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domingo, 18 de setembro de 2022

5 dúvidas sobre o explante de silicone

Surgimento de distúrbios neurológicos e doenças autoimunes indicam a necessidade do explante

 

Desde 2018, os números de explante de prótese mamária crescem no Brasil. De acordo com a Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica, naquele ano, 14,6 mil cirurgias de retirada de silicone foram realizadas. Em 2019, o índice pulou para 19,4 mil, e em 2020, chegou aos 25 mil. 

De fato, o explante de silicone virou tendência, principalmente após diagnósticos de doenças causadas pela prótese. Mas, como saber se há necessidade da retirada? Quem tira as dúvidas é Luís Felipe Maatz, cirurgião plástico, especialista em Cirurgia Geral e Cirurgia Plástica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e especialista em Reconstrução Mamária pelo Hospital Sírio-Libanês.

 

Em quais situações é recomendado o explante de silicone?

Alguns sintomas podem indicar essa possível necessidade:

 

Critérios maiores:

Exposição a um estímulo externo, como infecções, antes das manifestações clínicas abaixo

- Mialgia, miosite ou fraqueza muscular

- Artralgia e/ou artrite

- Fadiga crônica, sono não repousante ou distúrbios do sono

- Manifestações neurológicas, especialmente associadas com desmielinização (Muitos nervos são revestidos de mielina. Quando está desgastada ou danificada, os nervos podem se deteriorar, causando problemas no cérebro. Danos à mielina ao redor dos nervos são chamados de desmielinização)

- Alteração cognitiva, perda de memória

- Febre, boca seca

 

Critérios menores:

- Aparecimento de autoanticorpos

- Síndrome do cólon irritável

- Surgimento de uma doença autoimune, como esclerose múltipla ou esclerose sistêmica

 

“Por isso, a avaliação é fundamental para exclusão de outras doenças que podem causar os mesmos sintomas. A cirurgia de retirada das próteses pode ser considerada como opção, em conformidade com o desejo da paciente e seu entendimento de que os sintomas poderão, eventualmente, continuar. Mas há muitos relatos de pacientes que foram submetidas ao explante e tiveram melhora ou resolução de sintomas”, diz Luís Felipe Maatz.

 

Como é feito o diagnóstico das doenças causadas pelo silicone?

Para o diagnóstico, são necessários pelo menos a presença de dois critérios maiores e dois menores (citados acima).

 

Qual a probabilidade de uma mulher com prótese ter algum tipo de complicação?

Os riscos dessa cirurgia geralmente são baixos e podem ser classificados em ordinários (relacionados a todo procedimento cirúrgico, como hematoma, infecção, abertura de pontos, cicatrizes inestéticas, alterações de sensibilidade, dores no local operado, aparecimento de estrias) e específicos (relacionados ao implante em si, como contratura capsular, ruptura da prótese e o chamado tumor anaplásico de células gigantes, um raro linfoma que pode se desenvolver na cápsula que se forma ao redor de próteses).

 

“Vale lembrar que as contraindicações para o implante são basicamente as mesmas para qualquer outra cirurgia plástica (como doenças sistêmicas descompensadas ou contraindicações a anestesia), além daquelas relacionadas às mamas, como período de amamentação atual ou recente e algumas doenças mamárias ativas”, reforça Luís Maatz.

 

O que pode ocorrer depois do explante?

Após o explante, em praticamente todos os casos há necessidade de realização de uma mastopexia (retirada de pele e reposicionamento dos tecidos mamários) para o melhor resultado estético. Assim, caso a cirurgia anterior tenha sido apenas de colocação das próteses, haverá cicatrizes maiores do que a da cirurgia anterior de aumento mamário. O período pós-operatório será um pouco mais prolongado e com mais cuidados em relação ao processo de cicatrização.

 

Não trocar a prótese pode implicar no aparecimento das complicações?

Segundo o especialista, não há mais a necessidade de troca das próteses a cada dez anos, como preconizado nas primeiras gerações de implantes. Nos casos em que havia manifestações clínicas, a mais comum era a migração de partículas do silício e até os linfonodos axilares, que podiam se tornar doloridos, endurecidos e inflamados. 

Atualmente, o silicone possui alta coesividade e sua superfície externa é mais resistente. Isso possibilita que seu formato permaneça estável e, em caso de ruptura, limita o extravasamento do gel. 

“Mesmo assim, a paciente deve retornar anualmente ao seu cirurgião plástico para realizar exames de imagem conforme a necessidade. Com a evolução das próteses e melhora da sua qualidade ao longo dos anos, o chamado ‘bleeding’ é um fenômeno que teve sua incidência diminuída drasticamente”, finaliza Luís Felipe Maatz.

 

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