Um percurso escolar de excelência deve possuir como ponto de partida a riqueza proporcionada pelo processo de alfabetização inicial. O encontro do aluno com as palavras promove intensas descobertas, as quais requerem um olhar bastante atento dos professores no sentido de propor atividades que sejam realmente significativas.
De acordo com o francês Henri Wallon, a criança é
essencialmente emocional e deseja compreender o que está sendo ensinado para se
constituir num ser sociocognitivo. Tal fato expõe a necessidade de criação de
ambientes de interação dentro das escolas. Não obstante, para o estudioso Jean
Piaget, a criança deve passar por várias fases de desenvolvimento psicológico,
partindo do individual para o social, com o propósito de desenvolver pensamento
e linguagem. Por sua vez, Lev Vygotsky defende que signos e palavras são para
as crianças um meio de contato social com as pessoas e que fornecem a mediação
simbólica entre o aluno e o mundo.
Dessa forma, podemos afirmar categoricamente que a
alfabetização é uma conquista proveniente do esforço, da intenção de aprender,
da vontade de descobrir o que é novo, das interações humanas, da diretividade
docente e das sucessivas atividades que acontecem dentro e fora do ambiente
escolar. Como asseverou Vygotsky, “é no significado da palavra que a fala e o
pensamento se unem em pensamento verbal”.
Todavia, o que acontece quando o processo de
alfabetização é comprometido ou prejudicado? As consequências são devastadoras
do ponto de vista humano, social e cultural. Afinal de contas, a alfabetização
não implica tão somente na questão de ensinar crianças e adultos a ler e
escrever, mas ainda mais importante, que possam aprender a fazer uso adequado
da leitura e da escrita nas práticas sociais.
Em contrapartida, sabemos que o analfabetismo
funcional é uma tragédia para a sociedade e para o indivíduo que, apesar de ter
sido “alfabetizado”, não é capaz de interpretar um texto sequer. Falta-lhe
condições para analisar um simples gráfico, uma composição, e para dizer o que
entendeu após a realização de uma leitura. Esse fenômeno não se restringe à
baixa escolaridade. Pessoas com cursos de nível superior apresentam
analfabetismo funcional em suas práticas de ler, escrever e analisar textos.
Todavia, ainda pior que analfabetismo funcional é o analfabetismo
absoluto.
Segundo dados da Unesco - Organização das Nações
Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura, 617 milhões de crianças e
adolescentes no mundo todo não estão adquirindo habilidades mínimas em leitura,
escrita e matemática e, lastimavelmente, 750 milhões de jovens e adultos não
sabem ler nem escrever nos dias de hoje.
Por fim, devemos pensar nas palavras do grande
educador Paulo Freire, para quem “a alegria não chega apenas no encontro do
achado, mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não pode
dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria”. Nesse sentido, diante
da poluição causada pela ignorância e pela ausência do saber crítico, precisamos
de UM SOPRO DE AR FRESCO, repleto da boniteza, da alegria e da ALFABETIZAÇÃO
que se FAZ COM AMOR.
O ato de alfabetizar adequadamente as crianças no
contexto escolar, a ação de desenvolver a consciência crítica nas pessoas que
não conseguem se posicionar por não entenderem o que leem e, por uma questão
essencialmente humana, de apoiar os adultos analfabetos que não tiveram
oportunidades educacionais - impulsionam o anseio pela conquista da autonomia
de pensamento, da criatividade e da esperança que faz germinar o bem comum nas
terras férteis da educação de qualidade.
Antonio Artequilino -
consultor pedagógico da Conquista Solução Educacional em São Paulo.
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