Nem
todo mundo sonha em ser empreendedor. Mas, muitas vezes, é a única alternativa
possível diante da falta de emprego, de renda e de caminhos viáveis. Cresci
ouvindo histórias assim: gente que começou a vender doces por necessidade, abriu
um salão no quintal ou virou MEI para manter a família. O que pouca gente
enxerga é o quanto a educação (de verdade, aquela que transforma) pode ser a
diferença entre um esforço de sobrevivência e um projeto de vida.
Aprender
é mais do que absorver conteúdo. É sobre desenvolver a coragem de tentar. Em
regiões com pouco acesso a recursos, estudar pode significar entender como administrar
um negócio, criar algo do zero, descobrir que há outras formas de viver. A
educação empreendedora, quando bem aplicada, ensina a pensar criticamente,
resolver problemas com criatividade e se adaptar - habilidades essenciais para
quem quer ter uma empresa com estratégia, não apenas com urgência.
Infelizmente,
nosso sistema educacional ainda prepara alunos para obedecer regras, não para
quebrá-las de forma criativa. O modelo atual valoriza memorização, tarefas
mecânicas e notas. Pouco se fala de liderança, finanças e inovação. E se, desde
cedo, os alunos pudessem aprender a propor soluções, errar, testar, gerenciar
pequenas ideias? Provavelmente teríamos menos medo de começar e mais
consciência de como crescer.
Existe,
sim, uma diferença entre se preparar para o mercado tradicional e se preparar
para empreender. No primeiro, você aprende a se encaixar. No segundo, a
construir. Mas uma formação não exclui a outra. Na realidade, quem une as duas
tem mais chance de se destacar, seja como dono do próprio negócio, seja como
colaborador criativo dentro de uma organização.
Quando
a educação vira renda
Empreender
por necessidade pode ser um caminho duro, solitário e cheio de riscos. É o que
acontece em mais de 40% dos casos no Brasil, segundo o Global Entrepreneurship
Monitor (GEM) 2024. O relatório revela que, embora o país tenha um dos
maiores índices de atividade empreendedora do mundo, com 43% da população
adulta envolvida em algum tipo de negócio, uma parcela significativa começa por
falta de alternativas de renda. Muitos desses empreendedores enfrentam o
desafio adicional de ter pouca escolaridade e quase nenhuma formação em gestão,
o que compromete a continuidade e o crescimento.
Mas
com educação, esse percurso ganha planejamento, propósito e perspectiva. A
pessoa aprende a pesquisar o mercado, validar uma ideia, gerir recursos, criar
valor. Aprende, principalmente, a se conectar com outros que podem orientar,
apoiar e investir. E é nesse ponto que surgem as redes de apoio — o antídoto
contra o isolamento de quem toca o barco sozinho.
No fim
das contas, é mais do que romantizar o empreendedorismo, é também oferecer
condições reais para que ele seja sustentável. A ponte entre estudo e ação
existe. O que falta, muitas vezes, é visibilidade. E iniciativas como essa
mostram, na prática, que é possível construir essa travessia, até quando o
ponto de partida é cheio de obstáculos. Porque à medida que o conhecimento
encontra a oportunidade, tudo muda.
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