CNTur e FBHA estimam que 200 mil estabelecimentos fecharão
as portas e confederação de trabalhadores tenta reverter onda de demissões nos
próximos meses, impulsionando uma das maiores crises econômicas do Brasil
O avanço da pandemia de Coronavírus (Covid-19) pelo Brasil e
a necessidade de isolamento social já afetam a economia brasileira. Como
reflexo, o Produto Interno Bruto (PIB) de 2020 poderá sofrer uma retração de
4,4%, a maior registrada no país desde 1962, segundo estudo feito pela Fundação
Getúlio Vargas (FGV). Os setores de Turismo e Hospitalidade já amargam
prejuízo: a Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação (FBHA) estima a
falência de 10% dos hotéis, enquanto a Confederação Nacional do Turismo (CNTur)
estima que 30% dos restaurantes e similares em toda a rede brasileira não
suportarão a falta de clientes, totalizando cerca de 200 mil estabelecimentos
fechando as portas, gerando uma onda maciça de desemprego num curto espaço de
tempo.
Pesquisa da Confederação Nacional do Comércio de Bens,
Serviços e Turismo (CNC) mostra que, somente em março, foram R$ 11,96 bilhões
em perdas de receita, uma queda de 84% em relação ao mesmo período de 2019.
De acordo com Wilson Luiz Pinto, Secretário Geral da CNTur,
o grande problema é que restaurantes possuem pouco capital de giro, por ser
atividade de alto custo e com margem de lucro baixa. "Um ponto comercial
precisa ser num lugar bem visível, com um valor aluguel extremamente caro. A
atividade também exige muitos funcionários e, além disso, temos uma alta carga
de imposto sob os ombros da categoria. É impossível ficar um mês parado, sem
faturar. Os números são tristes, mas teremos, só na cidade de São Paulo, mais
de 20 mil pedidos de falência. Uma situação que irá demorar anos para
revertermos", alerta Luiz Pinto, que também é presidente do Sindicato dos
Restaurantes, Bares e Similares de São Paulo (SindResBar-SP).
"Estudos da JP Morgan mostram que temos menos fôlego
pra aguentar a crise, entre todas as atividades econômicas. O documento mostra
que setor aguentaria 16 dias fechado, ou seja, já entramos num colapso de
vendas, com queda de faturamento de 90%", avalia Paulo Solmucci,
presidente Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (ABRASEL).
"Já entramos num
colapso de vendas,
com queda de
faturamento de 90%", alerta Paulo Solmucci,
presidente da ABRASEL
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Uma das modalidades que vem mantendo o setor, o delivery não
é visto como uma solução definitiva por Solmucci. Segundo o dirigente, o
sistema ameniza, mas não é o bastante para quitar as contas dos
estabelecimentos.
"O salão que realmente é responsável pelo faturamento, a
maioria absoluta dos restaurantes não consegue pagar nem mesmo a folha salarial
com pedidos por telefone. Essa modalidade é uma medida paliativa. Precisamos
que essa pandemia passe rapidamente, se não o prejuízo será ainda maior",
lamenta. O representante da ABRASEL também cobra mais ações dos governantes.
"Até agora, só tivemos contrapartida do Governo Federal, mas estados e
municípios precisam fazer mais, como reduzir impostos e contas. Só isolamento
social não resolve a situação".
Hotéis são os que mais sentem a crise, alega Alexandre
Sampaio, presidente da FBHA. "Fomos os primeiros a sofrer com a pandemia e
seremos os últimos a voltar à atividade normal. Estimamos que mais de três mil
hotéis e pousadas fechem as portas, durante essa crise, pelo alto custo de
manutenção e funcionamento desse tipo de estabelecimento", explica.
Sampaio acredita que deve haver uma concorrência predatória
prejudicial, pela ânsia de fazer caixa, e que somente um aporte do Governo
Federal pode reduzir os danos. "As diárias serão mais baixas e alguns
estabelecimentos podem até cobrar valores que não cobrirão nem mesmo seus
custos operacionais, pela necessidade de fazer caixa com urgência, pois as
linhas de financiamento para capital de giro infelizmente estão empoçadas".
O presidente da FBHA avalia que emendas à Medida Provisória 936 podem ser uma
solução. "Buscamos uma prorrogação do prazo de vigência da suspensão do
contrato de trabalho e idêntica prorrogação na diminuição da carga horária dos
funcionários, além de revisão das contas de energia e outras cobranças de
competência estadual. Reformas tributárias terão que ser retomadas também, com
urgência", completa.
Desemprego preocupa sindicatos
A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Turismo e
Hospitalidade (Contratuh), que representa mais de quatro milhões de
trabalhadores do setor, afirma que busca aditamento das convenções
coletivas para tentar reduzir a onda de demissões nessa crise econômica,
contando com o auxílio do Governo Federal para completar a renda da categoria.
"Estamos dando subsídio para as nossa entidades filiadas, além de
buscarmos termos aditivos para as convenções coletivas, com base na Medida
Provisória 936, tentando buscar juntamente aos empregadores uma saída
plausível, como uma ajuda compensatória, além do que está previsto na MP, para
que a classe trabalhadora tenha o mínimo para poder se manter, diante dessa
crise", explica Wilson Pereira, presidente da confederação.
"Vamos tentar
mitigar ao máximo essa crise,
mas é inevitável a
grande perda de empregos",
alerta Wilson
Pereira, presidente da Contratuh
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A ajuda compensatória é um complemento com base no mesmo
cálculo do seguro desemprego, que paga 80% do salário registrado em carteira. A
MP permite uma redução pela metade da jornada de trabalho, fazendo
consequentemente que as empresas arquem com um salário proporcional a esse novo
tempo de serviço e o governo complete esse valor. "Existe a possibilidade
do empregador dar uma ajuda compensatória também, sem incidir na folha de
pagamento, para que cheguemos ao salário integral desse trabalhador, que já
abriu mão de gorjetas que complementam sua renda. O piso da categoria não é
alto, então precisamos evitar essa precariedade na qualidade de vida do
trabalhador que está na base da pirâmide", avalia Agilberto Seródio,
advogado da entidade.
Sobre o desemprego, o presidente da confederação acompanha
os dados de representantes do setor patronal e mostra um quadro grave.
"Podemos ter até meio milhão de desempregados no Turismo e Hospitalidade,
que engloba hotéis, restaurantes, bares e toda uma cadeia do setor que dependem
do turista e da circulação de pessoas para sobreviver. Vamos tentar mitigar ao
máximo essa crise, mas é inevitável a grande perda de empregos", alerta
Wilson Pereira.
Ministério do Turismo promete novas medidas
"A nossa missão é fazer com que o setor saia o mais
inteiro e com o menor dano possível. Queremos evitar desmonte do turismo no
Brasil, salvando empregos e empresas, para que a gente esteja um passo a frente
a outros países para uma retomada mais eficiente", explica o ministro do
Turismo, Marcelo Álvaro.
O ministro afirma que o governo federal tem trabalhado em
medidas que flexibilizem as relações de trabalho, mas também em outras áreas.
"Mudanças no Código de Defesa do Consumidor, para que não tenhamos um
reembolso maciço de cancelamento de viagens, linhas de crédito e outras medidas
vem sendo construídas e monitoradas ao longo do tempo. Ainda pensamos na
possibilidade de investirmos 500 milhões de reais na promoção do Brasil no
exterior e estimulando turismo doméstico. Nosso corpo técnico é enxuto, mas
estamos trabalhando exaustivamente para reverter essa situação", finaliza
o ministro Marcelo Álvaro.
Guilherme Paulus, é sócio-fundador da CVC, pede um
alinhamento de municípios, estados e governo federal. "O Fórum do Turismo
não teve nenhum reunião ainda, é precisamos ouvir mais o setor também, que tem
uma série de reivindicações. Desses 500 milhões que a Embratur quer investir,
uma grande parte precisa ficar na publicidade interna. Além disso, é preciso
criar subsídios para as companhias aéreas regionais, alinhando receptivo e hotéis
junto ao ministério. Reunir operadoras para tarifas especiais, para termos um
turismo interno forte. Estou disposto a criar isso e contro com a ajuda do
Ministério do Turismo".
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