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| Cãomigo divulgação |
A empresa Cãomigo percebeu essa demanda e tem desenvolvido roteiros em diferentes regiões do país com o suporte de restaurantes e hotéis que embarcaram na ideia
Programar uma viagem é um grande desafio, e a tarefa fica ainda
mais complicada para tutores de animais de estimação, que precisam buscar
hotéis, restaurantes e atividades que aceitem seus pets. De olho nessa
dificuldade, e com base nas próprias experiências, Sharlene Irente fundou a
Cãomigo em 2017, empresa especializada em turismo para cachorros. Mais tarde,
em 2023, Maria Paula Mansur Mader entrou como sócia no negócio.
“Eu já fazia esse tipo de atividade com meus filhos de quatro
patas e comecei a perceber que outras pessoas desejavam fazer o mesmo”, conta
Sharlene. Os passeios organizados por ela iniciaram em cidades do interior de
São Paulo, como Jundiaí e Cabreúva, como atividades que buscavam promover o
bem-estar dos tutores e dos cachorros.
“Em 2017, a oferta de restaurantes e pousadas que aceitavam
animais de estimação era menor. Então, tivemos que realizar uma busca ativa nas
cidades por estabelecimentos dentro do roteiro que tinham essa abertura”,
recorda Sharlene. Atualmente, essa busca é realizada pelos guias de turismo
parceiros da empresa, que realizam a prospecção de hotéis, restaurantes e
pontos turísticos de acordo com cada passeio.
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| Os roteiros são pensados para oferecer experiências novas aos pets, como nadar pela primeira vez Cãomigo divulgação |
“Às vezes o cachorro não se dá bem com outros animais ou o tutor deseja um roteiro apenas com a família e recorre ao tipo de passeio personalizado”, diz Maria Paula. Mas, segundo ela, o carro-chefe da empresa ainda são os passeios em grupo.
Com faturamento anual de R$ 97 mil em 2024, a Cãomigo realizou
mais de 200 passeios desde que iniciou as atividades, entre viagens e trilhas,
e até a metade do segundo semestre de 2025 havia realizado 177.
Os roteiros são uma oportunidade de os tutores fornecerem novas
experiências aos seus cachorros, como nadar ou ter contato com a natureza. “Uma
experiência marcante se deu quando um cachorro chamado Happy entrou na água
pela primeira vez. Ele estava com medo, arranhou a tutora inteira quando foi
entrar no rio, mas ela estava com um sorriso enorme e só dizia ‘ele nadou, ele
nadou’. Outro dia tivemos uma tutora que chorou muito porque a Golden dela de
dez anos nadou pela primeira vez”, conta Sharlene.
Todos os passeios são pensados para garantir o bem-estar dos
pets. “Costumo dizer que cachorro nós amamos como filho, mas entendemos que são
cães. Por isso, é importante respeitar o limite de cada animal para não os
colocar em situações que geram estresse”, diz.
Ainda que os roteiros sejam elaborados para oferecer
experiências aos cachorros, eles também buscam uma interação entre os tutores
dos animais, com brunchs e passeios por pontos turísticos das cidades.
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| O carro-chefe da Cãomigo são os passeios em grupo, nos quais os animais podem interagir Cãomigo divulgação |
Multiplicadores
Além dos roteiros, a Cãomigo oferece capacitação em turismo
voltado para animais de estimação. A proposta é suprir a falta de bons
profissionais nesse mercado. Apesar da crescente demanda por serviços pet
friendly, a oferta ainda é pequena e com qualidade duvidosa, diz
Sharlene. “Falta capacitação no mercado, é algo muito amador. Encontramos muita
informação de influenciadores que se denominam especialistas no assunto, mas
nunca passaram por uma capacitação voltada ao turismo”, diz.
Segundo as sócias, lidar com fornecedores e parceiros locais
nesse mercado é mais desafiador do que lidar com os cachorros por conta dos
preconceitos que muitos ainda têm do trabalho envolvendo animais, por temerem
que eles estraguem algo, o que dificulta a oferta de hotéis e restaurantes
dentro do roteiro turístico.
Segundo Maria Paula, os tutores são consumidores exigentes, que
esperam que seus animais sejam bem tratados nos estabelecimentos, “mas acabam
se deparando com prestadores de serviços amadores, que têm placa de pet
friendly no estabelecimento, mas não possuem higiene ou serviços
adequados para o animal.”
Para tentar melhorar esse cenário, a Cãomigo elaborou o programa
de capacitação, que envolve parceiros da empresa que desejam utilizar a marca
para oferecer o serviço em suas cidades. Para realizar o treinamento, é
necessário que o candidato seja formado no curso técnico de turismo, no qual
aprende a criar roteiros, entre outras funções de um guia.
A capacitação envolve um curso de 30 horas, entre vídeos e
treinamentos práticos, para que o guia aprenda sobre turismo multiespécie e
também a lidar com situações que podem prejudicar a saúde do animal, entendendo
como reagir nesses casos.
“Quando esse profissional é capacitado para atender a uma família
multiespécie, ele entende que às vezes é preciso adaptar o passeio, que uma
rota com uma escada pode não ser legal para o animal”, explica Sharlene.
As sócias fazem a seleção dos potenciais parceiros e fornecem o
curso de capacitação, a marca, site, acesso à comunidade de guias da Cãomigo e
sistema de pagamento. Já o parceiro fecha um contrato de exclusividade com a
marca e fica proibido de compartilhar o curso de capacitação com outras
pessoas.
Segundo as sócias, trata-se de uma relação de troca, uma vez que
o parceiro é quem conhece os pontos turísticos das cidades, restaurantes e
pousadas. Por sua vez, a Cãomigo oferece todo o suporte na hora de o guia
preparar o roteiro e fica responsável pela venda dos ingressos. A Cãomigo fica
com 20% do ticket vendido e o restante é repassado ao parceiro. A expectativa
da empresa é chegar a 20 parceiros até o final de 2025.
“Temos um único parceiro em cada uma das 13 regiões onde
atuamos, para que eles não concorram entre si. Além disso, são residentes da
região e oferecem serviços apenas dentro da sua própria cidade”, diz Sharlene.
Ela compartilha que muitas pessoas não entendem o objetivo do
turismo pet friendly e julgam o serviço caro. “Uma vez, uma
cliente disse que estava muito caro ver o pôr do sol. Mas não é apenas assistir
ao pôr do sol, tem um profissional que abdicou de seu tempo para estudar aquela
trilha”, diz. “Apesar de alguns não entenderem isso, nós temos uma forte
recorrência de clientes”, completa Sharlene.
Desafios
No Brasil, há mais de 164 milhões de animais de estimação,
segundo dados do Instituto Pet Brasil junto à Associação Brasileira da
Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet). O setor pet
deve encerrar o ano de 2025 com um faturamento de R$ 78 bilhões, crescendo em
relação a 2024 (R$ 75,4 bilhões).
Caio Villela, presidente-executivo do Pet Brasil, enxerga o
segmento de turismo pet como uma das maiores oportunidades de crescimento
dentro do setor. “Os animais estão sendo incluídos em todos os aspectos do lar
e, naturalmente, isso se estende às atividades de lazer e turismo”, diz.
Segundo Villela, a demanda no segmento já está consolidada, uma
vez que as famílias desejam seus companheiros por perto em todos os momentos,
inclusive nas férias e passeios, representando o futuro do turismo familiar.
“Sabemos que o pet não é mais um extra, é parte integrante da família. Por
isso, o setor desenvolve serviços e experiências que atendam a essa necessidade
real e crescente do mercado."
Ainda que o segmento apresente forte potencial, Villela comenta
que o principal desafio enfrentado é a alta carga tributária, que impede um
maior crescimento. Segundo um estudo apresentado pelo instituto em 2024, uma
redução de 60% na carga tributária setorial poderia gerar uma alta de 210% na
arrecadação devido ao aumento no consumo.
Além disso, destaca que o câmbio é outro desafio para o
crescimento do setor, uma vez que os insumos importados encarecem a produção de
produtos pet, pressionando toda a cadeia, promovendo um ambiente desafiador
para investimentos. “Precisamos ser realistas: sem mudanças estruturais no
ambiente tributário, o cenário continuará restritivo. O turismo pet pode
crescer, mas dentro de um mercado que encolhe em termos reais”, diz.
https://www.dcomercio.com.br/publicacao/s/turismo-pet-friendly-tem-potencial-mas-esbarra-na-falta-de-servicos



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