Em um país que depende majoritariamente das estradas para movimentar sua economia — cerca de 65% de toda a carga nacional é transportada por rodovias —, o seguro deixou de ser apenas uma exigência contratual para se tornar um elemento essencial à sobrevivência e à competitividade das transportadoras. Ele é, ao mesmo tempo, um escudo contra prejuízos e uma ferramenta de viabilização de negócios.
Nos
últimos anos, o setor de transporte tem enfrentado um cenário desafiador,
marcado pela escalada dos custos logísticos, aumento da sinistralidade e maior
rigor nas exigências de compliance. Segundo levantamento da NTC&Logística,
o Brasil registrou 10.478 roubos de carga em 2024 — uma queda de 11% em relação
ao ano anterior. O número, que à primeira vista parece positivo, esconde uma
realidade preocupante: os prejuízos chegaram a R$ 1,217 bilhão, um aumento de
21%, refletindo o alto valor agregado das cargas e o crescimento das
indenizações, que no primeiro trimestre de 2025 ultrapassaram R$ 904 milhões,
um salto de 46,5% sobre o mesmo período do ano anterior.
Esses
dados revelam uma verdade incômoda: o seguro, antes visto como custo, é hoje um
fator estratégico de sustentabilidade operacional. Ele garante o fluxo
financeiro, protege ativos e ainda abre portas para oportunidades de crédito e
novos contratos. Transportadoras com apólices bem estruturadas conseguem, por
exemplo, acessar grandes embarcadores que exigem coberturas robustas ou negociar
melhores condições junto às instituições financeiras.
Ainda
assim, há um abismo entre o que o mercado oferece e o que muitas empresas
contratam. Pequenas e médias transportadoras, especialmente, continuam operando
com coberturas inadequadas, vulneráveis a riscos que podem comprometer toda a
operação. É nesse ponto que a personalização se torna determinante. Não há
espaço para soluções genéricas — o seguro precisa ser desenhado sob medida,
considerando rotas, tipo de carga, perfil dos motoristas e características da
frota.
Outro
pilar essencial é a gestão de riscos, que hoje vai muito além da apólice. O uso
de tecnologia permite controle mais eficiente sobre sinistros, compliance e
fluxos de indenização, transformando o seguro em um instrumento ativo de planejamento
financeiro. As empresas que incorporam esse olhar estratégico reduzem perdas,
agilizam processos e ganham previsibilidade — algo vital em um setor de margens
cada vez mais apertadas.
A
tendência para 2025 é clara: o mercado caminha para seguros customizados e
digitais, acompanhando as demandas de embarcadores e financiadores. Modelos
baseados em telemetria e seguros paramétricos — já comuns em economias maduras
— começam a despontar no Brasil, permitindo precificação mais justa e respostas
rápidas diante de eventos adversos.
Estamos
diante de uma transformação silenciosa, mas profunda. O seguro deixou de ser
“apólice de gaveta” para se consolidar como peça-chave da sustentabilidade
financeira e operacional do transporte rodoviário. Empresas que enxergarem esse
movimento não como custo, mas como investimento estratégico, estarão mais
preparadas para crescer em um ambiente cada vez mais competitivo, complexo e
volátil.

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