Assim como a moda alterna
tendências entre uma e outra estação, estamos cada vez mais acostumados às
chamadas dietas “fashions”, que nada mais são que criações de agrupamentos inusitados de
alimentos, que ganham fama, preferencialmente, quando uma pessoa pública
declara sucesso no emagrecimento com a utilização do tal modelo de ingestão
alimentar.
É o caso da
"mundialmente famosa" Dieta sem Carboidratos, conhecida também
por "Dieta do Doutor Atkins". Esta dieta propõe o consumo exclusivo
de proteínas e gorduras, excluindo os carboidratos em qualquer uma de suas
versões. O velho Atkins não era desprovido de argumentos como alguns
escancaram, mas não tomava o cuidado de criar protocolos para o uso comedido,
do que talvez até seja um recurso temporário no emagrecimento, em pacientes
selecionados.
Ainda que eu
entenda que a sustentabilidade de uma dieta desse perfil não seja tarefa fácil,
o resultante emagrecimento é obtido à partir da dificuldade criada pelas proteínas e gorduras na
sua utilização pelo corpo humano. Os carboidratos são rapidamente absorvidos após
a ingestão alimentar. Das substâncias mais comuns dos carboidratos, o açúcar
livre é absorvido de imediato e o amido, encontrado nos pães e
massas, é absorvido quase na mesma velocidade. Bem diferente do tempo que os
carboidratos de absorção mais complexa, presentes nas verduras e legumes
cozidos, que levam muito mais tempo até a sua total absorção.
Ou seja, uma
dieta rica em açúcares é rapidamente absorvida e este açúcar instantaneamente é
utilizado ou armazenado na forma de gordura em nossos depósitos, o que faz com
que rapidamente surja o sinal da fome. Porém, se os carboidratos são compostos
somente por Carbonos e Hidrogênio, eles apresentam as mesmas substâncias das
proteínas e gorduras. Ou seja, se o organismo for capaz de fabricar carboidrato
e souber retirar a matéria prima de proteínas e gorduras não vai faltar
carboidrato.
E todos nós
somos capazes disto, porém, demanda tempo e gasto calórico, pois, enquanto
o organismo se esforça em fabricar carboidrato a partir desta extração, ele se
apropria primeiramente de suas reservas para obter a energia, sendo aí
consumidos os depósitos de gordura. A questão é, que se agrada a alguns a visão
de bacon, ovos, carnes, linguiças, a estes mesmos, de imediato, surge a ideia
de consumir farofa, pães, arroz. Portanto, é uma dieta sujeita aos
riscos dos desequilíbrios agudos em itens como colesterol, triglicerídeos
e acido úrico e,
logo, o próprio indivíduo passa a dar mostras de insustentabilidade com relação
a esse modelo alimentar.
Variações
menos dramáticas desta dieta foram feitas e expressas sob vários nomes, como
por exemplo a "dieta de South Beach". Outras dietas com menor suporte
explicativo, às vezes beiram ao mítico, como por exemplo a "dieta do tipo
sanguíneo", que até o presente momento não apresenta sequer um ensaio
clínico retirando o tal modelo do campo do imaginário. Algumas relacionam
dietas à horóscopos e afins. Na verdade, nenhuma dieta deve suprimir grupos
alimentares, sob pena de danos orgânicos e quando não, danos psicológicos.
Comamos de tudo, com moderação, sem a qual a pena neste caso será se submeter
a exercícios exaustivos, dietas de baixíssimas calorias e por vezes
medicações.
Antônio Carlos do Nascimento - um dos mais conceituados
especialistas da América-Latina em endocrinologia e metabologia, Dr. Antonio Carlos do Nascimento, é formado
pela Faculdade de Medicina de Campos - RJ, com residência em clínica médica e
endocrinologia no Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo, e é
doutor em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da USP. Foi eleito um
dos melhores pesquisadores brasileiros na área de endocrinologia com vários
trabalhos publicados no exterior.
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