O papel do
cirurgião-dentista no retardo e tratamento da doença que pode atingir 150
milhões de pessoas até 2050
Em 21 de setembro é celebrado o Dia Mundial
de Conscientização da doença de Alzheimer. A origem da data tem
como principal objetivo aumentar a compreensão sobre essa patologia
degenerativa que afeta milhões de pessoas no mundo.
Em 2021, uma revisão de literatura publicada na
Revista Eletrônica Acervo Científico, produzida pelo Centro Universitário
Atenas, de Minas Gerais, sugere que doenças periodontais estão relacionadas com
o mal de Alzheimer. Em primeiro plano, as bactérias causadoras da periodontite
acarretam uma resposta inflamatória sistêmica agravada pelas células de defesa
do indivíduo, por consequência, esse quadro facilita seu desenvolvimento, em
pessoas predispostas, ampliando os efeitos nocivos dos portadores da demência.
Além disso, o acesso das bactérias ao córtex
cerebral e a consequente liberação de citocinas pró-inflamatórias constituem um
mecanismo pelo qual a periodontite pode se relacionar com o desenvolvimento do
Alzheimer. Quando a doença se instala, a higiene bucal passa a ficar
comprometida, aumentando ainda mais o estado de confusão mental do paciente e,
também, seu comportamento - estresse, irritação e desconforto.
Sabe-se, portanto, que a saúde bucal é muito
importante para a prevenção do Alzheimer, por isso, a associação do hábito
diário de escovar os dentes, somado ao uso de fio dental e o acompanhamento de
um cirurgião-dentista pode auxiliar, e muito, o retardo ou prevenção do
desenvolvimento da doença.
Cuidados especiais com os mais idosos
A presidente da Câmara
Técnica de Odontogeriatria do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo
(CROSP), Dra. Denise Tibério, reforça que o
portador de Alzheimer precisa ter um cuidado especial para não desenvolver
doenças periodontais. “A gengivite e a periodontite estão relacionadas
com o acúmulo de placas bacterianas na superfície dentária, por isso a
dificuldade de higienização à medida que a doença prospera, fazendo com que
aumentem os biofilmes nas superfícies dentárias, evoluindo mais a progressão
dessas doenças bucais”.
A cirurgiã-dentista destaca, ainda, que o Alzheimer possui
três fases principais, e os portadores precisam ter um cuidado especial com a
saúde bucal e a assistência de familiares ou cuidadores, para cada uma das
fases.
“Na fase inicial, o idoso esquece de fazer a higiene
e precisa ser lembrado. É indispensável orientá-lo sobre a utilização correta
da escova de dentes, assepsia da língua, estimular o fluxo salivar, além de
orientar o uso de próteses, se for o caso”, orienta a especialista
em Odontogeriatria. Neste período, o idoso apresenta as primeiras dificuldades,
que quase sempre são confundidas com o envelhecimento natural e passam
despercebidas. A Odontogeriatria, conhecendo a evolução da doença, pode
auxiliar na elaboração de um planejamento para propiciar conforto e qualidade
de vida. “Já na fase intermediária, é provável que tenhamos a figura de um
cuidador, pois há o comprometimento da rotina do idoso, e o profissional
precisa ser orientado sobre a abordagem e como fará a higiene bucal do
paciente. A retirada das próteses é aconselhável nesta etapa. Na fase avançada,
a limpeza da boca torna-se mais difícil. Muitas vezes, a alimentação ingerida é
pastosa e, provavelmente, o idoso já esteja acamado, podendo apresentar
alterações de comportamento”, completa a cirurgiã-dentista.
Sinal de Alerta
De acordo com a Organização Mundial da Saúde
(OMS), estima-se que existam 35,6 milhões de pessoas com
a Doença de Alzheimer no mundo, número que tende a dobrar até 2030 e triplicar
até 2050. No Brasil, com uma população de quase 30 milhões de pessoas
acima de 60 anos, (sendo a idade o único fator de risco reconhecido
mundialmente para a doença) de acordo com dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mesmo com
subnotificação, quase dois milhões de pessoas sofrem de demências e, cerca de
40 a 60% delas, são do tipo Alzheimer. Esses dados são da última pesquisa
realizada em 2019.
À medida em que a população de idosos aumenta, é
fundamental contar, ainda mais, com a presença do profissional de odontologia,
participando do tratamento desses pacientes com Alzheimer ou qualquer outra
demência identificada desde a fase de planejamento do tratamento, seja para
atendimento em consultórios, hospitais, asilos, ou em domicílio. “O
cirurgião-dentista, neste momento, torna-se um ‘educador’ da família e dos
cuidadores responsáveis, orientando-os e treinando-os para manter a higiene bucal
do paciente com qualidade de vida e, assim, ganhar sua confiança”,
conclui a Dra. Denise Tibério.
Conselho Regional de
Odontologia de São Paulo - CROSP
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