A arqueóloga Joana
Freitas e o filósofo e psicanalista Fabiano de Abreu contróem o conceito do
motivo e solução para evitar o câncer
No dia 8 de abril acontece o Dia Mundial
de Combate ao Câncer, uma data que tem como objetivo chamar a
atenção de líderes políticos e de toda a sociedade em geral para o crescimento
dos índices da doença, que, segundo o IBGE, vem crescendo continuamente nas
duas últimas décadas.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no
ano passado registaram-se em todo o mundo cerca de 18 milhões de novos casos de
câncer e 9,6 milhões de pessoas ainda devem morrer por causa dele. As
estatísticas apontam para uma projeção alarmante: duas em três pessoas nascidas
hoje podem vir a desenvolver câncer, segundo cientistas britânicos do Câncer
Research UK. Mas como chegamos a este ponto e o que fazer para reduzir a
incidência desta doença?
Diversos especialistas apontam que o câncer já pode
ser considerado uma epidemia mundial e por isto estudiosos de áreas
multidisciplinares tem unido esforços em busca de respostas. O filósofo Fabiano de Abreu e
a arqueóloga Joana Freitas buscam
entender a proliferação da doença através do processo evolutivo da humanidade,
já que a escalada de casos da doença é recente. Há pouco tempo atrás o câncer
era pouco documentado, a quantidade de doentes detetados tendo o câncer sido a
causa de morte, assim como também a doença era poucas vezes referida na
literatura médica.
“O câncer hoje faz parte do nosso cotidiano. A
doença é comentada à mesa durante o almoço quando olhamos para o que comemos,
quando cozinhamos e devido a tantos casos de pessoas conhecidas que enfrentam
ou enfrentaram a doença. Aprofundando as minhas concepções sobre a doença e
seus motivos, levei em frente uma pesquisa baseada nos dados já confirmados, em
estudos que fiz em sites confiáveis na internet e também com o apoio da
arqueóloga Joana Freitas, para que chegássemos a uma teoria que, embora pareça
um pouco óbvia, precisava de aprofundamento”, revela Fabiano de Abreu.
Evolução x Adaptação
De acordo com a teoria formulada por Fabiano e
Joana, o câncer se deve a uma defasagem entre a evolução material, vivencial e
a adaptação genética: “o ser humano está a mudar os seus comportamentos e
hábitos, com especial foco nos hábitos alimentares e rotina de vida, de uma
forma tão repentina que, se comparado com o tempo que o ser humano necessita
para evoluir geneticamente para fazer face a uma mudança, não há uma sintonia
evolutiva. Nossa adaptação genética não alcança a acelerada evolução que
proporcionamos em nossa vida. Nosso organismo precisa de um tempo para
adaptar-se às mudanças e esta adaptação, que é passada também geneticamente
através das gerações, não teve o tempo hábil para adquirir algumas
dessas nuances e, por isso, sofremos suas consequências.”, ponderam.
Ao olhar para o processo evolutivo, sob a ótica da
arqueologia e da biologia, os estudiosos traçam uma linha do tempo em que se
confere que há um descompasso entre as mudanças comportamentais e o tempo
cronológico decorrido: “nos últimos dez mil anos, o ser humano evoluiu e
desenvolveu novos costumes de forma repentina, se comparado ao panorama evolutivo
geral. Precisamos de milhares de anos para evoluir e adaptarmo-nos às novas
situações como consequência dos costumes. Contudo, em dez mil anos criamos
tantas mudanças, tantas situações em que a adaptação seria necessária e isso
está causando uma confusão em nosso organismo. Não podemos esquecer que dez mil
anos são como se fossem segundos no panorama global da história evolutiva
humana e que para cada alteração é necessário mais tempo do que isso”.
Histórico do câncer através do
tempo
O primeiro aparecimento de um caso de câncer, com o
surgimento de um tumor, data de 4000 anos antes da Era Comum, mas foi a partir
da Grécia Antiga, na escola de medicina de Hipócrates, que o câncer foi
definido como um tumor duro que poderia voltar, mesmo depois de retirado.
No entanto, somente no século XVIII, com os estudos
do anatomista Giovanni Battista, somados aos conhecimentos do médico francês
Marie François Xavier, que o câncer passou a ser entendido como é hoje. Os
casos de câncer documentados eram em muito menor número que na
atualidade.
Principais factores apontados
pelos estudiosos para o surgimento do câncer
E como explicar o aumento estrondoso dos casos de
câncer em todo o mundo? Para isso, Fabiano de Abreu e Joana Freitas formularam
uma teoria que procura explicar a causa não apenas da proliferação da doença
como epidemia global, mas também em especificidade do indivíduo, considerando o
órgão ou parte do corpo afetada.
Para os estudiosos que formularam esta teoria
embasada no processo evolutivo, o câncer está ligado não só a questão da
adaptação genética alimentar mas também as mudanças no mundo com esta evolução
tecnológica acelerada: "O câncer em um âmbito geral, é a consequência da
não adaptação temporal às mudanças. Tudo está relacionado ao facto de estarmos
de forma muito rápida tentando mudar a natureza evolutiva. E assim também a
cura se torna mais difícil pois, a doença, não é ocasionando por um vírus, nem
uma bactéria, nem um ser hospedeiro. Não é uma influência externa e sim interna”.
PULMÃO
Com 1,2 milhão de novos casos a cada ano, esse é o
tipo de câncer mais comum e também o que mais mata no mundo.
Um câncer como consequência do cigarro e da
poluição, todos mecanismos de uma nova era criada por nós em que não
conseguimos adaptar-nos.
MAMAS
É o tipo de câncer que mais mata mulheres. No mundo
todo surgem cerca de 1 milhão de casos anualmente.
Ele está relacionado ou com a falta de filhos ou a
maternidade tardia. A prova disso é que a maioria dos casos são em mulheres
acima de 30 anos e que não tiveram filhos ou tiveram
filhos tardiamente.
O corpo feminino foi projetado para ter filhos e
desde a pré história até a idade medieval as mulheres tinham filhos cedo. O
organismo ainda não adaptou-se aos novos costumes e por isso as consequências.
COLO-RETAL
Esse câncer, que atinge a região do intestino
grosso e do reto, é o terceiro tipo mais comum no mundo, com 940 mil novos
casos por ano.
Ele está relacionado com a alimentação e o país com
o maior número de casos, é o que consome mais comida industrializada: os
Estados Unidos.
Está relacionado à obesidade e ao sedentarismo. Não
éramos obesos há mais de dez mil anos atrás e também não éramos sedentários.
Nossa alimentação era o resultado da alimentação necessária para termos evoluídos
até então.
FÍGADO
Quinto colocado em incidência (com 560 mil novos
casos anuais), é o terceiro que mais mata. Geralmente está associado ao
alcoolismo, já que nunca consumimos tanto álcool na história da humanidade e à
hepatite B e C.
No entanto a doença também pode ser provocada pelo
consumo de grãos mal armazenados, nos quais crescem fungos que produzem
toxinas cancerígenas.
Também está relacionado com a industrialização dos
alimentos.
MELANOMA
O melanoma é um câncer pouco incidente se comparado
aos demais tipos. São cerca de 130 mil novos casos por ano, o que corresponde a
só 5% de todos os casos de câncer de pele do mundo.
Os povos após os descobrimentos (século 16)
migraram para regiões que sua pele não estava adaptada. Caucasianos e pessoas de
pele clara são as que mais sofrem da doença e principalmente as que se assentam
em regiões que não são nativas, principalmente lugares mais quentes.
Qual poderia ser uma cura para
o câncer?
Segundo a teoria dos dois estudiosos, a resposta
para a cura do câncer pode estar em tentar seguir padrões alimentares e
comportamentais baseados nos exemplos de civilizações anteriores à epidemia da
doença. Logo adotar hábitos que remetem a períodos antes da revolução
industrial pode ajudar a reduzir a incidência da doença: “o câncer é uma doença
que se propaga com a modernidade. Os nossos hábitos que se estabeleceram
gradualmente desde que nos tornamos populações sedentárias tiveram grande
impacto neste aumento da doença. O nosso modo de vida fez com que vivêssemos
mais tempo, o que também é um factor que contribui para o aumento de casos mas,
a par desta situação temos outras complicações”, afirmam.
Fabiano de Abreu aponta alguns dos pontos negativos
advindos da modernidade: “como seres sedentários já não nos movimentamos tanto
como nossos ancestrais. Hoje ingerimos uma quantidade astronômica de comida
processada, o consumo de bebidas alcoólicas aumentou exponencialmente, o
consumo de tabaco e associados igualmente e tudo isto tem seu preço. Preferimos
os meios urbanos para habitar com todos os riscos que acarretam sobretudo em
relação a poluição, a nossa reprodução é cada vez mais tardia e os nossos
ciclos ativos e de repouso já não se dão de acordo com o ciclo dia/noite. A
modernidade tem um preço e pode estar a matar-nos aos poucos”.
Fabiano de Abreu é membro da Mensa, associação de
pessoas mais inteligentes do mundo com sede na Inglaterra conseguindo alcançar
o maior QI registrado com 99 de percentil o que equivale em numeral a um QI
acima de 180. Especialista em estudos da mente humana, é membro e sócio
da CPAH – Centro de Pesquisas e Análises Heráclito, com
sede em Portugal e unidades no Brasil e na Holanda.
Joana Freitas - formada em arqueologia pela Universidade
do Porto e pela Universidade Autónoma de Barcelona, tem por áreas de estudo a
pré-história e a evolução da espécie humana. Membro e sócia da CPAH – Centro de
Pesquisas e Análises Heráclito, com sede em Portugal e unidades no Brasil e na
Holanda. De entre dezenas de trabalhos de campo de diversas
épocas, os mais importantes foram os trabalhos e estudos nos lugares
calcolitícos de Foz Côa. Desenvolve ainda trabalhos nas áreas da arquitetura de
terra e a sua presença no desenvolvimento humano.
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