Período da Covid-19 faz com que a gente passe por 3 das 5 fases do luto
e aprenda com isso
Perdemos, repentinamente, o direito de ir e vir. Parece exagerado?
Pode até parecer, mas fato é que um dia estávamos bem, aquém de qualquer
situação que se poderia passar no Brasil, no outro dia entraram com a suspensão
das aulas, poucos dias depois veio a determinação do isolamento social e a
interrupção de diversos serviços que utilizávamos diariamente. Inclusive, para
alguns, seu próprio trabalho.
Inicialmente, indignação, temor, desespero, ansiedade. Logo depois,
revolta, questionamento sobre a real necessidade, mais temor, dessa vez pela
renda mais até do que pelo medo de adoecer e, em seguida, resignação. Mas ainda
seguido de muito temor, entretanto, dessa vez os medos se misturam.
Parece familiar?
O que seria esse processo se não o momento de negação, depressão, raiva
relatados como três das cinco fases do luto?
Mas não para por aí, entramos em oração, reza, meditação ou qualquer
processo espiritual esperando por uma cura, por salvação, aguardando
desesperadamente que algo nos liberte desse mal que assolou não apenas nosso
País, mas o mundo.
Seria, então, o momento da barganha, o momento de oferecermos melhorias
pessoais em troca da cura, de doações em busca de ajudar ao próximo, mas também
de elevação espiritual, mais barganha, algo que só nos faz sentir melhor, mesmo
que momentaneamente.
Nos revoltamos com o vírus, nos revoltamos com o governo, alguns foram
(outras ainda são) contra o isolamento, porém, fato é que todos paramos.
Paramos para refletir, para compreender o que se passa, para comparar
dados, para ver notícias. Paramos nossas vidas. Opa! Não paramos nossas vidas
não, elas seguem, mas chegamos na então aceitação. Não a aceitação
necessariamente de que algo lá fora irá nos adoecer, mas sim de que não há
muito o que possamos fazer, pois mesmo quem não desejava parar, precisou.
Pois sem pessoas nas ruas não há rotatividade, o que faz com que muitas
pessoas tenham seus negócios congelados temporariamente. O o problema é que não
sabemos quão temporário será.
A hora da aceitação
Chegamos na última fase do luto, mas a questão sobre o luto é que não é
um processo unilateral. As fases se misturam e se repetem incessantemente.
Quantas vezes for pertinente, nos sentimos inseguros em diversos
momentos, contudo, ao mesmo tempo começamos a viver diferente, a nos adaptar à
nova realidade, mesmo que exista um prazo de validade para que ela se modifique
novamente.
Aprendemos a nos isolar, mesmo que alguns não o façam completamente,
aprendemos a estar presente de fato com aqueles que amamos, aprendemos
novamente sobre maternidade, paternidade, gestão de tempo, procura e demanda.
A costureira passou a fabricar máscaras, mães e pais aprenderam a
brincar com os filhos e a exercitar mais a paciência, profissionais aprenderam
a dar novo significado ao seu negócio, ainda que não fosse o que desejavam de
fato, e aprendemos um novo conceito de nos reunir, dessa vez a distância.
E assim por diante o aprendizado se segue, mas o luto também e tudo bem,
que assim o seja, afinal, é tudo novo, tudo incerto e a nós cabe apenas fazer a
nossa parte e lidar com cada fase desse luto que surgiu repentinamente em
nossas vidas.
Mas que, com colaboração mútua, há de passar!
Ellen Moraes Senra - psicóloga, palestrante, escritora e professora
universitária. Escreve livros para todas as faixas etárias, assim como também
para o público negro, sempre com a proposta de que o diálogo, o
autoconhecimento e o autoamor são as bases para a felicidade tanto consigo
mesmo, quanto com as demais relações a serem construídas na vida. Dentre
suas obras estão “Autoamor: um caminho para a autoestima e regulação emocional
feminina”, “A psicologia e a essência da negritude” e “Feiurinha Sabe tudo”.
Também é colunista do Jornal Empoderado e da Revista Statto. Saiba mais em @psicologaellensenra.
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