A balança comercial brasileira tem mostrado um bom desempenho, ao longo deste ano e especialmente nos últimos meses, apesar da forte redução no comércio mundial. Esta queda nas trocas internacionais foi causada, inicialmente, pelo acirramento da guerra comercial entre Estados Unidos e China e agravada, posteriormente, pela grave recessão decorrente do impacto da pandemia do coronavírus na economia global.
A boa notícia é que apesar destes fatores, que
reduziram nosso fluxo de comércio, a previsão é de um saldo positivo da ordem
de US$ 55 bilhões, o que significa um aumento de mais de 15% em relação ao
resultado de 2019. Isto é extremamente importante para limitar nosso déficit em
conta corrente, já estruturalmente negativo, e que poderia ser ampliado em
função da redução do volume de investimentos externos.
O relativo equilíbrio, ou pequeno déficit, em nosso
balanço de pagamentos, pressionado pela queda dos investimentos externos em
função da recessão mundial e pela saída de capitais por causa da redução dos
juros reais internos e das turbulências políticas, é essencial para reduzir a
excessiva depreciação do Real e, portanto, evitar que o câmbio acabe
contaminando os índices de inflação, obrigando o Banco Central a subir os
juros.
A má notícia, aliás, as más notícias são duas. A
primeira é que este superávit se deve, muito mais, à queda das importações do
que ao aumento das exportações. De fato, em julho, as importações despencaram
nada menos do que 35%, contra uma queda de menos de 3% nas exportações e as
projeções anuais são de que nossas importações caiam cerca de 20% contra os 10%
de queda, prevista em nossas exportações.
A segunda má noticia é que, apesar da queda das
exportações brasileiras ter sido relativamente pequena, de 6,4%, no primeiro
semestre de 2020, em comparação com 2019, ela se concentrou em produtos
industriais, que caíram 15,6%, reduzindo a participação da indústria, a pouco
mais de 50% do total de exportações brasileiras, uma queda de mais de 30 pontos
em relação a 2020, quando a indústria representava mais de 80% do total
exportado.
Para piorar, o recuo nas exportações industriais de
alta e média-alta tecnologia foi de nada menos de 32,5% no primeiro semestre,
reduzindo a participação destes setores à metade do que representavam dez anos
atrás. Ou seja, a indústria de transformação brasileira vem perdendo peso em
nossas exportações ao longo dos anos e, mais grave ainda, perdendo participação
na produção mundial de manufaturados, desde a década de 90.
Atualmente a indústria de transformação brasileira
representa cerca de 1,8% da produção mundial, reduzindo praticamente à metade a
participação de 3,37%, que alcançamos em 1994. Como as exportações de
manufaturados são uma boa medida de nossa competitividade, os dados mostram que
a indústria brasileira vem perdendo espaço desde a década de 90. Isto tem se
refletido numa desindustrialização precoce, que reduziu sua participação no PIB
a menos da metade do que era no fim dos anos 80.
As causas são muitas, mas não há dúvidas que juros
elevados e Real valorizado tiveram um papel preponderante neste processo. Se
somarmos a isto o “custo Brasil”, que é a soma de nossas ineficiências
sistêmicas, e que acrescenta ao custo dos produtos industrializados, cerca de
30 pontos percentuais, a mais do que nossos concorrentes internacionais, temos
as razões principais da perda do peso da indústria, tanto interna, quanto
externamente.
Se quisermos voltar a crescer decentemente, gerando
empregos de qualidade, o papel da indústria é insubstituível e, portanto,
qualquer plano de retomada das atividades econômicas tem que prever
necessariamente a redução do custo Brasil, através principalmente da aprovação
da reforma tributária, da redução dos juros de mercado a patamares compatíveis
com nossos concorrentes e da redução dos custos de logística e de energia.
Além de um ambiente macroeconômico favorável,
é necessário melhorar e simplificar o ambiente de negócios, para garantir maior
segurança jurídica e prover estímulos eficientes às atividades produtivas, com
apoio a P&D, I, credito abundante e competitivo para produção e exportação
que tem que contar, também, com um sistema de seguro que reduza o risco do
exportador. Em resumo, o país precisa de um plano de desenvolvimento que não
pode ser deixado exclusivamente aos cuidados do mercado.
João Carlos Marchesan - administrador, empresário e presidente do Conselho de Administração da ABIMAQ – Associação Brasileira da Indústria
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