Mais de 1,5 bilhão de alunos e 60,3 milhões de
professores de 165 países foram afetados pelo fechamento de escolas devido à
pandemia do coronavírus. Nessa crise sem precedentes, de proporção global,
educadores e famílias inteiras tiveram que lidar com a imprevisibilidade e, em
benefício da vida, (re) aprendemos a ensinar de novas maneiras. Na China, cerca
de 240 milhões de crianças e jovens se adaptaram rapidamente ao fechamento das
instituições de ensino e passaram a ter aulas remotas em uma escala jamais
vista, da Educação Básica ao Ensino Superior. Os chineses mostraram que é
possível fechar as salas de aula sem parar de aprender.
Recebi um meme que traduz a mais pura realidade:
não é o departamento de TI, o gestor de inovação ou o presidente visionário que
está acelerando a digitalização das organizações. É a COVID-19. Pelo simples
fato de o isolamento social ter obrigado o mundo a se adaptar às formas
digitais de trabalhar, ensinar, aprender e interagir.
Uma questão a se pontuar é a desigualdade gigante
entre os sistemas públicos e privados da Educação Básica - e a própria
distância social entre as famílias dos estudantes. Enquanto alunos de escolas
particulares aprendem por meio de diversos recursos e estratégias combinadas,
como vídeo ao vivo ou gravado, envio de tarefas, mentoria e sessões em grupos
menores para tirar dúvidas, muitos estudantes das escolas públicas sequer têm
acesso à internet.
Além disso, nem todos os municípios possuem
estrutura de tecnologia para oferta de ensino remoto e nem todos os professores
têm a formação adequada para dar aulas virtuais. Outra realidade que complica a
adesão de alunos às aulas on-line são os softwares utilizados para esse fim, que,
em sua grande maioria, são desenvolvidos para funcionar em computadores -
ambiente acessado atualmente por apenas 57% da população brasileira, segundo o
IBGE. Muitas crianças da geração Z nunca ligaram um computador e 97% dos
brasileiros acessam a internet pelo celular.
Por isso, empresas, governos e organizações do
mundo inteiro não estão medindo esforços para mobilizar recursos e aplicar
soluções inovadoras e adaptadas ao contexto para oferecer aulas remotas e
encontrar soluções equitativas para os 1,5 bilhão de alunos que estão em casa.
É gratificante ver toda a mobilização global para aportar recursos e
conhecimentos especializados em tecnologia, conectividade, inovação e
criatividade a favor da Educação.
A questão é que fomos todos pegos de surpresa. Em
maior ou menor grau, a comunidade teve que se adequar. E o ensino nunca mais
voltará a ser o que era antes. Nos libertamos das paredes da sala de aula e
descobrimos um mundo de oportunidades nas mãos dos jovens. Os professores
vivenciaram novas formas de ensinar, novas ferramentas de avaliação - e os
estudantes entenderam que precisam de organização, dedicação e planejamento
para aprender no mundo digital.
A crise do coronavírus terá efeitos perenes sobre a
forma de aprender. O isolamento está criando novos hábitos e comportamentos,
tanto nas famílias, quanto nas instituições de ensino, que estão revendo uma
série de processos, estruturas e metodologias. Aprendemos que lidar com a
imprevisibilidade exige um trabalho em grupo muito mais alinhado e que, mesmo
distantes, podemos unir esforços em prol de um bem maior. Um exemplo? Nunca
antes tinha visto tantos professores, de uma mesma disciplina e ano escolar,
unidos no mundo digital para compartilhar atividades, experiências bem
sucedidas, tirar dúvidas e aprender uns com os outros.
Toda crise é uma oportunidade de aprendermos algo
novo e a única coisa que eu tenho certeza é que o mundo vai ser diferente
depois do coronavírus. As crises ensinam aos que estão abertos ao novo. Espero,
sinceramente, que depois dessa pandemia a Educação volte melhor e mais forte. E
que todos esses efeitos sejam irreversíveis.
Paulo Arns da Cunha -
diretor-executivo do Colégio Positivo.
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