E agora a relva parece a cabeleira comprida e bonita das
sombras
(...) Essa relva é escura demais para ser das cabeças
brancas das velhas mães,
Mais escura que a barba incolor dos velhos.
Escura demais pra brotar sob os céus vermelhos e débeis
das bocas.
Walt Whitman, "Folhas
de Relva", p. 51.]]
Repentinamente o mundo os
cobriu do marrom negro e repulsivo da morte. Carregado de pedras que auxiliavam
no ato de matar.
Somos mortais, portanto
devemos nos acostumar à ideia radical da vida.
No entanto, a surpresa do
último momento é desesperadora e, mais ainda, quando movida por força que torna
nada nossas tentativas amargas e inúteis de sobreviver.
Olhar para o alto e ver o
universo dramático de sujeira, que nos engolfa, é morte que nem os juízes
medievais e os padres da Santa Inquisição imaginaram, quando aplicavam a pena
aos hereges e bruxos, embora só fossem à roda, à forca e à fogueira depois de
torturas inomináveis.
Em ditaduras da América
Latina adotou-se a prática de afogar presos políticos em volumes de escórias
fecais.
Claro que essas mortes
deliberadas repugnam mais do que as causadas por acidentes.
Acidentes, porém, como este,
previsíveis. Culpa é falta de previsão na existência de previsibilidade.
Não é necessário, porém,
recorrer-se à culpa para responsabilizar a Vale, em face de sua
responsabilidade objetiva (art. 931 do Código de Processo Civil).
Contudo, infelizmente, no
Brasil, não raro pouco vale o direito material, tal qual o direito civil,
quando não temos processo civil que possibilite a realização da justiça em
tempo razoável, como o preceitua a Constituição Federal, no rol dos direitos
humanos (Constituição, art. 5º), não obstante tenhamos um novo Código de
Processo Civil, pleno de boas intenções. As vítimas de Mariana ainda não foram
plenamente indenizadas. E o direito diz que as indenização devem ser completas.
E indenização não repõe as
coisas ao estado anterior, o que seria o ideal superior do direito.
As vítimas morreram
sordidamente, a tal ponto que, quando abordamos o tema, temos dúvida se não
seria melhor cultivar simplesmente o silêncio, quando nossas palavras são
esquálidas ante a grosseria de um fato.
Amadeu
Garrido de Paula - Advogado,
sócio do Escritório Garrido de Paula Advogados.
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