Cerca de 25% dos
casos de câncer de ovário são associados com mutações genéticas, sendo cerca de
15% nos genes BRCA1 e BRCA2. Na ausência de um exame de rastreamento - assim
como a colonoscopia ou mamografia em câncer colorretal e de mama - a atenção ao
histórico familiar é uma importante medida para se reduzir as taxas de
diagnóstico tardio e, consequentemente, de mortalidade por tumores ovarianos. O
alerta, alusivo ao 8 de maio, Dia Mundial do Câncer de Ovário, é do Grupo
Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA)
Todo câncer é genético (ocorre por transformações no DNA ao longo da
vida, gerando assim as mutações neste código genético que favorecem o
surgimento da doença). Porém, em 5% a 10% dos casos, esta alteração genética é
herdada ao nascimento. Esse percentual atribuído a hereditariedade vale para
quase todos os cânceres que acometem a maioria dos órgãos humanos. Dentre as exceções,
está o câncer de ovário, cuja influência da hereditariedade no número de casos
atinge os 25%. Na ausência de um exame de rastreamento – assim como a
colonoscopia ou mamografia em câncer colorretal e de mama – a atenção ao
histórico familiar é uma importante medida para se reduzir as taxas de
diagnóstico tardio e, consequentemente, de mortalidade por tumores ovarianos. O
alerta, alusivo ao 8 de maio, Dia Mundial do Câncer de Ovário, é do Grupo
Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA). depositphotos.com
A maioria destes casos se enquadra na síndrome de
câncer de mama e ovário hereditário, associada com mutações nos genes BRCA 1 e
BRCA 2. “Em particular, a mutação dos genes BRCA1 e BRCA2 é bem conhecida e
estudada. A paciente ter esta mutação não significa que ela está com câncer ou
que irá, de fato, desenvolver a doença, mas é importante ela saber que o risco
é muito aumentado em relação às mulheres em geral”, explica Glauco Baiocchi
Neto, cirurgião oncológico e presidente do Grupo EVA.
Portanto, todos os cânceres são o resultado de uma
mutação genética. Elas podem ser causadas por vários fatores, como idade,
exposição a produtos químicos, radiação, fatores reprodutivos, fatores
dietéticos e metabólicos, fatores hormonais, radioterapia anterior, história
familiar e hereditariedade. Com o tempo, várias mutações podem surgir em uma
célula, permitindo que ela se divida e se transforme em câncer. Geralmente isso
acontece com o passar dos anos e isso explica porque os tumores ocorrem em
idade avançada.
As características que alertam para a síndrome de câncer de mama e ovário hereditário são:
- Uma ou mais mulheres são diagnosticadas com câncer de mama aos 45 anos
ou menos ou toda mulher que recebe o diagnóstico de câncer de ovário, em
qualquer idade.
- Uma ou mais mulheres são
diagnosticadas com câncer de mama antes dos 50 anos com uma história familiar
adicional de câncer, como câncer de próstata e de pâncreas.
- Existem cânceres de mama
e/ou ovário em várias gerações no mesmo lado da família, como ter uma avó e uma
tia do lado paterno diagnosticadas com esses tipos de câncer.
- Uma mulher é diagnosticada
com um segundo câncer de mama na mesma ou na outra mama ou tem câncer de mama e
de ovário.
- Um parente do sexo masculino
é diagnosticado com câncer de mama.
- Há uma história de câncer de
mama, câncer de ovário, câncer de próstata e/ou câncer de pâncreas no mesmo
lado da família.
- Ter ascendência judia
Asquenazi.
Recomenda-se que essas características sejam
analisadas por um serviço de Oncogenética, durante atendimento de
Aconselhamento Genético. E, com isso, poderá ser solicitado um teste genético,
que consiste em investigar, no sangue da paciente, a presença de uma mutação em
gene como o BRCA 1 e 2. Em caso de síndrome hereditária confirmada, as
possibilidades são a realização de cirurgia profilática, que consiste em
retirar – preventivamente – o ovário e trompas de falópio. “Como não há um
método de rastreamento do câncer de ovário, como ocorre com a mama, que têm a
mamografia e exames auxiliares, a Salpingooforectomia, procedimento cirúrgico
indicado para remover os ovários e trompas, é a melhor escolha”, ressalta
Baiocchi.
CÂNCER DE OVÁRIO EM NÚMEROS - Dentre os tumores ginecológicos, o câncer de ovário é o terceiro mais
comum no Brasil, atrás apenas do câncer de colo do útero e endométrio. No
triênio de 2023 a 2025, são previstos 7.310 casos novos casos por ano, o que
equivale a 6,62 casos novos a cada 100 mil mulheres, segundo o Instituto
Nacional de Câncer (INCA). Em termos de mortalidade no Brasil, ocorreram, em 2020,
3.920 óbitos por câncer de ovário.
De acordo com levantamento da Federação Brasileira
das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), cerca de 70% a
80% das mulheres diagnosticadas com câncer de ovário no Brasil morrem, por
causa direta desta doença, em menos de cinco anos após o diagnóstico. Esse dado
é reflexo, principalmente, da alta taxa de diagnóstico tardio. Cerca de 80% dos
casos de câncer de ovário são descobertos já em fase avançada da doença.
SINTOMAS DE ALERTA - Embora inespecíficos (podendo ser confundidos com outras doenças) e
silenciosos na maioria dos casos, há sintomas que são importantes sinais de
alerta de câncer de ovário.
- Inchaço
frequente;
- Dor
abdominal e pélvica;
- Cólicas;
- Pressão
pélvica;
- Falta
de apetite;
- Aumento
da necessidade de urinar;
- Indigestão;
- Náusea;
- Dor
nas costas;
- Constipação;
- Fadiga;
- Dor
durante a relação sexual;
- Alterações
no ciclo menstrual, como sangramento após a menopausa.
Esses sintomas ocorrem frequentemente em um grande
número de mulheres com câncer de ovário. No entanto, é possível que sejam
causados por outra condição. Para isso, é importante a avaliação com o seu
médico.
FATORES PARA O DESENVOLVIMENTO
- Embora a hereditariedade seja um fator de risco,
existem outros que podem aumentar o risco da doença. Infertilidade e questões
associadas com maior frequência de ciclos menstruais mensais como menarca
precoce, menopausa tardia, nuliparidade (nunca ter tido filhos), dentre outras,
assim como obesidade, são os principais fatores de risco.
Dentre os efeitos protetores estão o controle do
peso, alimentação equilibrada e prática de atividade física, assim como o uso
de contraceptivos por pelo menos cinco anos. Ter filhos, assim como a
amamentação, também colabora na diminuição do risco de desenvolver câncer nos
ovários.
TRATAMENTO PARA PACIENTES COM
CÂNCER DE OVÁRIO – A indicação do tratamento
depende se o câncer está confinado ao ovário ou se espalhou para tecidos
próximos ou para outras partes do abdômen ou do corpo. A cirurgia e a
quimioterapia – os tratamentos mais usados para o câncer de ovário – podem ser
eficazes mesmo depois que a doença se espalhou.
Recentemente, novas opções de tratamento foram
adicionadas, como terapias direcionadas ou biológicas. Por vezes, a cirurgia
não é possível, noutras - como no caso de doença limitada ao ovário com bom
prognóstico em doentes jovens - a cirurgia, sem posterior quimioterapia e a
preservação do útero e do outro ovário podem ser suficientes e seguros. O tipo
de tumor diagnosticado também pode determinar o tratamento.
Em casos de câncer de ovário avançado, a indicação
mais comum é de histerectomia (remoção cirúrgica do útero e do colo do útero) e
a remoção de outro tumor que possa ter se espalhado para fora do ovário. Uma
vez que o útero é removido, a mulher não pode mais engravidar.
Terapias mais recentes - Ao longo dos anos, mesmo para o câncer de ovário, medicamentos-alvo,
como antiangiogênicos e inibidores de PARP, tornaram-se disponíveis. Estes
últimos, especialmente para pacientes com mutações no gene BRCA, têm se
mostrado muito eficazes como terapias de manutenção ao final da quimioterapia.
Atenção aos exames
ginecológicos - Como dito, até o momento, não existem exames
confiáveis para diagnosticar o câncer de ovário em seus estágios iniciais,
antes do início dos sintomas da paciente. Quando há suspeita, temos os
seguintes exames diagnósticos:
Ultrassom: uma pequena sonda pode ser inserida na vagina ou acima do abdômen,
dando assim a possibilidade de ver perfeitamente se existe algum tipo de
anomalia.
Tomografia computadorizada e
ressonância magnética: capta imagens do abdome e
pelve e revela com mais precisão se há alguma anormalidade nessa área.
Laparoscopia: é inserido uma câmera dentro do abdome onde o médico consegue avaliar a
presença da doença e sua extensão.
Exames de sangue: além dos exames anteriores, é importante fazer exames de sangue. Há
alguns marcadores tumorais que podem ser mensurados no sangue. No caso do
câncer de ovário o principal é o Ca125. Porém medir o Ca125 não é suficiente
para fazer diagnóstico de câncer de ovário já que pode estar aumentado em
doenças benignas como endometriose e não estar aumentado no câncer de ovário em
estágios iniciais.
A detecção precoce e o tratamento imediato são
importantes, portanto, fazer exames de saúde regulares e conhecer os sintomas
são boas maneiras de se proteger. Infelizmente, não há um bom teste de triagem
para câncer de ovário, especialmente para aqueles sem fatores de alto risco.
Dar visibilidade a esse câncer e informar sobre
seus sintomas e abordagem para que a população em geral conheça e possa obter
diagnósticos precoces é, hoje, a melhor prevenção. Por isso, é importante não
esquecer de avisar o ginecologista se houve algum tipo de câncer ginecológico
ou de mama em sua família, levar um estilo de vida e alimentação saudáveis,
controlar o estresse no dia a dia, manter-se ativo e evitar a obesidade.
Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA)
Referência
INCA, Instituto Nacional de Câncer. Estimativa
2023: Incidência de Câncer no Brasil. Rio de Janeiro, 2023. 162
p. Disponível em: <https://www.inca.gov.br/sites/ufu.sti.inca.local/files/media/document/estimativa-2023.pdf>.