O
cotidiano das pessoas ficou mais digital. Para os que têm acesso a internet
comprar online, se comunicar, interagir e ver pessoas somente permaneceu
possível com a pandemia por conta da internet e a integração digital. Com as
restrições de circulação, o comércio digital se tornou uma realidade e com
isso, os criminosos aproveitam do maior tempo online do consumidor e
consequente aumento das transações digitais para aplicar golpes financeiros.
Com
o lançamento do PIX além dos usuários, os golpistas se aproveitaram da nova
ferramenta. A criminalidade organizada percebeu que o PIX poderia ser um
excelente negócio para o mundo do crime e suas variantes, especialmente na
Darkweb. Portanto, não tardou para que os golpes envolvendo o PIX se
desenvolvessem.
Segundo
dados do Banco Central, até começo de abril, mais de 206 milhões de chaves PIX
foram cadastradas através de mais de 75 milhões de usuários em 133 milhões de
contas. O volume de dinheiro salta aos olhos pois, segundo o BC foram mais de
328 milhões de transações que movimentaram mais de R$238 bilhões de reais, o
tíquete médio das operações chega a R$750, o PIX representa 8 em cada 10
transferências.
O
PIX é seguro? A resposta é simples: o PIX é tão seguro como qualquer outra
transação bancária. Se a operação com o PIX é segura, então, onde está o
perigo? No usuário, afinal, através dele é que são feitas as transferências,
portanto, atacar o dono da chave resulta em potencial transferência de toda a
quantia disponível em sua conta corrente. O que outrora era feito através de
sequestros relâmpagos, com a obrigação dos usuários fazerem saques, agora se
simplifica. E, como o PIX pode ser cadastrado através de contas digitais, os
criminosos se utilizam dessas facilidades e da falta de verificação e proteção
das instituições financeiras não tradicionais para serem os destinatários
finais dos golpes.
Neste
cenário a Darkweb é um local oculto e de entrada exclusiva com convite para
acesso específico, protegido dentro do universo da Deepweb, local em que
somente quem possui conhecimento mais avançado de informática consegue trafegar
digitalmente através de navegadores específicos como I2P,
Tor,
Freenet
e outros poucos. O caminho e as possibilidades de esconder seu endereço IP
protegem as atividades ilícitas da Darkweb que, segundo a Interpol, superam 57%
do total das práticas desse universo.
Se
o criminoso está protegido, não se pode dizer o mesmo do usuário comum da
internet: IP sem proteção, firewall de fácil acesso, computador com dados
pessoais, senhas, páginas recorrentes com dados salvos e, para muitos, com
dados bancários armazenados em páginas de compras usuais, as mesmas
fragilidades podem ser percebidas em seus tablets e celulares. Praticamente um
convite à ilicitude.
As
modalidades mais comuns de golpes envolvendo o PIX têm sido através de
Phishing, seja por e-mail ou WhatsApp, com o objetivo de captar senhas e dados
bancários, além da invasão de dispositivos móveis e clonagem deles. O PIX, por
ser uma modalidade nova, ainda não tem a proteção adequada e, tampouco, meios fiscalizatórios
de controle.
Antonio Baptista Gonçalves - Advogado, Pós-Doutor, Doutor e Mestre pela PUC/SP e Presidente da Comissão de Criminologia e Vitimologia da OAB/SP – subseção de Butantã.
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