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quarta-feira, 27 de julho de 2022

Você mediu sua pressão recentemente?

Hipertensão, hipertensão resistente, hipertensão do jaleco branco: condições diferentes para uma doença que atinge mais de 38 milhões de brasileiros e leva a problemas graves de saúde

 

A hipertensão arterial – popularmente conhecida como pressão alta – é uma doença que atinge, segundo dados do Ministério da Saúde, 38 milhões de brasileiros. Só em 2019 – e apenas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), foram realizadas mais de 28 milhões de consultas na Atenção Primária e registradas 52 mil internações relacionadas à hipertensão. A doença, quando não tratada adequadamente, leva a quadros graves de saúde, porque interfere diretamente na condição cardiovascular e cerebrovascular e atinge os rins – só para citar as situações mais comuns.

E o que muitas pessoas não sabem é que, além da hipertensão arterial sistêmica comum, que é identificada pela elevação da pressão arterial, existem outros tipos de hipertensão arterial, como a hipertensão resistente e a hipertensão do jaleco branco.

 

Entendendo a hipertensão arterial

 

Segundo a Dra. Priscilla Gianotto Tosello, cardiologista com especialização em Imagem Cardiovascular pelo Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), a hipertensão arterial pode ser definida como um aumento anormal da pressão, que prossegue por um longo período. É essa pressão a responsável por fazer o sangue transitar pelas artérias do corpo. Ao longo do dia, é comum que as pessoas tenham variações na pressão, porque quando estão em repouso ela fica mais baixa e quando se movimentam, ela sobe. “Mas é preciso ver durante quanto tempo ela permanece alta”, explica a médica.

A pressão arterial é medida em milímetros de mercúrio (mmHg) e há consenso médico sobre quanto ela pode chegar. Quando – na maior parte do tempo – a pressão fica maior ou igual a 14 por 9, ela é considerada alta e a pessoa, hipertensa. E é a partir daí que outros problemas podem ser desencadeados, como o infarto, o Acidente Vascular Cerebral (AVC), a miocardiopatia hipertensiva e a arritmia.

Muitas vezes, os sintomas aparecem porque a hipertensão já está mais avançada. Por isso, é importante sempre estar com o os exames em dia, principalmente se há algum fator de risco para o paciente. Entre esses sintomas, pode haver dor de cabeça, falta de ar, visão borrada, zumbido no ouvido, tontura e dores no peito.

O principal fator de risco para a hipertensão é a genética. Como não é possível saber de qual parte da família vem a genética de cada pessoa, é fundamental que, tendo parentesco com um hipertenso, cada um se mantenha em alerta, fazendo exames anualmente.

Mas existem também outros fatores de risco, como obesidade, poluição, estresse, sono irregular, menopausa, excesso de bebida alcoólica, tabagismo, alto consumo de sal, sedentarismo, diabetes, doenças renais, apneia do sono e hipertireoidismo que podem causar o problema. “Quando avaliado por um médico e diagnosticado como hipertenso, o paciente será medicado. Mas, muitas vezes, é necessário também que ele mude alguns hábitos de vida e comece, por exemplo, a praticar atividade física. Além disso, ele pode precisar adotar uma dieta com menos sódio e perder peso”, afirma Priscilla.

 

Outros tipos de pressão alta interferem no tratamento adotado 

E quando se fala em tratamento, é fundamental entender todos os tipos de pressão alta que podem acometer um paciente.

A classe de medicamentos utilizada nos quadros de hipertensão é chamada de anti-hipertensiva. Existem inúmeros medicamentos nesta categoria, de laboratórios variados, e os médicos os adotam conforme o perfil dos pacientes (se a hipertensão é mais leve ou mais severa, conforme a idade e condição clínica, entre outros parâmetros) e de acordo com as diretrizes do Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial. Assim, quando existe um caso de hipertensão ‘comum’, podem ser adotados medicamentos isolados ou combinados, dependendo de cada caso.

Na existência de um caso de hipertensão arterial resistente, a medicação adotada é ainda mais adaptativa do que nos quadros de hipertensão ‘comum’. A hipertensão resistente é definida, segundo a mais recente diretriz brasileira, quando se mantém elevada mesmo com o uso de três classes diferentes de anti-hipertensivos. Isso significa que, após o uso de três medicamentos diferentes, a pressão se manteve alta.

Essa associação entre os medicamentos inclui um bloqueador do sistema renina-angiotensina (IECA ou BRA), um bloqueador dos canais de cálcio (BCC) de ação prolongada e um diurético tiazídico (DT). Todos eles são de longa duração e devem ser utilizados na dose máxima ou o quanto for tolerado pelo paciente. Tendo isso como base, é muito importante que os fármacos sejam tomados corretamente, exatamente da maneira que forem prescritos pelo médico. E, para obter sucesso no controle dessa pressão arterial, os médicos muitas vezes precisam trabalhar em cima de tentativas.

“Normalmente, o tratamento é feito com uma complementação das diferentes classes de remédios com doses otimizadas. O profissional inicia o tratamento com uma medicação e percebe que a pressão não foi controlada. Então, ele associa a uma segunda classe e, caso não tenha sucesso, com uma terceira classe – e assim sucessivamente”, ressalta a cardiologista.

Essa associação só pode ser considerada a partir do momento que já tenha atingido a dose máxima da medicação ou tolerada pelo paciente e mesmo assim não obteve a pressão arterial controlada. Além disso, as classes precisam ser distintas, não podem se repetir, para que cada elemento atue em lugares diferentes e consigam, juntos, controlar a pressão.

“Para que a hipertensão arterial resistente seja diagnostica, é necessário acompanhar os níveis da pressão enquanto o paciente está em tratamento. Mas, além disso, é fundamental excluir outras condições que podem acarretar em um falso quadro da doença”, esclarece Dra. Priscilla.

Uma dessas condições pode ser a hipertensão arterial do jaleco branco, também conhecida como efeito do avental branco. Ele se caracteriza por pessoas que ficam nervosas enquanto estão no consultório médico. Então, por mais que a pressão arterial se mantenha controlada em casa, o quadro muda quando a medição é feita pelo médico. Isso pode resultar em um falso diagnóstico, dando a entender que não há controle mesmo com o uso de remédios, quando na verdade o aumento acontece por conta do nervosismo.

O tratamento da hipertensão do jaleco branco não é feita com aumento dos medicamentos anti-hipertensivos, mas com técnicas que permitam que o paciente relaxe nas consultas, de forma que sua pressão não aumente na medição. Isso pode incluir conversas fora do consultório ou do ambiente hospitalar, acompanhamento de pessoas da confiança do paciente, medição da pressão em horários alternativos, uso de técnicas de relaxamento e outras alternativas que permitam ao médico saber o quadro de saúde real do paciente, sem que ele precise ter a dose do medicamento aumentada.

 

A vida com a pressão arterial controlada 

Dra. Priscilla Gianotto Tosello alerta que pessoas cada vez mais jovens estão desenvolvendo a hipertensão arterial e a condição pode propiciar condições que levam até ao óbito. “Infartos e AVC´s podem ser fulminantes e o principal fator de risco para eles é a hipertensão arterial, uma doença silenciosa, mas que quando controlada, permite uma vida plena, sem restrições severas de atividades”, garante a médica.

Ela sugere que todas as pessoas passem por um check-up cardiológico anualmente e, para quem já tem a doença, um checku-up a cada seis meses. “Essa é a melhor forma de garantir a saúde cardiovascular e, assim, prevenir doenças graves”, finaliza.

  

Clínica Tosello


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