A abertura da economia, a livre concorrência e a redução do tamanho do Estado são ações essenciais para o crescimento via aumento de produtividade. Estes pontos constituíram a base do pensamento econômico hegemônico desde os anos 80 do século passado, mas que ao longo destas últimas décadas foram, crescentemente, confrontados por uma realidade que teimou em não se comportar como o desejado. As premissas adotadas para construir modelos matemáticos de projetação de comportamento econômico, também provaram ser pouco aderentes à realidade, o que ficou evidente com a ausência de inflação, após a forte emissão monetária a partir da crise de 2008.
No que diz respeito à abertura comercial, entendo
que a competição é fundamental para a produtividade e esta, por sua vez, é a
chave do crescimento econômico. Portanto espero que uma abertura comercial seja
implementada ao lado das privatizações das estatais, da redução do tamanho do
Estado e das reformas amplamente anunciadas. Mas, tal como a inflação provou
não ser simples consequência da emissão monetária, devemos refletir se os
resultados de uma abertura comercial unilateral será mesmo o almejado.
Empresas agrupadas em oligopólios tem poder de
mercado, o que as tornam imunes às regras da livre concorrência. O tamanho lhe
garante condições para criar barreiras à entrada de novos concorrentes. A
capacidade financeira permite o domínio em razão dos ganhos de escala. Fica,
portanto, difícil o acesso aos mercados nos quais elas estão presentes.
Exemplos de grupos assim no Brasil não faltam, dominam os bens e serviços de
primeira necessidade como serviços de energia elétrica, financeiros,
combustíveis e muitos outros.
Por outro lado, ainda que a movimentação de
recursos dos grupos imunes a livre concorrência seja gigantesca, o grosso das
atividades produtivas é exercido por inúmeras micro, pequena ou médias empresas
que são penalizadas, adicionalmente, por atuarem num país como o Brasil, que é
extremamente ineficiente e que repassa esta ineficiência à sua produção local.
Deficiências logísticas, ausência de financiamentos de longo prazo a custos
adequados, insegurança jurídica, péssimo ambiente de negócios sufocado por uma
infinidade de regulamentos e exigências acessórias, sistema tributário
complicado, caro e distorcido, juros de mercado não compatíveis com o retorno
das empresas, excessiva volatilidade da moeda, são alguns dos fatores que
compõem o Custo Brasil que penalizam a produção nacional desperdiçando
recursos em quantidade equivalente a R$ 1,5 trilhão
todo ano, ou 22% do PIB (Produto Interno Bruto) nacional, segundo o SEPEC do
Ministério da Economia. Esses fatores, me faz pensar se o impacto isolado da
abertura comercial seria realmente o choque de concorrência.
Considerando o elevado nível de assimetrias em
relação aos países da OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (22% do PIB) a proteção alfandegária nacional média, atualmente em
14%, ao meu ver não é exatamente uma proteção. Mais parece compensação
insuficiente dos encargos que são adicionados pelo custo Brasil aos produtos
produzidos localmente. A abertura comercial unilateral para empresas cuja
competitividade foi anulada pelas ineficiências impostas pelo Custo Brasil, em
sua quase totalidade de micro, pequeno, ou médio porte, trará no lugar do
crescimento esperado, o encerramento de atividades domésticas, aprofundando o
atual quadro de desemprego e de desequilíbrio fiscal.
Estamos num processo de redução do Custo Brasil,
mas as ações realizadas nos últimos dois anos pouco se refletiram em redução
imediata dos custos sistêmicos ou em ganhos de competitividade ao produtor nacional,
o que sugere que o país ainda não está preparado para avançar a abertura. Assim
a sinalização dada aos países do Mercosul, de que o Brasil está iniciando a
abertura pelos setores de Bens de Capital e Bens de Informática e
Telecomunicação, depõem contra o pensamento econômico liberal pois se traduz
como eleição de perdedores nacionais.
Não há dúvidas que as alíquotas de importação
precisam ser revistas, décadas de alterações pontuais na TEC (Tarifa Externa
Comum), criaram, ao longo do tempo, inúmeras distorções, além dos diversos
“regimes especiais”. É muito comum, encontrar matérias primas e insumos básicos
mais protegidos que os produtos finais que utilizam estas mesmas matérias
primas e insumos em sua produção. Distorções estas, impossíveis de serem
eliminadas com redução linear da alíquota por ora proposta. Somente a revisão
da estrutura de proteção alfandegária, dentro do conceito de escalada
tarifária, tem o potencial de readequar a estrutura e influenciar agregação de
valor no país, que concomitantemente com a redução do Custo Brasil garantirá
ganhos de competitividade ao bem final nacional, condições necessárias para
melhorar a produtividade, ampliar a participação no mercado nacional e
internacional, expandir a atividade manufatureira, ampliar a geração de emprego
e renda nacional, o que todos nós brasileiros almejamos.
João Carlos Marchesan - administrador de empresas,
empresário e presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ.
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