Criança
precisa brincar! O Brasil é marcado pela violência e essa triste realidade só
mudará quando a infância for cuidada como merece. Richard Louv, fundador da
Children & Nature Network, e autor do livro "A Última Criança na
Natureza", argumenta que o brincar na infância é fundamental para o
desenvolvimento saudável das crianças.
Compartilhando
da premissa de Louv, a Escola Tarsila do Amaral, na zona
sul de São Paulo, reforça o desenvolvimento lúdico das crianças, com uma
pedagogia que favorece a aprendizagem através das múltiplas linguagens. “Aqui
na Tarsila os alunos vivem a infância em sua intensidade. A tecnologia só
tem vez em situações muito pontuais”, diz Patricia Bignard, coordenadora
pedagógica do segmento infantil e fundamental1.
Educadora
há mais de 30 anos, Patricia enxerga mudança drástica nas últimas
gerações. “As crianças de hoje são muito inseguras para lidar com
problemas, ou em situações que as façam sair da zona de conforto”, diz. Para a
educadora, as famílias têm parcelas de culpa, pois a partir do momento que
permitem os filhos ficarem vidrados em telas de televisões, tablets,
computadores e celulares, tornando-se expert em jogos eletrônicos e apps, estas
crianças estão deixando de viver a infância e não desenvolvem a imaginação e a
criatividade, que são fundamentais para que possam se adaptar ao mundo e enfrentar
situações novas.
Para
ela, a criança sofre violência de várias maneiras. “A criança sofre violência
da negligência, violência dos adultos que estão mais preocupados com outras
coisas do que com ela, tudo isso é violência, é uma violência suave. Tem muitas
famílias que acham que o bem material substitui o tempo que estão ausente”, diz
Patricia.
Na
Tarsila, a presença diária da psicóloga colabora bastante para aproximar as
famílias da educação dos filhos. “A escola é muito aberta com as famílias, e
está bem atenta a cada um dos alunos. Quando percebemos alguma falha, chamamos
as famílias e tentamos mostrar a importância de estarem presentes na vida dos
filhos”, conta Patrícia.
Para
a educadora, o Brasil é um país muito violento e dificilmente as escolas conseguirão
virar o jogo porque a infância não é cuidada como deveria ser. “Todo educador
quer que as crianças tenham autonomia, que sejam independentes, porém só podem
atribuir liberdade, quando as crianças têm noção das consequências dos seus
atos. As crianças de hoje são mais inseguras, mas também estamos observando
essa insegurança na geração dos profissionais de pedagogia que estão entrando
no mercado de trabalho. Antigamente, quando fazíamos formação, tratávamos de
questões técnicas pedagógicas. Hoje, temos de falar sobre postura de
profissional”, explica.
Diante
desse contexto, é importante discutir as possíveis formas de equilibrar a vida
profissional e a responsabilidade parental, para que os pais possam se dedicar
ao cuidado dos filhos e transmitir valores mais sólidos e duradouros. Além
disso, é fundamental que haja maior conscientização sobre os danos que a
exposição descontrolada às tecnologias pode causar e sejam criadas soluções
para minimizar esses riscos.
Nessa
perspectiva, a pauta busca debater as causas e consequências desse modo de vida
acelerado, evidenciando a importância do papel dos pais no desenvolvimento
emocional das crianças e na construção de uma sociedade mais
equilibrada e saudável.
Jornalista