Especialistas
analisam os atuais hábitos de consumo e sugerem mudanças estruturais com foco
no fortalecimento local
A crise que estamos enfrentando hoje devido ao novo
coronavírus vai contra tudo o que foi construído nos últimos anos. Mercados
globais paralisados, fronteiras fechadas e noções sociais e culturais em
constante transformação. Diante das incertezas do cenário mundial, diversos questionamentos começam a surgir. Quando tudo isso
passar, o mundo que encontraremos será o mesmo que tínhamos antes? Como nós,
como sociedade e comércio, vamos reagir a isso? Quais os tipos de negócios que
irão aflorar primeiro quando tudo voltar ao normal? Se até a forma como nos
cumprimentamos mudou – os abraços e beijos deram lugar a acenos distantes –, o
que serão dos outros hábitos culturais?
Para o
empresário do segmento da alimentação José Araújo Netto, fundador das badaladas
redes Porks – Porco & Chope e Mr. Hoppy, que contam com mais de 50 unidades espalhadas pelo
país, a recuperação mais rápida só vai acontecer por meio da responsabilidade
social e do sentimento de comunidade. “Este é
um momento crucial na trajetória da população mundial, de pensarmos como
comunidade e agirmos em prol de uma reabilitação conjunta”, diz o empresário.
“É preciso pensar nos pequenos comerciantes do bairro e fazer com que o
dinheiro continue circulando para que haja um crescimento compartilhado, não
apenas individual”, afirma.
Nos
últimos anos, grande parte da população dirigia seus esforços de compra para as
grandes redes de comércio, que conseguem vender barato, com qualidade e
relativamente perto, entretanto não fazem o comércio local girar. Para Araújo
Netto, campanhas como “compre do pequeno”, que já estão circulando na internet,
são essenciais para que os danos da crise sejam reduzidos gradualmente. “O
empreendedor sabe que vai enfrentar dificuldades e que terá que se reinventar
para sair da crise, mas este é o momento do consumidor ser inteligente a ponto
de fazer parte dessa transformação, não pode ser mais um simples receptor”,
explica. “A partir do momento que o consumidor deixa claro o que precisa e se
mostra disposto a pagar um pouco mais, o pequeno comerciante pode retribuir,
aumentando a qualidade e gerando benefícios a sua comunidade local”, diz.
Para
Horacio Coutinho Junior, consultor de Negócios e Marketing em San Diego (EUA),
o momento exige mudanças em termos de estratégia empresarial. “Para se reinventar,
é preciso ter personalidade de marca. Não adianta fingir que se preocupa com o
bairro, mas não se envolver com a comunidade”, diz. “É momento do dono de
restaurante entender que não vende comida, mas sim uma experiência. Afinal, se
fosse só pela comida, o serviço de entrega por delivery deveria servir”, conta.
De
acordo com o especialista, nessa nova construção de coletivos e interesses em
comum, será preciso reduzir a polarização do comércio para que a renda seja
melhor distribuída localmente. “A questão não pode mais ser ganhar dinheiro só
pelo dinheiro em si, mas sim para fortalecer a comunidade em que seu comércio
está inserido”, afirma. Para Coutinho Junior, os empresários estão pensando em
resolver seus problemas com uma mentalidade anterior à crise, mas que não será
suficiente para o mundo pós-pandemia. “Dinheiro sem construção social leva ao
caos que vivemos hoje”, complementa o consultor.
Embora
ainda existam muitos desafios pela frente para chegarmos a este modelo de
sociedade proposto, o atual momento nos permite pensar qual rumo queremos dar
para nossas vidas. “Se a resposta encontrada for uma mudança de ritmo, com mais
tempo para a família e mais qualidade de vida, esta crise ainda pode trazer
resultados positivos para o futuro”, completa Araújo Netto.
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