglesa, onde as pessoas são educadas desde cedo para um conceito de “risco
de investimento” em ideias. Aqui, somos naturalmente conservadores,
desconfiados e céticos. Existe todo um pano de fundo econômico por trás disso,
mas o importante é perceber que, se o seu financiador não perceber algo
“palpável” ele vai pensar muito mais para financiar seu projeto do que se você
tivesse pelo menos um protótipo, por mais amador que seja”, aponta.
Querendo
ou não, crowdfunding e financiamento coletivo é um novo e bonito nome para
falarmos de investimento. Afinal, as pessoas se identificam com a causa ou
projeto, e entregam o dinheiro para que o idealizador possa utilizá-lo. “
Agradeça, se possível diretamente, a cada doador. Não estou falando do e-mail
automático dos sites. Estou falando de algo pessoal, único, diferente. As
pessoas estão cofiando em você, não interessa quanto doaram ou qual o tamanho
do seu projeto. E confiança não se compra, se adquire e se agradece! ”, destaca
Vinicius.
Um
erro comum é vermos projetos desenhados e estruturados para os “conhecidos” –
amigos, familiares, parentes, colegas de trabalho – ou seja, aquelas pessoas
que tendem a nos apoiar independente da solidez da ideia. É natural. “Por isso,
os projetos têm de ser sempre desenhados “para fora”, ou seja, para pessoas que
nunca viram você na vida, não sabem nada sobre você e que terão que acreditar e
confiar no que está falando em um vídeo de três minutos. Portanto, crie
projetos para fora, nunca para dentro. Salvo se sua família e amigos, sozinhos,
conseguirem financiar tudo... ai é bem diferente! ”, orienta o especialista.
Vinicius
acredita que toda forma de ganhar dinheiro e atuar na sociedade é válida.
Porém, há algumas pessoas com muita gana nos valores a serem arrecadados. “O
projeto e a arrecadação têm que ser suficientes para sua realização, não para
tornar seu criador rico ou pagar as contas atrasadas dele. O cuidado precisa
ser ainda maior quando falamos de campanhas parciais, ou seja, aquelas em que o
idealizador, mesmo que não atinja o total pleiteado, ele vai levar as doações
com ele. Se for esse o seu caso, não esqueça que um projeto com custos mal
equacionados pode simplesmente ser inviável se não atingir a meta de
financiamento... e todos os que apostaram na ideia podem ficar muito
decepcionados com sua postura caso não entregue o prometido, com muito menos
dinheiro”, conclui.
Vinicius Maximiliano Carneiro -
O autor é advogado e escritor.
Com MBA em Direito Empresarial pela FGV, é Especialista em Direito Eletrônico
pela PUC/MG, atuou como advogado de Propriedade Intelectual no Brasil para a
Motion Picture Association (MPA), Associação de Defesa da Propriedade
Intelectual (ADEPI) e também para a União Brasileira de Vídeo (UBV). Foi gestor
de projetos especiais na Associação Brasileira das Empresas de Software (ABES)
- e da Business Software Alliance (BSA). Também ocupou lugar na Comissão de Mercado
de Capitais e Governança Corporativa da OAB/SP. Focado no mercado de
financiamento coletivo nacional, apaixonado por Internet, novos mercados e
Economia Digital, agora Vinicius se lança no mercado editorial com a obra “Dinheiro na Multidão” –Oportunidades x
Burocracia no Crowdfunding Nacional. O livro, on line,
está disponível no site http://viniciusmaximiliano.adv.br/
. No portal é possível também conferir entrevistas, vídeos e artigos do
autor