A adoção compulsória do trabalho
remoto na pandemia acendeu alguns debates na bolha corporativa. Um deles, como
não poderia deixar de ser, foi a questão do controle: “como garantir os
resultados com toda a minha equipe trabalhando a um passo de distância de suas
camas?” ou “como ter certeza que o colaborador está trabalhando na planilha ao
invés de estar jogando The Legend of Zelda?”. Convenhamos que esse
cenário revelou o quão imaturas têm sido as relações de trabalho, e isso não é
só no Brasil.
A fragilidade da confiança, um
pilar tão importante para as relações, têm inviabilizado os ganhos que o modelo
remoto traz na prerrogativa do tal controle. Com isso, o que vemos é a infantilização
das relações de trabalho, já que só posso garantir que minha equipe exercerá
seu papel se estiverem sob o meu olhar. Do contrário, serão como crianças no
parquinho da escola que se recusam a voltar para as classes.
É importante que o empregador se pergunte:
O que eu estou querendo controlar? Essa necessidade é sobre as entregas
combinadas ou sobre a vida do meu colaborador? Será que não estamos mais
interessados em quantos mls de café nossos profissionais tomam
por dia do que na qualidade da entrega de seu trabalho?.
Em tese, a confiança, sobretudo
nas relações de trabalho, deveria ser o ponto de partida e não algo a ser
conquistado a duras penas. Não me interessa trabalhar, nem por uma hora, com
profissionais que não confio que irão cumprir com suas obrigações de trabalho,
da mesma maneira que eu irei cumprir com as minhas enquanto gestora.
Para o trabalho remoto funcionar
é preciso incentivar autonomia, autogestão de tempo e tarefas e
autorresponsabilidade. É improvável que os colaboradores performem a
contento em um ambiente regido pela desconfiança. Diante disso, pode ser
que tenha surgido ainda um outro debate: o trabalho remoto é para todo mundo?
Provavelmente, não. Mas, se estamos falando de profissionais responsáveis e
adultos, esse crivo não poderia ser pessoal? Será realmente necessário o papel
de um gestor que determina qual modelo funciona melhor para cada indivíduo?
Em mais de seis anos como
empreendedora, o que eu posso afirmar, com absoluta certeza, é que o controle
não vai te garantir sucesso. Pelo contrário, o microgerenciamento te levará à
exaustão física e mental. Já a liberdade e flexibilidade irão te ajudar a
construir uma relação mais saudável com você mesmo no trabalho e ainda mais com
as pessoas que estão ao seu lado, ajudando a desenvolver o seu negócio.
Confiança muda o jogo.
Marina
Vaz é CEO e fundadora da Scooto, central de atendimento com o cliente que transforma o
relacionamento entre pessoas e empresas
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