Hipertensão, hipertensão
resistente, hipertensão do jaleco branco: condições diferentes para uma doença
que atinge mais de 38 milhões de brasileiros e leva a problemas graves de saúde
A hipertensão arterial – popularmente conhecida
como pressão alta – é uma doença que atinge, segundo dados do Ministério da
Saúde, 38 milhões de brasileiros. Só em 2019 – e apenas pelo Sistema Único de
Saúde (SUS), foram realizadas mais de 28 milhões de consultas na Atenção
Primária e registradas 52 mil internações relacionadas à hipertensão. A doença,
quando não tratada adequadamente, leva a quadros graves de saúde, porque
interfere diretamente na condição cardiovascular e cerebrovascular e atinge os
rins – só para citar as situações mais comuns.
E o que muitas pessoas não sabem é que, além da
hipertensão arterial sistêmica comum, que é identificada pela elevação da
pressão arterial, existem outros tipos de hipertensão arterial, como a
hipertensão resistente e a hipertensão do jaleco branco.
Entendendo a hipertensão arterial
Segundo a Dra. Priscilla Gianotto Tosello,
cardiologista com especialização em Imagem Cardiovascular pelo Instituto do
Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo (FMUSP), a hipertensão arterial pode ser definida como um aumento
anormal da pressão, que prossegue por um longo período. É essa pressão a
responsável por fazer o sangue transitar pelas artérias do corpo. Ao longo do
dia, é comum que as pessoas tenham variações na pressão, porque quando estão em
repouso ela fica mais baixa e quando se movimentam, ela sobe. “Mas é preciso
ver durante quanto tempo ela permanece alta”, explica a médica.
A pressão arterial é medida em milímetros de
mercúrio (mmHg) e há consenso médico sobre quanto ela pode chegar. Quando – na
maior parte do tempo – a pressão fica maior ou igual a 14 por 9, ela é
considerada alta e a pessoa, hipertensa. E é a partir daí que outros problemas
podem ser desencadeados, como o infarto, o Acidente Vascular Cerebral (AVC), a miocardiopatia
hipertensiva e a arritmia.
Muitas vezes, os sintomas aparecem porque a
hipertensão já está mais avançada. Por isso, é importante sempre estar com o os
exames em dia, principalmente se há algum fator de risco para o paciente. Entre
esses sintomas, pode haver dor de cabeça, falta de ar, visão borrada, zumbido
no ouvido, tontura e dores no peito.
O principal fator de risco para a hipertensão é a
genética. Como não é possível saber de qual parte da família vem a genética de
cada pessoa, é fundamental que, tendo parentesco com um hipertenso, cada um se
mantenha em alerta, fazendo exames anualmente.
Mas existem também outros fatores de risco, como
obesidade, poluição, estresse, sono irregular, menopausa, excesso de bebida
alcoólica, tabagismo, alto consumo de sal, sedentarismo, diabetes, doenças
renais, apneia do sono e hipertireoidismo que podem causar o problema. “Quando
avaliado por um médico e diagnosticado como hipertenso, o paciente será
medicado. Mas, muitas vezes, é necessário também que ele mude alguns hábitos de
vida e comece, por exemplo, a praticar atividade física. Além disso, ele pode
precisar adotar uma dieta com menos sódio e perder peso”, afirma Priscilla.
Outros tipos de pressão alta interferem no tratamento adotado
E quando se fala em tratamento, é fundamental
entender todos os tipos de pressão alta que podem acometer um paciente.
A classe de medicamentos utilizada nos quadros de
hipertensão é chamada de anti-hipertensiva. Existem inúmeros medicamentos nesta
categoria, de laboratórios variados, e os médicos os adotam conforme o perfil
dos pacientes (se a hipertensão é mais leve ou mais severa, conforme a idade e
condição clínica, entre outros parâmetros) e de acordo com as diretrizes do
Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial. Assim, quando existe um caso de
hipertensão ‘comum’, podem ser adotados medicamentos isolados ou combinados,
dependendo de cada caso.
Na existência de um caso de hipertensão arterial
resistente, a medicação adotada é ainda mais adaptativa do que nos quadros de
hipertensão ‘comum’. A hipertensão resistente é definida, segundo a mais
recente diretriz brasileira, quando se mantém elevada mesmo com o uso de três
classes diferentes de anti-hipertensivos. Isso significa que, após o uso de
três medicamentos diferentes, a pressão se manteve alta.
Essa associação entre os medicamentos inclui um
bloqueador do sistema renina-angiotensina (IECA ou BRA), um bloqueador dos
canais de cálcio (BCC) de ação prolongada e um diurético tiazídico (DT). Todos
eles são de longa duração e devem ser utilizados na dose máxima ou o quanto for
tolerado pelo paciente. Tendo isso como base, é muito importante que os
fármacos sejam tomados corretamente, exatamente da maneira que forem prescritos
pelo médico. E, para obter sucesso no controle dessa pressão arterial, os
médicos muitas vezes precisam trabalhar em cima de tentativas.
“Normalmente, o tratamento é feito com uma
complementação das diferentes classes de remédios com doses otimizadas. O
profissional inicia o tratamento com uma medicação e percebe que a pressão não
foi controlada. Então, ele associa a uma segunda classe e, caso não tenha
sucesso, com uma terceira classe – e assim sucessivamente”, ressalta a
cardiologista.
Essa associação só pode ser considerada a partir do
momento que já tenha atingido a dose máxima da medicação ou tolerada pelo
paciente e mesmo assim não obteve a pressão arterial controlada. Além disso, as
classes precisam ser distintas, não podem se repetir, para que cada elemento
atue em lugares diferentes e consigam, juntos, controlar a pressão.
“Para que a hipertensão arterial resistente seja
diagnostica, é necessário acompanhar os níveis da pressão enquanto o paciente
está em tratamento. Mas, além disso, é fundamental excluir outras condições que
podem acarretar em um falso quadro da doença”, esclarece Dra. Priscilla.
Uma dessas condições pode ser a hipertensão
arterial do jaleco branco, também conhecida como efeito do avental branco. Ele
se caracteriza por pessoas que ficam nervosas enquanto estão no consultório médico.
Então, por mais que a pressão arterial se mantenha controlada em casa, o quadro
muda quando a medição é feita pelo médico. Isso pode resultar em um falso
diagnóstico, dando a entender que não há controle mesmo com o uso de remédios,
quando na verdade o aumento acontece por conta do nervosismo.
O tratamento da hipertensão do jaleco branco não é
feita com aumento dos medicamentos anti-hipertensivos, mas com técnicas que
permitam que o paciente relaxe nas consultas, de forma que sua pressão não
aumente na medição. Isso pode incluir conversas fora do consultório ou do
ambiente hospitalar, acompanhamento de pessoas da confiança do paciente,
medição da pressão em horários alternativos, uso de técnicas de relaxamento e
outras alternativas que permitam ao médico saber o quadro de saúde real do
paciente, sem que ele precise ter a dose do medicamento aumentada.
A vida com a pressão arterial controlada
Dra. Priscilla Gianotto Tosello alerta que pessoas
cada vez mais jovens estão desenvolvendo a hipertensão arterial e a condição
pode propiciar condições que levam até ao óbito. “Infartos e AVC´s podem ser
fulminantes e o principal fator de risco para eles é a hipertensão arterial,
uma doença silenciosa, mas que quando controlada, permite uma vida plena, sem restrições
severas de atividades”, garante a médica.
Ela sugere que todas as pessoas passem por um
check-up cardiológico anualmente e, para quem já tem a doença, um checku-up a
cada seis meses. “Essa é a melhor forma de garantir a saúde cardiovascular e,
assim, prevenir doenças graves”, finaliza.
Clínica Tosello
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