Iniciativa é coordenada pelo
Instituto Butantan e inclui unidades certificadas pelo Instituto Adolfo Lutz em
várias cidades; falta de insumos é o principal gargalo para a ampliação da
testagem no Estado de São Paulo (imagem: Centers for Disease Control and
Prevention (CDC))
Uma plataforma com cerca de 20 laboratórios, na
grande maioria públicos e ligados a instituições de pesquisa e ensino do Estado
de São Paulo, busca otimizar a realização de testes para diagnóstico da
COVID-19. A iniciativa é coordenada por Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan e
membro do Centro de Contingenciamento do Coronavírus do Estado. Um dos
objetivos é facilitar a obtenção de insumos para a realização dos testes
capazes de identificar o novo coronavírus (SARS-CoV-2).
“A compra de reagentes está em andamento. Na
próxima semana receberemos a primeira parte dos kits encomendados da Coreia do
Sul. Está tudo entrando nos eixos”, conta Covas à Agência FAPESP. O
pesquisador também integra o Centro de Terapia Celular (CTC), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e
Difusão apoiados pela FAPESP.
Além dos laboratórios do Instituto Adolfo Lutz, do
Instituto Butantan e da rede privada, a iniciativa integra forças-tarefa
criadas pelas três universidades estaduais paulistas, que estão empregando
instalações, equipamentos e pessoal para apliar a testagem no Estado.
A plataforma foi oficializada na quinta-feira
passada (02/4), com seis laboratórios já credenciados para a realização dos
testes de COVID-19 pelo Instituto Adolfo Lutz, além do próprio instituto.
Compõem ainda essa primeira configuração o Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FM-USP); o Hospital das Cínicas e
a Fundação Hemocentro, ambos da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
(FMRP-USP); o Laboratório de Patologia Clínica do Hospital de Clínicas da
Universidade Estadual de Campinas (LPC-HC-Unicamp) e o Hemocentro do Hospital
das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu da Universidade Estadual
Paulista (HC-FMB-Unesp).
Futuramente, devem compor a plataforma mais duas
unidades da Unesp – laboratórios de Imunologia Clínica e Biologia Molecular, do
Departamento de Análises Clínicas da Faculdade de Ciências Farmacêuticas
(FCFAr), em Araraquara; e o de Estudos Genômicos, do Departamento de Biologia
do Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas (Ibilce), em São José do
Rio Preto – e mais três da USP – Hospital Universitário, na capital paulista,
na Faculdade de Odontologia de Bauru e na Faculdade de Zootecnia e Engenharia
de Alimentos (FEZEA), em Pirassununga –, à medida que forem certificadas pelo
Instituto Adolfo Lutz.
Insumos em falta
A principal dificuldade dos laboratórios, que a
plataforma deve ajudar a solucionar, é a falta dos insumos laboratoriais
necessários para realizar os testes.
“O objetivo é que haja uma centralização da
aquisição dos insumos por meio da Secretaria de Estado da Saúde. Neste momento,
é ainda mais importante ter uma fonte fidedigna de insumos”, diz Roger Chammas, vice-diretor da FM-USP e
coordenador da Rede USP para o Diagnóstico da COVID-19 (RUDIC), que deve
realizar 1,5 mil testes diários.
Além das três unidades já integradas à plataforma,
a rede da USP possui outras três em processo de certificação, no Hospital
Universitário, na Faculdade de Odontologia de Bauru e na FEZEA, em
Pirassununga.
Chammas – que realiza estudos sobre câncer com
apoio da FAPESP, mas está colaborando nos esforços
contra a COVID-19 – afirma que a USP ainda tem kits de testes em estoque, mas
em quantidade aquém da necessidade atual. O pesquisador lembra que a
dificuldade em obter os reagentes e demais insumos necessários se deve ao fato
de serem, na grande maioria, importados. E, no momento, há uma alta demanda
mundial por conta da pandemia.
“A nossa dependência externa é imensa. Há
pouquíssimas empresas no Brasil que fabricam reagentes. As grandes fabricantes
são estrangeiras e são poucas, então não há muita margem de negociação. Em
lugares como Coreia do Sul e China, que têm parques tecnológicos muito
desenvolvidos, eles acabam se organizando e produzindo eles mesmos os insumos
que compõem os kits de diagnóstico”, diz.
Testes moleculares
A Unicamp montou infraestrutura e treinou pessoal
para realizar 40 mil testes. O material para os primeiros 6 mil deve chegar em
breve, mas o que foi encomendado para outros mais de 30 mil não está garantido.
“Com os Estados Unidos barrando carregamentos de
materiais destinados a outros países, estamos buscando outras soluções”, diz Alessandro
dos Santos Farias, professor do Instituto de Biologia (IB) da
Unicamp e um dos responsáveis pela certificação do Laboratório de Patologia
Clínica do Hospital de Clínicas da universidade para a realização dos testes (leia
mais em: agencia.fapesp.br/2861/).
Farias e outros pesquisadores da Unicamp buscam
validar diferentes reagentes – usados para a extração do material genético
(RNA) das amostras –, além de enzimas e sondas, usados no processamento das
amostras por meio da técnica de PCR (sigla em inglês para reação em cadeia da
polimerase, método preconizado pela Organização Mundial da Saúde).
“Conseguimos estabelecer um padrão com certos
insumos. A partir disso, estamos testando produtos de outras marcas para
verificar se os resultados são os mesmos. Com essa validação, não ficamos
dependentes de apenas alguns fabricantes”, diz Farias, que testa inclusive
produtos fabricados no Brasil.
A ideia é disponibilizar todos os protocolos que
funcionarem no site da força-tarefa, de forma a contribuir
para que outros laboratórios não parem por falta de determinados insumos.
Estrutura laboratorial
Com uma unidade pronta para os testes e duas em
processo de certificação, a Unesp também vai contribuir para o esforço do
Estado. O Hemocentro do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de
Botucatu está pronto para começar a fazer 150 testes por dia. “Alguns
laboratórios já têm rotinas assistenciais junto ao Ministério da Saúde, como é
o caso de Botucatu. A mesma rotina e estrutura usadas para testes de HIV,
hepatites C e B serão voltadas para o teste da COVID-19”, diz Rejane Grotto, professora da Faculdade de
Ciências Agronômicas (FCA) da Unesp e responsável pela padronização e execução
dos exames.
A rede da Unesp conta ainda com os laboratórios de
Imunologia Clínica e Biologia Molecular, do Departamento de Análises Clínicas
da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCFAr), em Araraquara; e o de Estudos
Genômicos, do Departamento de Biologia do Instituto de Biociências, Letras e
Ciências Exatas (Ibilce), em São José do Rio Preto, que ainda aguardam
credenciamento do Instituto Adolfo Lutz.
“Os laboratórios foram estruturados nos anos 2000
para o projeto de pesquisa Rede de Diversidade Genética de Vírus (VGDN),
apoiado pela FAPESP, que já naquela época tinha como objetivo principal
estabelecer uma rede de laboratórios estruturados para o estudo da diversidade
genética de vírus e também para contribuir em situações como a pandemia que
enfrentamos agora, com resposta rápida em termos de saúde pública ”, diz
Grotto.
Com o projeto de pesquisa, foram estruturados
laboratórios com nível de biossegurança 3 (Araraquara) e 2 (Botucatu e São José
do Rio Preto), na escala que vai até 4. Isso permite realizar testes que
manipulam o material genético do vírus para a identificação da COVID-19, como o
PCR.
A organização da rede de laboratórios de referência
para a COVID-19 é a primeira iniciativa do comitê científico criado para
nortear as ações da Unesp relacionadas ao novo coronavírus. “A rede consegue,
no curto prazo, disponibilizar o diagnóstico, que é o grande gargalo hoje da
pandemia no Brasil. O fato de a Unesp ter vários campi espalhados pelo
Estado torna a iniciativa ainda mais estratégica, pois permite grande cobertura
no interior, o que pode ajudar a vigilância da pandemia”, diz.
De acordo com Grotto, a expectativa com a rede de
testagens é gerir a entrada do vírus para o interior e orientar ações de
contenção. “Com um diagnóstico mais ágil é possível testar também quem teve
contato com pacientes infectados e, assim, tentar conter a transmissão do
vírus. Assim foi feito em Singapura e na Coreia do Sul, dois países
considerados referência na resposta à epidemia, que faziam em torno de 10 mil
testes por dia”, disse.
A rede também vai realizar pesquisas de maneira
integrada. “Vamos trabalhar em duas frentes: diagnóstico e pesquisa.
Pretendemos pesquisar aspectos epidemiológicos, interação célula-patógeno,
desenvolvimento de novas tecnologias, desenvolvimento de ferramentas para
definição de desfecho e investigação de prováveis sequelas, por exemplo. É
importante investigar os efeitos dessa síndrome agora, pois a pesquisa é
translacional. Os resultados podem ajudar a salvar vidas”, diz.
André Julião e Maria Fernanda Ziegler
Agência FAPESP
http://agencia.fapesp.br/laboratorios-da-usp-unicamp-e-unesp-integram-plataforma-de-testes-para-diagnostico-da-covid-19/32924/
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