Vagner Miguel, farmacêutico da Associação Nacional
de Farmacêuticos Magistrais, tira as principais dúvidas sobre medicamento e
álcool
Os bloquinhos já estão nas
ruas, os ensaios das escolas de samba a todo vapor e o carnaval cada dia
mais perto. Com muita frequência, essa diversão envolve o consumo de bebida
alcoólica. A principal dúvida que surge para quem está tomando medicação é:
será que posso beber? Mas o que a maioria esquece é que o anticoncepcional do
dia a dia também é uma medicação. Será que perde o efeito após uma bebedeira?
Para sanar essas e outras
questões, Vagner Miguel, farmacêutico da Anfarmag – Associação Nacional de Farmacêuticos
Magistrais –, explica que as consequências da interação entre álcool e
medicamentos dependem de vários fatores. Entre eles está a composição do
medicamento, o organismo do paciente e a quantidade de álcool ingerida. Por
isso, de forma geral, a recomendação é evitar misturar álcool com medicamento.
As mulheres que tomam
anticoncepcional devem conversar com o médico para usar um método contraceptivo
complementar, já que, com a bebida, o efeito pode cair até pela metade. Vagner
alerta: “Os anticoncepcionais podem ter tempos variados de permanência no
organismo antes de serem eliminados, com duração que varia entre 12 a 24 horas
ou mais, dependendo da substância, e isso gera riscos, já que a mulher pode
achar que está protegida e ter atividade sexual sem preservativo.”
Para grande parte dos
medicamentos o principal órgão prejudicado é o fígado, que metaboliza, por meio
das enzimas que produz, o álcool, ficando sobrecarregado. O álcool também afeta
especialmente o sistema nervoso central, que comanda nossas ações, alterando
substancialmente as capacidades cognitivas estruturais e comportamentais.
Como a bebida altera o
metabolismo, o tempo de eliminação do medicamento será alterado, podendo
ocorrer antes ou depois do previsto, com possibilidade de prejudicar o
tratamento. Aumenta a gravidade quando são utilizadas drogas para tratar
problemas neurológicos e psiquiátricos, pois o álcool em geral potencializa o
efeito dessas substâncias. “Antidepressivos agem diretamente no sistema nervoso
central. Inicialmente, as bebidas alcoólicas aumentam o efeito do
antidepressivo, deixando a pessoa mais estimulada; porém, após passar o efeito
da bebida, os sintomas da depressão podem aumentar. Já quando os ansiolíticos
são misturados ao álcool aumenta o efeito sedativo, deixando a pessoa
inabilitada para conduzir um veículo por exemplo, além de uma maior
probabilidade de efeitos adversos graves, a exemplo de coma e insuficiência
respiratória”, explica o farmacêutico.
A mistura de antibióticos e
álcool, por sua vez, pode causar desde vômitos, palpitação, cefaleia,
hipotensão, dificuldade respiratória até a morte. “Esse tipo de reação seria
mais comum com as substâncias metronidazol; trimetoprima-sulfametoxazol,
tinidazole e griseofulvin. Já outros antibióticos – como cetoconazol,
nitrofurantoína, eritromicina, rifampicina e isoniazida – tampouco devem ser
tomados com cerveja e afins pelo risco de inibição do efeito e potencialização
de toxicidade hepática”, diz o especialista.
Vagner completa explicando o
efeito com analgésicos e antitérmicos. “O efeito do álcool pode ser
potencializado e a velocidade de eliminação do medicamento do organismo será
maior, diminuindo seu efeito. Nos casos mais graves, o uso do álcool com
paracetamol pode danificar o fígado, uma vez que ambos são metabolizados nesse
órgão. Já a mistura com ácido acetilsalicílico pode causar, em casos extremos,
hemorragia estomacal, pois ambos irritam a mucosa estomacal”
“Portanto, na dúvida, a regra
é: não misturar álcool com nenhum tipo de medicamento”, finaliza o
farmacêutico. A medicação não pode ser desculpa para faltar a reunião de
amigos, afinal, o mais importante nestas festas é o carinho, a atenção e a
comemoração por terem passado mais um ano juntos e felizes.
Vagner Miguel - Gerente
Técnico e de Assuntos Regulatórios da Anfarmag (Associação Nacional de
Farmacêuticos Magistrais), farmacêutico, palestrante e docente. Formado pela
Unesp como farmacêutico em 1985, o profissional pós graduou-se em Gestão pela
Trevisan e em Engenharia Farmacêutica Cosmética pelo Instituto Racine.
Anfarmag
- Organização sem fins lucrativos a
Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais
Nenhum comentário:
Postar um comentário