A reclamação sobre o sono é uma constante, desde o início da pandemia de Covid-19. No primeiro momento, as motivações podem, principalmente, ter relação com as incertezas trazidas pelo novo contexto social. Atualmente, no segundo ano de pandemia, a queixa está diretamente ligada a mudança de hábitos e o maior uso de dispositivos eletrônicos antes de dormir. A boa notícia é que é possível melhorar a qualidade do sono entendendo como o seu cérebro recebe os estímulos antes do descanso.
Escovar os dentes,
lavar o rosto e... novos hábitos! Não à toa, as boas
práticas que antecedem o sono são chamadas de higiene do sono.
A proposta é preparar, por meio de simples ações, este momento de forma a
melhorar a sua qualidade e, claro, evitar a temida insônia. “Sem um
sono de qualidade, não rendemos o quanto gostaríamos. Mais do que dormir bem e
acordar descansado, um sono de qualidade interfere diretamente na memória,
concentração e atenção ao longo do dia. Precisamos falar sobre algo tão simples
como o sono porque os hábitos que antecedem nosso descanso mudaram
drasticamente ao longo dos últimos anos”, lembrou Patrícia Lessa,
diretora Pedagógica do Supera - Ginástica para o cérebro.
E como o sono mudou!
Em tempos em que a presença de diferentes telas é comum na rotina, que atire a
primeira pedra quem não dorme com o celular ao lado do travesseiro (um risco)
ou atravessa a noite assistindo a vídeos no TikTok? A lógica da insônia –
embora seja complexa e multifatorial, é de fácil compreensão quando observamos
a quantidade de estímulos que damos ao cérebro antes dele descansar.
Cérebro em estado
permanente de alerta - A luz artificial que
um celular emite, por exemplo, tem efeitos semelhantes aos da luz natural sobre
os controles internos dos nossos ritmos. Ou seja, ambas sinalizam para o nosso
cérebro se é dia ou se é noite e a lógica é simples; se acendemos a luz antes
do previsto – por exemplo, às 4 horas da manhã – o nosso cérebro desencadeará
mecanismos para adiantar os nossos ritmos. E se prolongamos o dia, expondo-nos
à luz artificial à noite, atrasaremos nossos ritmos impedindo a expressão do
hormônio melatonina, pois será sinalizado para o nosso cérebro que não está
escuro e que não é hora de desencadear vários processos que acontecem durante o
sono noturno. Um exemplo é a expressão do hormônio do crescimento (GH),
associado ao nosso sistema imunológico. Uma vez que este comportamento se
prolonga por muito tempo, os efeitos, obviamente, serão crônicos e podem
oferecer danos à saúde.
Sono e memória - Quando
não dormimos bem, acordamos cansados, sem energia e comprometemos o dia. A
insônia e o cansaço causam tensão, que pode reduzir a qualidade da atenção e do
foco nas informações recebidas; e, consequentemente, o processo de memorização
recente. Quando o sono é bom, o humor e o desempenho da memória são melhores. A
recomendação é que tenhamos uma boa qualidade de sono, em termos gerais. E,
para isso, recomenda-se 7 a 8 horas de sono por dia. Entretanto, é comprovado
que a necessidade de sono diminui com o decorrer da idade.
Mas por que dormir é
importante para o funcionamento cerebral? Durante
o sono, consolidamos as informações recentes apreendidas durante o dia, as
informações irrelevantes são filtradas e as conexões neurais se fortalecem. O
nosso organismo também produz alguns hormônios importantes para a regulação dos
nossos órgãos e sistemas quando estamos dormindo. Se você se viu neste artigo e
quer melhorar a qualidade do seu sono a partir de agora, confira algumas dicas
preciosas que vão te ajudar neste processo:
1.
Evitar dormir durante o dia e realizar atividades físicas algumas horas antes
de se deitar;
2.
Evitar exposição a luzes claras como a luz fluorescente e a luz azul de
aparelhos eletrônicos (como as emitidas pelos tablets,
celulares, computadores) enquanto se prepara para deitar. Este tipo de luz azul
aciona células visuais chamadas cones, que despertam a atenção e o foco em
nosso sistema nervoso. Caso opte por realizar leituras noturnas antes de
deitar-se, sugere-se a inserção de luzes de cor âmbar (que contém a integração
das cores laranja e amarelo), sendo uma cor apropriada para ativar um outro
grupo de células visuais, chamadas de bastonetes. A luz âmbar não interfere no
processo atencional, fazendo com que consigamos realizar atividades antes de
dormir e posteriormente, pegar no sono com maior facilidade;
3.
Em relação à alimentação, alimente-se com alimentos leves durante à noite.
Evite comidas gordurosas e industrializadas, para favorecer o processo
digestivo e o relaxamento dos músculos durante o sono;
4.
Evite abusar de bebidas estimulantes, como cafés, energéticos e alguns tipos de
chás escuros;
5.
Realize um relaxamento mental; evite pensar em preocupações, em atividades a
serem concluídas, no dia seguinte. Esses pensamentos podem acarretar sintomas
de ansiedade, que interferem na qualidade do sono;
6.
Desacelere antes de ir para a cama; evite noticiários à noite. Aqui vale muita
coisa: meditação, música relaxante, chá de camomila, erva-cidreira e leite com
mel – são hábitos que podem colaborar para uma boa noite de sono,
principalmente nesse momento.
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