Enfermidade pode evoluir para óbito em até 20% dos
casos no Brasil, podendo matar em até 24h após os primeiros sintomas²
O
dia 24 de abril é marcado mundialmente com ações de combate à Meningite, doença
grave, com alto poder de letalidade, e que pode causar sequelas como paralisia
cerebral, perda de membros, audição, visão ou até levar à morte em pouco tempo
das primeiras manifestações dos sintomas. Em até 20% dos casos a doença leva o
paciente a óbito, em até 24h depois dos primeiros sintomas.²
Por
se apresentar, muitas vezes, de forma assintomática, a meningite tem um alto
poder de contágio visto que algumas pessoas podem ser portadoras das bactérias
que transmitem a doença sem estarem doentes e espalham a bactéria para outras
pessoas que podem vir a ficar doentes.³ Por outro lado, já há vacinas contra a
doença, que protegem não apenas quem as toma, mas todos ao seu redor. Isso
acontece pois ao se vacinar, o indivíduo deixa de ser um transmissor, o que
contribui para a inibição da propagação da meningite.
Este
ano, quando vivenciamos os males que uma doença pode causar, como a pandemia
mundial por conta do coronavírus, vale a reflexão sobre o grau de propagação de
vírus e bactérias que causam doenças sérias como a covid-19 ou a meningite
meningicócica, e perguntamos: na guerra contra a meningite, de que lado você
quer estar?
Para
falar com propriedade sobre o assunto, convidamos o atleta paralímpico de
voleibol sentado Daniel Yoshizawa, vítima da meningite meningocócica. Hoje, aos
34 anos, é porta-voz do combate à doença e a favor da informação e da
imunização.
Aos
21 anos o até então operador de máquina em indústria plástica, acordou com uma forte dor de cabeça e em questão de
poucas horas entrou em coma. No hospital foi diagnosticado com Meningite
Meningocócica (causada por um grupo de bactérias chamadas meningococos) e após
14 dias em estado de coma acordou e foi informado que teria que amputar as duas
pernas, até acima do joelho, cinco dedos da mãe esquerda e um dedo da mão
direita.
“Esse
dia ficará marcado na minha vida. Sempre acordei disposto e não ficava rolando
na cama. Aquele dia foi diferente, pois a dor na cabeça, bem na nuca, e a
moleza no corpo não permitiram que eu me levantasse e nem fosse trabalhar. Com
ajuda dos meus pais e amigos cheguei ao hospital e logo tive convulsões e
entrei em coma”, relata Daniel Yoshizawa.
De
acordo com o Ministério da Saúde, o risco de contrair a doença é maior entre
crianças menores de cinco anos, principalmente até um ano, e para este público
as campanhas de vacinação são intensificadas e fazem parte do Calendário
Nacional de Vacinação. Entretanto, os adolescentes e adultos jovens também
possuem risco aumentado de contrair a doença causada pela bactéria Neisseria
meningitidis, que pode ser fatal em qualquer idade. Diante disso, o reforço
da dose da vacina aos 11 e 12 anos faz-se necessário para para proteger
estes indivíduos.³ No período de 2015 a 2019 mais de 50% dos casos de DM
ocorreram em indivíduos maiores de 15 anos.¹
Especialistas
afirmam que o público adolescente faz parte do grupo de portadores
assintomáticos do meningococo, que podem estar infectados sem manifestar
sintomas, visto que o adoecimento depende da baixa imunidade do sistema
imunológico da pessoa. Para a médica ocupacional Sheila Homsani, diretora
médica da Sanofi Pasteur, mesmo que não adoeça, quando o adolescente fala perto
de alguém, beija, troca copos, pode transmitir a bactéria pela saliva ou
respiração. “A vacinação contra meningite na adolescência protege tanto os
integrantes dessa faixa etária quanto os mais novos e os mais velhos”,
esclarece.
Um
momento para refletir: De que lado você vai ficar no combate à Meningite?
Neste
Dia Mundial de Combate à Meningite, Daniel usa sua experiência em engajar as
pessoas obtida como capitão da seleção de voleibol sentado do Sesi São Paulo,
esporte pelo qual integra também a seleção brasileira, para convidar a todos a
entrarem neste reflexão e ajudar a aumentar a cobertura vacinal contra a
meningite.
O
atleta relata que, até os 21 anos, nunca tinha entrado em contato com pessoas
que tiveram a doença ou ouvido história de terceiros que foram acometidos pela
meningite, e que isso o fez pensar que era uma doença que só atingia crianças.
“Na minha adolescência e juventude, eu. Só o que lembro era de ver campanhas
para crianças, sem foco nos adolescentes. E isso me fez ver que meu papel era
falar para todos os públicos sobre a doença, as sequelas que ela me deixou, e
da importância da vacinação em crianças, adolescentes e em toda faixa que for
necessário”, diz Yoshizawa.
Sintomas
da meningite
Devido
ao alto grau de letalidade da doença, ao perceber os primeiros sintomas que
podem dar indícios de meningite, como início súbito de febre, dor de cabeça e
rigidez do pescoço, a orientação é procurar imediatamente um atendimento médico.
A demora nos procedimentos médicos adequados pode culminar em mortes ou em
sequelas irreversíveis.¹
Em
alguns casos outros sintomas podem aparecer associados aos principais, são
eles:
·
Mal estar
·
Náusea
·
Vômito
·
Fotofobia
(aumento da sensibilidade à luz)
·
Status
mental alterado (confusão)
Em
questão de horas, como o que aconteceu com Daniel Yoshizawa, a doença pode
evoluir rapidamente e sintomas mais graves podem aparecer, como: convulsões,
delírio, tremores e coma.
No
caso de crianças menores de 2 anos os sintomas apresentados anteriormente podem
ser mais difíceis de serem notados, mas cabe aos pais e responsáveis avaliarem
o grau de irritabilidade dos bebês, assim como a ocorrência de vômitos, falta
de apetito, ou no estado de letargia (sonolência) ou não respondendo a
estímulos sensoriais ou motores.³
Os
tipos de meningite
Causada
por vírus, bactérias, fungos ou outros agentes infecciosos, a meningite
bacteriana (infecção das membranas que recobrem o cérebro) é considerada como
uma das mais temidas doenças imunopreveníveis.4 Ela é causada pela
bactéria Neisseria meningitidis (meningococo) e é mais grave quando atinge a
corrente sanguínea, provocando meningococcemia — infecção generalizada. De
acordo com a Sociedade Brasileira de Imunização (SBIm), 1.500 a mais de 3 mil
brasileiros são acometidos pela doença todos os anos, e que pessoas não
vacinadas de qualquer idade são vulneráveis. “Trata-se de uma bactéria
agressiva, que pode colonizar na nasofaringe, parte de trás do nariz, principalmente
em adolescentes”, explica a médica Sheila Homsani.
As
recomendações das SBIm e da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) são que a
vacinação é a principal forma de prevenção da doença meningocócica, e que mesmo
as vacinas sendo seguras e eficazes (em média, mais de 95% dos vacinados ficam
protegidos)4, hoje sabe se que a proteção gerada pelas vacinas
conjugadas (meningocócica C e ACWY) não são para toda a vida. O mesmo acontece
com quem teve a doença, ou seja, a quantidade de anticorpos cai ao longo do
tempo e o indivíduo deixa de estar protegido, daí a importância das doses de
reforço.4
Transmissão
Por ser uma doença causada por vários agentes, as formas de
transmissão são amplas. As bactérias que causam meningite bacteriana se
espalham de uma pessoa para outra por meio das vias respiratórias, por
gotículas e secreções do nariz e da garganta. Outras bactérias podem se
espalhar por meio dos alimentos, como é o caso da Listeria monocytogenes e da
Escherichia coli.
As meningites virais podem ser transmitidas de diversas
maneiras, dependendo do vírus causador da doença. A contaminação pode ser via
fecal-oral, por meio contato (tocar ou apertar as mãos) com uma pessoa infectada
ou toque em objetos, superfícies, água ou alimentos contaminados e depois tocar
nos olhos, nariz ou boca antes de lavar as mãos.
A meningite fúngica pode se manifestar após inalação dos
esporos (pequenos pedaços de fungos) que entram nos pulmões e podem chegar até
as meninges. Alguns fungos podem ser encontrados em solos ou ambientes
contaminados com excrementos de pássaros ou morcegos.
Referências
¹ Ministério da Saúde. Informe Técnico-Orientações
técnico-operacionais para a Vacinação dos Adolescentes com a Vacina
Meningocócica ACWY (conjugada). Brasília, 2020. Disponível em: https://saude.es.gov.br/Media/sesa/PEI/Informe%20T%C3%A9cnico%20Informe_ACWY___Adolescente_02_03_2020.pdf. Acesso em 15/04/2020
² Confederation of Meningitis Organisation.
Disponível em: http://www.comomeningitis.org/world-meningitis-day/wmd-2020/. Acesso em 15/04/2020
³ Ministério da Saúde. Saúde de A a Z. Meningite.
Disponível em https://saude.gov.br/saude-de-a-z/meningites#. Acesso em 13/04/2020
4 Sociedade
Brasileira de Imunizações (SBIm). Doença Meningocócica. Disponível em https://familia.sbim.org.br/doencas/doenca-meningococica-dm. Acesso em 13/04/2020
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