Enquanto chefes de Estado, autoridades, cientistas, organismos
multilaterais e ambientalistas globais reuniam-se em Belém do Pará na COP 30,
discutindo metas e compromissos climáticos, uma atividade árdua, silenciosa e
invisível para muitos seguia seu curso nas ruas, becos e avenidas do Brasil e
do mundo. É o trabalho das catadoras e dos catadores de materiais recicláveis.
Eles não discursam, não ocupam palcos e não falam em nome de países. Mas, são,
talvez, os agentes mais próximos da essência do que significa cuidar do
planeta.
São mãos que recolhem o que a sociedade descarta, que
transformam o lixo em vida e o descuido coletivo em sustento familiar. A
atividade que desempenham, reconhecida pelo Ministério do Trabalho e Emprego
desde 2002, é uma das colunas da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Ao
coletar, separar, classificar e comercializar o que pode ser reaproveitado, os
catadores estendem a vida útil dos aterros sanitários, reduzem a pressão sobre
os recursos naturais, ajudam a conter as emissões de gases de efeito estufa e
transformam em itens de valor agregado o que seria um danoso passivo ambiental.
Entretanto, embora reconhecida oficialmente, essa
categoria ainda vive majoritariamente à margem da formalidade. A maioria
trabalha sem contrato, sem proteção social e sem os direitos que deveriam
acompanhar uma atividade essencial para o equilíbrio do meio ambiente. Segundo
dados da International Alliance of Waste Pickers, há mais de 281 mil
catadores atuando no Brasil, entre autônomos, cooperados e associados.
No entanto, o número real pode chegar a 800 mil, já
que grande parte exerce o ofício de maneira informal e não registrada. São
esses trabalhadores, muitas vezes despercebidos pela sociedade, os responsáveis
por 90% da reciclagem dos resíduos sólidos urbanos em nosso país, numa contribuição
que movimenta cerca de US$ 5,5 bilhões em reciclagem por ano (dados de 2013).
Durante a COP, falou-se em justiça climática, em
transição verde e em economia circular. Mas, justiça ambiental começa também no
chão das cidades, onde a desigualdade e o lixo misturam-se. Cada saco coletado
é uma afirmação de dignidade. Cada material limpo e separado é um ato político,
talvez o mais concreto e diário de todos na agenda do clima.
É a história dessa gente valorosa que busco contar em
um documentário que estou realizando: a de uma família da periferia de São
Paulo que vive da reciclagem. A mãe, o pai e a filha percorrem as ruas com um
carro antigo, recolhem materiais, enfrentam o preconceito e ainda encontram, na
rotina e na fé, motivos para seguir. No sítio do interior, o sonho de cultivar
a terra completa o ciclo da vida e do trabalho.
Essa história é, ao mesmo tempo, pessoal e
planetária. Porque cuidar do planeta não é apenas plantar árvores e fazer
discursos, mas enxergar as pessoas que limpam o nosso descuido. O problema do
lixo é coletivo, pois nasce nas prateleiras, nas embalagens não recicláveis e
na falta de consciência de quem consome. E o que para uns é resto, para outros
é sustento e esperança. Enquanto os líderes discutiram metas de carbono, acordos
jamais cumpridos e cronogramas de neutralidade, nas ruas do mundo continuou o
trabalho dos que, com as mãos e a coragem, impedem que o lixo sem reciclagem
soterre de modo definitivo a agenda do clima.
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quinta-feira, 4 de dezembro de 2025
COP 30... Enquanto isso, nas ruas do mundo...
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